sexta-feira, 17 de maio de 2013

Haroldo Lima reserva quarto em Antenora



Não é uma novidade que o sr. Haroldo Lima venha exaltar os leilões do petróleo e enaltecer a entrega do petróleo brasileiro às multinacionais (pois é este o conteúdo da Lei 9.478 de 1997, a lei de Fernando Henrique, tão incensada por Lima em seu recente artigo, que permite às petroleiras estrangeiras ficarem com todo o petróleo que extraírem). Nem é uma surpresa que Lima venha acusar o presidente Lula de "atrofiar a atividade petrolífera" por ter suspenso os leilões, exatamente após a descoberta das reservas do pré-sal. Diz Lima que "quando (…) por ausência de licitação, deixa-se de realimentar a exploração, o setor petrolífero, normalmente muito dinâmico, passa a sofrer uma atrofia de sua atividade. (…) É o caso de agora, quando já estamos há quatro anos sem fazer licitação" - e segue-se um comovente pranto sobre a situação das petroleiras que "mourejam em dificuldades" (sic) pela falta de leilões.

Lima apenas omite que, durante o mandato de Lula descobriu-se o pré-sal – e, mesmo sem contar o petróleo do pré-sal, as nossas reservas totais de petróleo passaram de 13 bilhões de barris (2002) para 28,5 bilhões (2010), um aumento de 117% - e a produção passou de 530 milhões de barris para 750 milhões, um aumento de 41,7% - graças a uma única empresa, a Petrobrás.
Mas nessa fraude não há nada de novo. A única novidade, portanto, é a direção do PCdoB endossar e homiziar essa indignidade e indigência – e as que se seguem. O artigo de Lima é uma condensação do seu servilismo, um inventário de renegado, com falsificações flagrantes. Mas não é nada mais que uma antologia do que tem feito nos últimos anos. A novidade, realmente, é que a direção do PCdoB dê guarida a essa mísera profissão de fé: a de um elemento que renega o seu passado - ou seja, a si próprio -, e, portanto, à sua identidade como brasileiro e tudo o que de melhor disse, fez ou escreveu, ao passar para o lado dos inimigos do país (ou será que alguém tem dúvida de que o imperialismo continua a existir, não fosse o Iraque, a Líbia, a Síria, o Afeganistão e a mais recente invasão do Brasil por multinacionais e dólares vagabundos?) - e que, de combatente, passou a "consultor" de uma biboca norte-americana.
Lenin escreveu que não há uma grande luta sem heróis e sem traidores. Realmente, só as lutas medíocres dispensam os heróis – e não amedrontam, por sua falta grandeza, os covardes que se tornam traidores quando a luta é verdadeiramente grande. Da mesma forma, disse o revolucionário russo, cada crise na vida dos indivíduos, ou na história das nações, esmaga e quebra a uns, ao mesmo tempo que fortalece e ilumina a outros.
Lima é hoje "consultor" da HRT Oil & Gas – uma associação entre o funddo especulativo do magnata norte-americano Mason Hawkins (o Southeastern Asset Management, Inc.) e o Discovery Capital Management, fundo especulativo de outro magnata, também norte-americano, Robert K. Citrone.
A principal façanha de Lima como "consultor" foi fazer a ANP reclassificar a HRT para "operadora A" - ou seja, operadora em águas profundas – com o sensacional currículo de ter furado "meio poço na Namíbia", segundo disse a própria Magda, sua amiga e ex-colega na agência.
Pois, antes, Lima foi diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), onde se notabilizou por tentar impedir a Petrobrás, na 8ª Rodada de leilões do petróleo, de ficar com mais de 11% dos blocos leiloados – até a 7ª Rodada, a Petrobrás ficara com 70% deles. A 8ª Rodada foi suspensa pela Justiça (v. HP, 01/12/2006) e depois cancelada pela presidente Dilma.
Por tudo isso, também não é surpreendente que ele não tenha lido ou que falsifique dados publicados pela própria agência da qual era diretor-gerente: não é verdade que a suspensão dos leilões, a partir de 2006, tenha diminuído a "exploração" (ou seja, "a aquisição de dados", como define o anuário da ANP) em relação ao período anterior. Pelo contrário, a atividade exploratória aumentou no período. Lima está, intencionalmente, confundindo o fato de que a atividade exploratória diminuiu em 2011 em relação a 2010 – e atribuindo essa redução a todo o período que vai de 2006 até agora. Mas isso é mentira: veja o leitor a página 70, tabela 2.1, e a página 71, tabela 2.2, do "Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – 2012", publicado pela ANP.
Também não é uma novidade (nem uma surpresa) que em sua corrida para Antenora (o recinto do nono círculo do Inferno, que, segundo Dante, destina-se aos traidores da pátria e/ou do seu partido), Lima tenha o descaramento de dizer que a famigerada lei 9.478 não foi confeccionada pelos tucanos, mas pelos progressistas da Câmara, inclusive ele próprio. Essa outra opção – a de enlamear o próprio passado – não tem muito futuro. Todo mundo sabe que o Haroldo, na época, não era o Haroldo de hoje.
Mas era esperável que ele tentasse falsificar o passado para justificar seu deprimente presente. Ou, mais esperável ainda, que tentasse falsificar o próprio presente, dizendo que o cartel petrolífero internacional não existe mais, substituído que foi pelas estatais... Será que o Lima estatizou a Exxon-Mobil? Ou a Shell? Ou a Chevron? Ou a BP? Ou a BG? Ou a ConocoPhilips?
Apesar de ainda mais cínica, também não existe novidade na declaração do Lima de que sua opção pelo entreguismo é para defender a Petrobrás (não brinca...). Ora, o que poderia ele dizer? Que sua opção pelo entreguismo é porque gosta de entregar? Ou, como um anti-São Francisco, que é dando que se dá?
Lima é muito ignorante em tudo que diz respeito ao petróleo – já vimos a sua teoria das "áreas explora-tórias" que só conseguem aparecer se houver algum leilão e minguam quando não há leilão. Literalmente: "acrescentar áreas em exploração significa, no Brasil, fazer licitação". Por quê? Já mostramos que a atividade exploratória aumentou entre 2006 e 2012, quando não houve leilão. Porém, há mais um gato na tuba: ao que parece ele quer revogar a nova lei do petróleo, pois, por ela, que regula a exploração do pré-sal, a Petrobrás não precisa de leilão algum para estabelecer suas "áreas exploratórias", pois o Estado tem o dever de alocar as áreas estratégicas para a companhia brasileira. Com essa teoria de meia-tigela para enrolar incautos, Lima acusa Lula de ter prejudicado o país com a suspensão dos leilões – mas não tem o destemor de citar pelo nome o acusado.
Portanto, nenhuma novidade, nem mesmo na forma de Lima se oferecer mais uma vez ao cartel petrolífero (esse que não existe mais...): comemorando uma suposta vitória no leilão de terça-feira, apesar da HRT não ter conseguido levar nem um tasco do nosso petróleo. Portanto, a vitória que Lima comemorava não era a da companhia que lhe paga os proventos, mas a do cartel, pois sem dúvida que a Petrobrás não entusiasma o Haroldo. Quem, além da Petrobrás, conseguiu algo mais ou menos significativo no leilão? A multinacional inglesa BG (10 blocos, sendo 9 em águas profundas); a francesa Total (6 blocos em águas profundas); a norueguesaStatoil (4 blocos em águas profundas); a norte-americana Exxon-Mobil, as inglesas British Petroleum e Premier Oil e a canadense Niko Resources (cada uma, 2 blocos em águas profundas); e a norte-americana Chevron, a australianaBHO Billiton e a colombiana Ecopetrol (1 bloco em águas profundas, cada uma).
Nem mesmo é algo surpreendente que Lima diga que ser entreguista é a posição verdadeiramente "de esquerda". Deve ter sido essa, ou seu equivalente na época, a justificativa de Calabar para colaborar com o colonialismo holandês – aquele que transformou toda a Indonésia numa senzala.
Assim, diz Lima que sua atitude é própria "da esquerda histórica à qual pertenço". Não é, não, exceto se Lima considerar que Carlos Lacerda foi um membro da "esquerda histórica" apenas porque um dia entrou na Juventude Comunista. Lima, pelo jeito, só registra a entrada, jamais a saída.
Naturalmente, Lima nada tem de "histórico", porque nada há de histórico em colaborar com a entrega do petróleo nacional, em chamar de posição "de esquerda" as caducas idiotices de Gudin, Bob Fields e Fernando Henrique - que, pelo menos, tiveram o senso de ridículo de não se pretender corifeus "de esquerda" dos cartéis norte-americanos.
CARLOS LOPES

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