terça-feira, 24 de novembro de 2015

Os ricos estão enchendo suas casas com objetos roubados dos pobres



Imagine alguém que tenha nascido em boa família e estudado em boas escolas. Como se diz por aí, nunca pegou numa enxada ou picareta para um trabalho realmente duro. Mesmo depois de adulto continuou vivendo e transitando entre as classes mais abastadas. Pra completar, em sua adolescência começou com um tipo de revolta onde falava contra a exploração dos ricos sobre os pobres e atacava o próprio sistema da sociedade em que estava.
Quem você imaginou? Aposto que foi aquele seu primo/colega socialista que sempre tem um discurso contra os bancos, os ricos e o sistema em geral. É muito provável que as expressões “Esquerda Caviar” ou “Esquerdopata” tenham vindo à sua mente também.
Sinto lhe decepcionar, mas a figura descrita no primeiro parágrafo é o famoso profeta Isaías, um cara que não sabia o que era direita e esquerda, mas sabia muito bem apontar os caminhos (tu dum tssss). Sem saber quem seria Marx ele fez uma dura crítica social, mostrando que muitos conceitos, como a exploração dos trabalhadores pelos ricos, não pertencem a um só pensador mas estão presentes aí há muito tempo.

Isaías?

Isaías viveu numa época muito conturbada politicamente. Os reinos de Israel e Judá estavam sob forte ameça externa. Por causa disso se meteram em altas confusões fazendo alianças com diversos reinos tentando sobreviver. Durante o tempo em que Isaías pregava em Judá, o reino de Israel foi invadido pela Assíria e o que sobrou não prestava pra muita coisa.
Seu ministério começa de verdade quando tem uma visão em que se dispõe a denunciar os problemas da sociedade israelense em nome de Deus. E ele faz isso de maneira muito intensa. Isaias foi uma voz atuante contra a injustiça social, muitas vezes relacionando essa injustiça a uma falsa religião. Esse é o ponto central da denúncia do profeta.

Mas cadê a justiça social?

É claro que Isaías fala de alguns temas recorrentes dentre os profetas, como idolatria, mas o tema mais forte é a crítica à desigualdade social. Ele bate muito forte naqueles que tem posições de destaque e que se utilizam dessa posição para tirar vantagem daqueles que não tem. Não importa se a boa posição é política ou econômica, se ela tá sendo usada pra explorar, tá errado.
A atualidade da denúncia de Isaías é incrível!
Hoje parece ser comum dizer que os políticos legislam em benefício próprio e não para o povo, mas Isaías já condenava esse procedimento no secúlo VIII aC. Para ele, a justiça social passa por governantes que se preocupam com o povo. Aliás, mais que isso, ela passa por governantes que se preocupam com os menos favorecidos. Pobres, viúvas e órfãos estão entre aqueles que são destacados dentre os que não podem ser ainda mais oprimidos. As leis de um país devem buscar a justiça social, e não agravá-la ainda mais.
Isso nos faz pensar nos dias atuais. Os desmandos dos legislativos do país todo, que aprovam cada vez mais benefícios absurdos para si próprios ao custo dos impostos de todos, mas principalmente das classes menos abastadas. Leis que reforçam preconceitos, intensificam desigualdades, favorecem os ricos, oprimem as minorias. Da mesma forma, no executivo, decisões que tem consequências severas sobre os pobres. Medidas econômicas que, sob o pretexto de favorecer o crescimento, pressionam as classes mais baixas da sociedade em favor das mais abastadas. O corte nos recursos de áreas que atendem prioritariamente os pobres, quando é possível cortar em áreas para os ricos. E um problema muito sério, políticos que tomam essas decisões sob influência do poder econômico dos ricos. Isso estende o problema para todos os que possuem esse poder econômico e o utilizam para influenciar os políticos. Os faz cúmplices!
Mas não é só quando se mistura o interesse econômico com política que o profeta tem voz. Ele fala diretamente aos ricos. Apesar de todo o grito de quem quiser gritar, ele fala claramente contra a acumulação de bens e meios produtivos. Na época, praticamente o único meio produtivo era a terra, e ele condena fortemente os latifundiários. E ele nem fala de pessoas que conseguiram suas terras de forma ilícita, ele fala de pessoas que compraram suas terras. Ninguém deveria ser dono de muitas terras, impedir o próprio povo de produzir e guardar todos os grandes lucros para si. Tá errado. Hoje em dia, temos outras formas de produzir além de terras como as fábricas, mas a lógica é a mesma. A concentração desses meios acaba por produzir a desigualdade.
E não só a concentração de renda e dos meios de produção que o profeta considera errado. A exploração dos trabalhadores por seus patrões também está presente dentre os delitos da galera. E aqui, não são só os muito ricos que são denunciados, afinal aquele que tem apenas um trabalhador a seu serviço também pode explorar. Quem não paga o justo pelo trabalho e expõe seus funcionários a condições opressoras de trabalho é culpado. Não é possível haver justiça quando um ser humano explora o outro, seja de forma absurda, como na escravidão, ou de uma maneira mais usual, no pagamento de salários que não permitem às pessoas sobreviverem de maneira digna.
Pensando mais profundamente, esse ponto é muito crítico, pois não são apenas os donos que exploram os empregados. O que acontece é que as pessoas reproduzem o comportamento dos patrões, talvez por pressão ou por comodidade mesmo, e exploram quem está em posição hierárquica abaixo da sua. Dessa forma, até mesmo um gerente de setor, que não é dono de nada de relevante perto daquilo que o dono da fábrica tem, explora seus subordinados a fim de receber algum benefício para si. E nessa corrente, o operário chão-de-fábrica explora a empregada doméstica que vai limpar sua casa. E vivemos numa corrente de exploração que começa com os mais abastados, onde a situação é realmente crítica, mas vai se espalhando por toda a sociedade em maior ou menor grau.
É, parecia fácil quando o Isaías estava atacando apenas os ricos e latifundiários né? Agora que eu sei que me negar a pagar aquela hora extra para o funcionário da minha loja ou mandar embora algum subordinado só para aumentar o lucro do patrão ou exigir que a empregada doméstica trabalhe sem horário fixo são coisas erradas, fica bem mais complicado não fica? Mas justiça social é isso. E Isaías gostava muito dela!
Por fim, Zazá (só para os íntimos) também fala que é responsabilidade defender a galera que não tem como se defender sozinhos, aqueles que são oprimidos. Ele conclama todos a fazerem isso e é dever de qualquer cristão se posicionar contra a injustiça!
Pra finalizar vou deixar um trecho do capítulo 1 onde é dito exatamente isso!
“Trabalhem pela justiça,
Ajudem os oprimidos e marginalizados.
Façam alguma coisa pelos sem-teto.
Levantem a voz em favor dos indefesos”
http://www.chacompipoca.com.br/

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