domingo, 8 de novembro de 2009

BANCO DO BRASIL E CAIXA QUEREM O COMANDO DA FEBRABAN



Os dois maiores bancos públicos se articulam para eleger o próximo presidente da entidade.
Vicente Nunes

Fábio Barbosa deixará o comando da federação até 19 de abril de 2010.

O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal estão trabalhando pesado para assumir o comando da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Pelo estatuto da entidade, até março do ano que vem, devem haver eleições para a escolha do substituto do atual presidente, Fábio Barbosa, do Santander Real, cujo mandato, de três anos, se encerrará no dia 19 de abril — a reeleição é proibida.

A meta do BB e da Caixa, o primeiro e o quarto maiores bancos do país, é quebrar a hegemonia das instituições privadas que sempre dirigiram a poderosa federação e impor a filosofia do governo, mais social, pró-consumidor e pró-crescimento econômico, com ampliação do crédito a um custo mais baixo.

O BB e a Caixa chegaram à Febraban no fim dos anos 1990 pelas mãos do então presidente da entidade, Roberto Setúbal, do Banco Itaú. Mas sempre tiveram papel coadjuvante.

“Agora, chegou a hora de assumirmos um posto de liderança na entidade e funcionarmos como um contraponto à visão que sempre prevaleceu por lá”, diz um dos principais representantes dos bancos públicos. “Sabemos que haverá resistências, mas temos como angariar apoio a nosso favor. A Febraban não pode continuar sendo um feudo dos grandes bancos privados”, acrescenta.

Triunvirato

Nos últimos anos, a presidência da Febraban pertenceu ao triunvirato formado pelo Itaú, Bradesco e Unibanco. Essa hegemonia foi quebrada por Fábio Barbosa, então presidente do Real. Mas já havia uma negociação para que o rodízio voltasse.

O escolhido seria Antonio Jacinto Matias, que frustrou os planos ao se aposentar do Itaú e se afastar do sistema financeiro. Além disso, Itaú e Unibanco viraram uma coisa só.

E mais: Roberto Setúbal já presidiu a federação por cinco anos, pois acumulou um mandato tampão ao substituir Maurício Schullman, que perdeu o cargo depois da quebra do Bamerindus. Pedro Moreira Salles, do Unibanco, não demonstra o menor apetite pela entidade.

“Talvez seja a hora de um banco público assumir a presidência da Febraban. Mas isso só vai acontecer se houver um acordo tácito com as instituições privadas de que a entidade continuará defendendo os interesses do setor e não os do governo”, ressalta um executivo com assento na atual gestão da Febraban. “Temos ainda um bom tempo pela frente para aparar as arestas. E não será fácil chegar a um consenso.

Os bancos privados não gostam nem um pouco da posição intervencionista adotada pelo governo depois do estouro da crise mundial. É um perigo”, complementa. (VN)

Poder de fogo

A poderosa Federação Brasileira de Bancos (Febraban) é a principal entidade do setor bancário brasileiro. Foi fundada em 1967 e tem por finalidade representar seus associados nas esferas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e em demais fóruns da sociedade. Atualmente, possui como associados 120 dos 159 bancos registrados no Banco Central.

Tempos de lucro fácil chegaram ao fim
Bancos terão que reduzir os juros do crédito para ampliar a clientela e garantir ganhos.

Os bancos brasileiros terão que suar a camisa daqui por diante se quiserem manter o padrão de ganhos fabulosos registrados nos últimos anos. Com a taxa básica de juros (Selic) no menor patamar da história, 8,75% ao ano, acabou-se o tempo dos ganhos fáceis com títulos públicos. Também ficaram limitadas as receitas com tarifas, devido às restrições impostas pelo Banco Central (BC) para reajustes e a cobrança de serviços.

Para ampliar o faturamento, as instituições serão obrigadas a reduzir as taxas cobradas em empréstimos , sob pena de verem a clientela migrando para a concorrência, e a encarar riscos maiores ao incorporarem no mercado a população de mais baixa renda, sem histórico no sistema de crédito. “Não é à toa que o BC está apertando o controle sobre o mercado.

A meta é garantir uma transição tranquila para esse novo modelo”, diz José Luiz Rodrigues, sócio diretor da consultoria JL Rodrigues, especializada em sistema financeiro. Ou seja, o BC não quer a repetição do que se viu na segunda metade dos anos 1990.

À época, vários bancos ruíram por não conseguirem sobreviver sem as receitas inflacionárias, que desapareceram depois da edição do Plano Real. Atualmente, é consenso entre os analistas que nunca o sistema bancário do país esteve tão sólido. “Mas a mudança já começou.

Neste ano, por causa da crise, a rentabilidade média das instituições será 10 pontos percentuais menor do que a computada em 2008. Cairá de 30% para 20%. E as margens de ganhos vão se estreitar mais”, afirma João Augusto Salles, economista da Consultoria Lopes Filho. Na avaliação de Salles, os bancos terão que ganhar escala. Quer dizer: ampliar a base de clientes, para garantir um volume maior de operações e receitas, o que resultará em maior competição. “As grandes instituições montaram as bases para isso.

O Banco do Brasil (BB) comprou parte do Banco Votorantim, forte no financiamento de veículos, e incorporou a Nossa Caixa. Depois de assumir o controle do Real, o Santander fez um reforço robusto de capital (cerca de R$ 14 bilhões) por meio da emissão de ações. O Itaú e o Unibanco concluíram a fusão e, agora, estão prontos para olhar para fora. O Bradesco, que estaria negociando a compra do BicBanco, terá que melhorar ainda mais os seus resultados”, assinala.

Casamento

O jogo dos grandes será complementado pela Caixa Econômica Federal, que retomou o posto de quarta maior instituição financeira do Brasil. O banco está vasculhando o mercado em busca de parcerias que agreguem valor. “Todos os nossos concorrentes estão fortes nos segmentos em que atuam.

Somos o único grande que ainda precisa ampliar o seu leque”, reconhece o vice-presidente de Controladoria, Marcos Vasconcellos. A seu ver, a Caixa deve seguir o modelo fechado entre o BB e o Votorantim e ficar com, no máximo, 49% do capital das instituições com as quais se acertar. De início, o banco dispõe de R$ 3 bilhões, por meio da CaixaPar, para fazer as aquisições, algumas das quais devem ser fechadas até o fim deste ano. Vasconcellos não fala em nomes.

Mas, no mercado, dá-se como certo o casamento da Caixa com o Panamericano, do grupo Sílvio Santos. Fala-se, ainda, em namoro com os bancos Daycoval, Pine, Cruzeiro do Sul e Bonsucesso. Todos se encaixam no que a Caixa precisa: reforçar o crédito consignado, ampliar a carteira de empréstimos a empresas de médio porte e entrar pesado no financiamento de veículos. “Antes de serem vendidas para os grandes bancos privados, as instituições menores têm a Caixa como válvula de escape, até porque os atuais donos não precisarão abrir mão do controle acionário”, destaca Salles, da Lopes Filho.

Para ele, o novo desenho do sistema bancário começará a mostrar a cara no fim de 2010. O bom desse movimento, acrescenta Mariana Moraes, analista do BES Investimento, é que ele ocorrerá em um ambiente de forte crescimento, com aumento da renda e do emprego e com a inadimplência em queda. “Vamos ver o crédito se expandindo de forma saudável”, diz. Para quem já tem um bom histórico, a oferta de empréstimos está a todo vapor.

O funcionário público Clésio Santos, 48 anos, que o diga. Na última semana, foi assediado por vários bancos, que disponibilizaram a ele linhas de R$ 20 mil. “Fiquei impressionado. Em uma mesma instituição, me ofereceram empréstimo por telefone a juros de 5,2% ao mês e, na agência, a 2,6%”, conta. (VN)

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