quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Centrais e Fiesp condenam “avalanche de importações” 


Entidades apresentarão propostas à presidente Dilma para barrar as importações irresponsáveis

Dirigentes das centrais sindicais e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) se reuniram na segunda-feira (20), na sede da entidade patronal, para discutir o enfrentamento à avalanche de importações e à desindustrialização, impulsionadas pelos juros altos, e assegurar a geração de empregos.

Os sindicalistas e os empresários querem elaborar um diagnóstico sobre a substituição da produção nacional por estrangeiros, bem como o importacionismo nas cadeias produtivas de setores como máquinas e equipamentos, eletroeletrônicos, calçados, têxteis e automotivo. “Queremos falar com a presidente Dilma, a equipe econômica e os parlamentares para mostrar o mal que isso está causando à economia”, afirmou o presidente da Força Sindical e deputado federal, Paulo Pereira da Silva (Paulinho).

Na reunião, ficou acertada a realização de um seminário, entre o final de janeiro e início de fevereiro do próximo ano, para elaborar propostas de defesa da indústria nacional, que serão apresentadas ao governo Dilma.

A avaliação é de que o aumento desenfreado de importações desestimule novos investimentos e afete a geração de empregos. “Aparentemente, a economia está ótima, mas embaixo disso há uma série de problemas. Existe uma avalanche de importação. Temos informação de que no ano que vem o Brasil vai produzir um 1,5 milhão de motos, e 500 mil serão importadas”, destacou Paulinho.

PARAFUSOS

Segundo ele, os indicadores econômicos estão bons, contudo alguns setores estão apresentando retração na geração de empregos. Um dos problemas apontados pelo sindicalista é o incentivo à importação promovido por alguns estados, que faz com que empresas brasileiras se transformem em simples montadoras de componentes comprados no exterior. “A economia está crescendo, o emprego está elevado, mas a importação está de assustar. Se continuar assim, os trabalhadores serão os primeiros prejudicados. Corremos o risco de virar um país onde o trabalhador servirá apenas para apertar parafusos”, acrescentou.

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, a indústria automobilística está importando 600 mil unidades. “Essa era a produção nacional de dez anos atrás. Quer dizer, são empregos que deixam de ser gerados no País”, disse.

De acordo com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, “apesar de a economia ter apresentado bom desempenho neste ano e de a produção industrial crescer bem, estamos sentindo um aumento muito acelerado, eu diria até irresponsável das importações, principalmente dos manufaturados. Devemos ter um déficit da balança comercial, quer dizer, a expectativa é de que se vai importar 70 milhões de dólares a mais em manufaturados do que se vai exportar. Isso é muito mais do que aconteceu nos últimos anos, e a preços muito baixos”.

Skaf apontou o real sobrevalorizado e a concorrência desleal de produtos estrangeiros como principais problemas vividos pela indústria. Ele argumentou que a atual taxa de câmbio encarece as exportações brasileiras e favorece as importações, deteriorando a balança comercial. Na opinião da Fiesp, isso desestimula a produção nacional em diversos setores, já que, nessas condições, importar se torna mais barato.

Em novembro, a entidade divulgou um estudo constatando o crescimento intensivo de insumos importados na cadeia produtiva este ano, tendo como causa o câmbio adverso. A Fiesp estima que a participação de componentes importados na produção passe de 18,7% em 2009 para 24% este ano, um recorde histórico. O cálculo foi feito a partir do Coeficiente de Importação, que atingiu o índice de 22,7% no terceiro trimestre, ante 18,2% no trimestre imediatamente anterior. No início de 2010, a participação de matérias primas importadas na produção estava em 20,5%. Mesmo com um parque siderúrgico considerável e gigantescas jazidas de ferro, até o aço tem apresentado um crescimento nas importações. O coeficiente de importação do setor passou de 8,6% para 17,3% no mesmo período.

O principal problema que tem agravado a taxa de câmbio – e, por conseguinte, corroído o saldo da balança comercial - são os juros reais maiores do mundo, que atraem as montanhas de dólares emitidos pelos norte-americanos ao desencadearem a guerra cambial, após o estouro da crise. As recentes medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ignoram o problema. Os números da balança comercial demonstram o equívoco dessa política. Se não baixar os juros, o câmbio vai continuar sobrevalorizado e o saldo da balança comercial vai para o vinagre. De janeiro a dezembro (3ª semana) as exportações somaram US$ 192,578 bilhões, enquanto as importações totalizaram US$ 175,892 bilhões, registrando um saldo de US$ 16,686 bilhões. No mesmo período do ano passado as vendas para o exterior ficaram em US$ 147,616 bilhões, contra US$ 123,915 bilhões das importações, um saldo de US$ 23,701 bilhões.

Até 2008, o Brasil tinha saldo na balança comercial com os EUA: US$ 1,795 bilhão naquele ano. Com a guerra cambial, a situação se inverteu, registrando déficit de US$ 4,430 bilhões no ano passado e de US$ 7,846 bilhões este ano (até novembro).
 HP

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