quarta-feira, 15 de maio de 2013

Moda “competitiva” das múltis é trabalho escravo de 4 milhões


Bangladesh segue sob comoção com 1127 mortos no desabamento de um prédio com cinco fábricas. 300 fábricas estão fechadas devido a fúria dos manifestantes contra salário de US$ 37

Enquanto as operações de resgate chegam ao final em Bangladesh, milhares de trabalhadores foram às ruas no distrito de Ashulia, perto da capital Dhaka, na segunda-feira (13) para exigir aumento de salário, fim do trabalho escravo e forca para os criminosos responsáveis pelo desabamento de cinco confecções que matou 1127 operários em abril e feriu 2.438.
A descoberta do corpo de uma trabalhadora na área inflamou a situação, com a multidão depredando veículos e lojas e depois enfrentando a polícia. Em Ashulia, 300 fábricas estão fechadas, revelou o presidente da Associação de Fabricantes e Exportadores de Vestuário de Bangladesh, Mohamamad Atiqul Islam, que acrescentou que “os proprietários decidiram fechá-las por razões de segurança depois que os trabalhadores têm estado em fúria quase diária depois do colapso de Rana Plaza”.
É graças ao trabalho escravo que afeta 4 milhões de trabalhadores, na imensa maioria mulheres, que múltis - como Wal-Mart, C&A e Zara - podem oferecer moda “competitiva” nas capitais ocidentais. Agora essas grifes anunciam planos para “fiscalizar” as condições nas fábricas de confecções de Bangladesh – uma manobra para fugir às responsabilidades, já que as senzalas só existem como fachadas das múltis que fazem as encomendas, sabendo do trabalho escravo, dos salários de fome e da insegurança.
Com o país sob comoção, o governo também tenta livrar a cara, e anunciou que vai remendar a Lei do Trabalho de 2006, para permitir a formação de sindicatos sem que os patrões tenham de autorizar, como é atualmente. Líderes dos trabalhadores denunciam que os que tentavam se sindicalizar eram sujeitos a perseguição e espancamento. Também deverá ser instituído seguro de vida.
Foi formada ainda uma comissão tripartite para aumentar o salário mínimo, que está em US$ 37 (3.000 takas), um dos mais baixos do planeta. O aumento deverá ser estabelecido em três meses, retroativo a 1º de maio. Manifestantes vêm exigindo um aumento para 8.000 takas.
Bangladesh é o terceiro maior exportador de vestuário do mundo, graças aos salários de fome e condições de trabalho análogas à escravidão, que já resultaram em uma centena de mortos por incêndio em novembro e mais de mil mortos no desabamento de abril. 5.400 fábricas funcionam em condições terríveis e o trabalho escravo é a regra No incêndio de novembro, muitas mulheres morreram porque as portas da fábrica estavam trancadas. As confecções constituem nada menos que 78% do total das exportações de Bangladesh.


ANTONIO PIMENTA


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