segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Lula: “não há necessidade de se cortar um centavo do PAC”
Guido Mantega teve que ouvir os dois presidentes

O presidente Lula afirmou, nesta ter-ça-feira, em entre vista no Palácio da Cidade, no Rio de Janeiro, que não haverá nenhum corte nas verbas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A garantia foi depois de, na véspera, o ministro Guido Mantega declarar que “o Estado vai fazer um ajuste, reduzir subsídios e impedir a constituição de novos gastos”. O ministro tinha afirmado que “o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também poderá ser afetado, talvez haja postergação”. Mantega também manifestou-se contra o aumento do salário mínimo, contra o aumento do funcionalismo e a favor, em geral, do corte de gastos públicos.

Ao responder sobre o assunto, Lula brincou: “Vocês estão vendo a minha fisionomia? Vocês acham que eu estou com ar de que vai ser cortado algum centavo do PAC? Vocês acham que o meu semblante está dizendo que vai ser cortado?”. E acrescentou: “hoje, o Guido teve que falar com dois presidentes ao mesmo tempo. Eu liguei para ele quando ele estava conversando com a Dilma”. O ministro foi chamado pela presidente eleita na manhã da terça-feira, e saiu apressado após a reunião, sem falar com os jornalistas.

“Há uma contradição”, disse Lula, “em dizer que vai cortar obra do PAC”. “Veja, eu conheço a Dilma... Foi aqui, na Rocinha, que ela foi batizada com o nome de “mãe do PAC”. “Eu sei do carinho que a Dilma tem pelas coisas do PAC, eu sei do carinho com que ela vai tratar o PAC. Eu não acredito que a gente tenha necessidade de cortar um único centavo do PAC”, afirmou o Presidente da República.

OXIGÊNIO

“Para nós, o PAC é como o oxigênio que a gente respira, nós sabemos o quanto ele deu certo para o país e o quanto ele vai continuar dando. Graças ao PAC é que as obras não são paralisadas, graças ao PAC é que todos os ministros trabalharam muito mais. Então, eu estou muito tranquilo com relação a isso”, disse Lula. “Quando nós fizemos o PAC 2, nós fizemos o PAC 2 já para discutir, no orçamento de 2011, dinheiro para as obras do PAC, para não deixar que a gente começasse a discutir no orçamento de 2012”. “Portanto, eu estou tranquilo. Eu conheço bem o que pensa a companheira Presidente do Brasil com relação à priorização das obras do PAC”, prosseguiu.

O crescimento obtido pelo Brasil nos últimos anos foi devido, precisamente, ao aumento de gastos públicos através do PAC, ao aumento dos salários - que expandiu o mercado interno, fazendo com que este sustentasse o crescimento quando o mercado externo foi atingido pela crise eclodida nos EUA e Europa - e pelo aumento do financiamento por parte dos bancos públicos, que Mantega, também, opinou que deveria ser reduzido.

“O que nós temos que ter em conta é o seguinte: nós temos que manter a inflação controlada, nós temos que manter a estabilidade econômica, e nós precisamos manter dinheiro para investimento. Isso significa que se tiver que mexer em alguma coisa, vai se mexer em custeio e não em obra para investimento”, acrescentou. “Veja, obviamente que você pode ter manejo de obras. Se você tiver uma obra do PAC que tenha problema na Justiça, que tenha problema no Tribunal de Contas e que vai demorar seis meses, oito meses, um ano, você pode fazer o remanejamento dos recursos, como nós cansamos de fazer agora. Às vezes, uma obra aqui no estado do Rio de Janeiro que vai demorar um pouco mais, você passa o dinheiro para uma que está mais regularizada, e assim você vai ganhando tempo”, assinalou.

A resposta pública do presidente Lula às afirmações do ministro, bem como sua convocação por Dilma na manhã da terça-feira, fizeram Mantega emitir uma nota em que afirma concordar com o presidente: “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem razão ao dizer que cortes nos gastos de custeio são para aumentar investimentos em infraestrutura”. Não explicou como é possível investir sem que haja custeio, ou seja, sem que a obra na qual se investiu tenha despesas de funcionamento, manutenção e folha salarial. Mas, se ele concorda com o presidente Lula, isso é muito bom. Mantega disse, também, que “a prioridade é terminar os [projetos] que já estão em andamento, que levam um ano ou dois para terminar”. Quanto aos novos projetos, previstos para 2011, o ministro afirmou que começarão mais lentamente. “É mais uma questão de ritmo”, diz o comunicado. Realmente, o PAC é uma questão de ritmo - por isso seu nome é Programa de Aceleração do Crescimento, provocando a ira de tucanos e mídia, sempre adeptos de qualquer programa de desaceleração do crescimento, de preferência, de algum programa de estagnação.

Para Lula, “não será cortado um centavo do PAC”. Quando alguém perguntou se ele “tinha dado uma bronca” no ministro, Lula respondeu que apenas “discutiu e argumentou” com o companheiro. “Eu não dou bronca em ninguém. Você sabe que eu aprendi a conviver com os companheiros... Eu não dou mais bronca em ninguém, eu converso, mostro...”. E completou: “O Guido é um dos maiores incentivadores do investimento no setor produtivo no Brasil e do investimento em infraestrutura”.
SÉRGIO CRUZ
 

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