segunda-feira, 6 de maio de 2013

Com país estagnado, Dilma assegura que melhor é impossível


O que Brasil precisa mesmo é voltar a crescer

Governo precisa parar de creditar os êxitos de Lula na sua conta e encarar a realidade
Não é produtivo para a presidente Dilma, e os compromissos de campanha que a elegeram, substituir a realidade pelo marketing, como no discurso do 1º de Maio. O país está travado por uma política econômica que segura os investimentos públicos, derruba o crescimento, desnacionaliza e desindustrializa a economia. Tais “políticas econômicas” não são “corretas”. O número de postos de trabalho diminui há dois anos e a estagnação puxa os salários para baixo. Acreditar no país é enfrentar os problemas.
 








Marketing e ignorar a realidade não vão ajudar o governo Dilma

Média mensal de criação de empregos, segundo o CAGED, teve uma queda de 53,45% entre 2010 e 2013. Os PIBs de 2011 e 2012 foram pífios
No século XVIII, Voltaire inventou o mestre de Cândido, o filósofo Pangloss, segundo o qual sempre vivemos no melhor dos mundos possíveis - talvez porque, notou Machado, sua visão não fosse além da ponta do próprio nariz.
Certamente, esse não é o caso da presidente Dilma. Por isso mesmo, sua ação como governante não pode ser substituída pelo marketing, tal como no discurso que pronunciou no 1º de Maio. Acreditar no Brasil é, sobretudo, enfrentar os seus problemas e os seus inimigos.
O país está empacado – e não por uma catástrofe natural ou por um ataque de nervos da economia, mas por uma política econômica equivocada,deliberada, que derrubou o crescimento de 7,5% (2010) para quase invisíveis 0,9% (2012); reduziu a taxa de investimento de 19,5% (2010) para 18,1% do PIB (2012); diminuiu o aumento do consumo de 6,9% (2010) para 3,1% (2012); e fez o PIB da indústria de transformação encolher de um crescimento de +10,1% (2010) para -2,5% (2012) – uma tremenda queda de 12,6 pontos percentuais (p.p.) em apenas 24 meses – em meio a um agudo surto de desnacionalização que está nos conduzindo a uma selvagem desindustrialização.








MUDANÇA
Depois de dois anos de crescimento medíocre - devido à escassez de investimentos públicos, à desnacionalização e desindustrialização da economia - estamos entrando em um terceiro ano, até agora, de crescimento medíocre - devido à escassez de investimentos públicos, à desnacionalização e à desindustrialização da economia.
Portanto, em nada ajuda ao país – e menos ainda à presidente, para realizar os compromissos que assumiu na campanha, e que a elegeram – dizer (ou ouvir) que "o Brasil avançou muito nos últimos anos por causa de políticas econômicas corretas", quando o que está em questão é, exatamente, a mudança na política econômica ocorrida desde janeiro de 2011, ou seja, depois de Lula - mudança para uma política econômica tão incorreta que lançou o país num pântano.
REALIDADE
Ignorar os erros dos últimos dois anos e quatro meses, tentando dissolvê-los nos acertos do governo Lula, não muda a realidade, não corrige os erros e não conserta as suas consequências, que são, aliás, graves. Apenas reforça o que há de pior dentro do país – precisamente, esse grupo minúsculo, reacionário e golpista desde os cueiros, misto de monopolistas estrangeiros e lacaios sem-pátria, cuja função é infelicitar o país com o seu parasitismo, com o seu saque, com a sua pilhagem sobre a Nação e o povo.
Não é proveitoso ignorar a realidade com afirmações como: "somente nos dois anos do meu governo foram criados 3 milhões e 900 mil novos empregos" imediatamente após "o Brasil gerou, nos últimos dez anos, 19 milhões e 300 mil empregos". Pois há uma diferença evidente entre os últimos dois anos e os anteriores, quanto ao emprego.
A média mensal de criação de empregos (admissões - demissões) do segundo mandato do presidente Lula foi 159.959 empregos, atingindo, no último ano, em média, 219.152 empregos por mês.
A média mensal de criação de empregos do governo Dilma, até março deste ano, é de 133.591 empregos, caindo sucessivamente até os 102.023empregos atuais.
Portanto, uma queda de 53,45% entre 2010 e 2013. Sucintamente, esta é a trajetória, desde 2010:
2010: 219.152 empregos p/mês;
2011: 168.881 empregos p/mês;
2012: 109.631 empregos p/mês;
2013: 102.023 empregos p/mês.






Usamos, aqui, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) mais favoráveis ao governo. Mesmo assim, é fácil perceber a diferença entre um período em que as vagas de emprego estavam aumentando (até 2010 inclusive) e o período posterior (2011-2013), em que o número de vagas é cadente. Tratar o último como se fosse igual ao primeiro não é confundir alhos com bugalhos: é tratar o que está caindo como se estivesse subindo, ignorando os problemas atuais - logo, contribuindo para que os problemas, e não o emprego, aumentem cada vez mais.
Também não é correto atribuir-se que "nos últimos dez anos (…) o salário-mínimo cresceu mais de 70% em termos reais", porque isso nada nos diz sobre a realidade atual, pelo contrário.
Pela lei 12.382/2011, até 2015 o aumento real do mínimo será equivalente à taxa de crescimento do PIB de dois anos antes – o que quer dizer que o aumento real será 0,9% em 2014, último ano do governo Dilma. Logo, o salário mínimo, que cresceu, em termos reais, 53,68% no governo Lula, só crescerá 11,80% no governo Dilma. Ou seja, nem a metade, considerando que o percentual de Lula equivale a oito anos.
Por falar nisso, o esquecimento jamais é bom conselheiro. Por isso, lembramos: o aumento real do salário mínimo em 2011 foi 0,37%, isto é, R$ 3,00 (três reais). O resultado é que os salários tiveram aumentos menores em 2011 – pois o mínimo é o piso dos salários. Arrochar o mínimo é o mesmo que promover o arrocho dos salários em geral: as categorias que conseguiram aumentos reais, isto é, acima da inflação, diminuíram em número. Apenas os acordos na faixa mais baixa acima da inflação (+1% a +2%) aumentaram em número (27,7% para 36,1% dos acordos) e os que tiveram perda em relação à inflação, ou seja, aqueles que tiveram redução do salário real– de 4,5% para 5,8% das categorias (cf., Dieese, Balanço dos Pisos Salariais negociados em 2011, pág. 4).
Em 2012, devido ao aumento do salário mínimo – que refletiu o crescimento de 7,5% do último ano do governo Lula – os salários tiveram alguma recuperação, mas os 2,7% do PIB de 2011 já conseguiram jogar para baixo os aumentos do conjunto dos salários: o aumento real médio passou de 1,96% (2012) para, até agora, 1,4% (2013), com perspectiva de outra queda no segundo semestre.
Por último – ou quase – a afirmação de que "segundo o FMI (…) fomos o país que mais reduziu o desemprego entre 2008 e 2012, ou seja, reduzimos em 30% a taxa de desemprego", além de, outra vez, diluir os problemas de agora nos acertos do governo Lula, passa por cima de outro dado do FMI: nosso crescimento esteve abaixo da média dos países emergentes e em desenvolvimento em 2011 (2,7% contra 6,4%), em 2012 (0,9% contra 5,1%), e, na projeção do FMI, continuará abaixo em 2013 (3% contra 5,3%). Nenhum país do mundo, exceto economias quebradas ou prestes a quebrar (Alemanha, França, Itália, Espanha, Inglaterra) teve resultados tão ruins (cf., IMF, World Economic Outlook, April 2013, p. 2).
Apesar disso, o investimento público, mola mestra do crescimento – inclusive do crescimento do investimento privado, como mostrou o segundo mandato do presidente Lula - continua travado: até o último dia 26 de abril, não chegara a um bilhão de reais os investimentos correspondentes ao atual Orçamento (mais precisamente,R$ 902.466.320,50).
ESTATAIS
Quanto às estatais, o balanço do primeiro bimestre, divulgado pelo Ministério do Planejamento, aponta investimentos de R$ 13.737.690.277. O mais extraordinário é que, destes R$ 13,7 bilhões, nada menos que R$ 12.557.819.593 (ou seja, 91,41%) eram de empresas do Grupo Petrobrás.
Todas as 19 empresas do Grupo Eletrobrás somadas, investiram apenas R$ 676 milhões. É crível, leitor – mais ainda considerando a situação do país, inclusive os tão propalados gargalos na infraestrutura e na logística? No entanto, é assim, segundo publicou o Ministério do Planejamento no Diário Oficial da União do último dia 23 de abril, páginas 103 e 104.
Faz-se diariamente uma cruzada contra os portos públicos nacionais – cruzada a que se somou o governo, desde a edição da MP nº 595 -, mas, pelo relatório do Ministério do Planejamento, o governo federal, nos dois primeiros meses do ano, investiu neles, ao todo, via companhias de docas, meros R$ 26,4 milhões. Depois, os portos públicos são acusados de ineficiência...
CARLOS LOPES



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