segunda-feira, 6 de maio de 2013

O adeus ao Zé Ibrahin e a tristeza pela sua partida


José Ibrahim, em destaque na foto histórica, e em imagem mais recenteDIVULGAÇÃO / ARQUIVO O GLOBO

Publicado em 03-Mai-2013
Podíamos nem estar no mesmo grupo político ou partido, mas estivemos sempre na militância de esquerda. Companheiro de lutas a quem respeito e que se dedicou até o fim da vida à sua paixão política, morreu nesta 5ª feira e será sepultado hoje o Zé Ibrahin, sindicalista que comigo e mais 14 presos políticos foi banido e exilado em 1969, pela ditadura militar, em troca do embaixador sequestrado norte-americano Charles Burke Elbrick. Na manhã de hoje, com tristeza, compareci a seu velório na Assembleia Legislativa, para despedir-me dele e prestar-lhe esta última homenagem.


O sindicalista foi encontrado morto pela família no apartamento onde morava.

Na única foto divulgada à época do nosso embarque para o exílio (confira) - o desembarque inicial foi no México -, Ibrahin está ao meu lado quando embarcamos do Rio para o exílio, junto a outros 11 presos políticos: Argonauta Pacheco da Silva, Flávio Tavares, Ivens Marchetti de Monte Lima, João Leonardo da Silva Rocha,  Luis Travassos, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Onofre Pinto, Ricardo Vilas Boas Sá Rego, Ricardo Zarattini, Rolando Fratti e Wladimir Gracindo Soares Palmeira.

Um militante político, à esquerda, até o fim

Do total de 15 presos trocados pelo diplomata, Gregório Bezerra embarcou no Recife e  Mario Zanconato, em Belém. Em 1968, como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, ele liderou a Greve da Cobrasma, que representou o primeiro movimento operário de grande repercussão contra a ditadura militar (1964-1985).

Por ter organizado e deflagrado o movimento, ele foi tirado da presidência da entidade e demitido da Cobrasma, onde começara a trabalhar com 14 anos. A ditadura o responsabilizou na ocasião não só pela greve de Osasco, mas também pelo alastramento do movimento a Contagem (MG), na Grande Belo Horizonte, o que a levou o regime a transformar as duas cidades em verdadeiras praças de guerra em que se concentraram todas as polícias de repressão do regime.

Destituído do sindicato, Ibrahin passou então a militar na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), sendo preso no ano seguinte. Antes do exílio e do banimento ele ficou preso no DOPS paulista, onde afirmava ter sido torturado por vários dias. "Fui muito torturado, como era praxe naquela época. Ainda mais que, além do negócio da greve, das ocupações de fábrica, eles me prenderam dentro da estrutura da VPR uma organização que estava fazendo ação armada. Fui torturado, vários dias", disse Ibrahim, em entrevista a um especial preparado pelo sindicato em 2008.

Uma entrevista que é a sua história e a do país

Ibrahin passou 10 anos no exílio e voltou ao país em 1979, com a anistia. No ano seguinte, já participou da fundação do PT. Anos depois, deixou o partido e se filiou ao PDT. Naquela fase ajudou a fundar a Força Sindical. Agora, era secretário de Formação Política da União Geral dos Trabalhadores (UGT).

O corpo do sindicalista será sepultado hoje no cemitério Bela Vista, em Osasco. Há algum tempo o Zé Ibrahin generosamente concedeu uma entrevista a este blog (confira aqui), que agora eu gostaria que vocês relessem porque ela tem muito da História - dele e do país.


(Foto: Eduardo Metroviche/Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes)



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