terça-feira, 15 de novembro de 2011

Governo técnico” de Monti já fala em turbinar arrocho de Berlusconi


Antes de se retirar, Berlusconi fez aprovar pacote de arrocho de 59,8 bilhões de euros. O premiê substituto, Mario Monti, porém, já previu corte adicional de pelo menos 25 bilhões de euros

Nem bem foram se encerrando as comemorações pela renúncia de Silvio Berlusconi, a Itália começou a se deparar com a dura realidade do ‘governo técnico’ de Mario Monti, brindado pela revista alemã Der Spiegel com os elogios de “respeitado banqueiro” e “o italiano prussiano em Roma”.

Antes de se retirar, Berlusconi fez aprovar um pacote de arrocho de 59,8 bilhões de euros, que é a base inicial de operação de Monti, o qual, porém, já anteviu um reforço no ajuste de pelo menos 25 bilhões de euros. O ‘governo técnico’ sequer foi formado, mas já está sob monitoramento do FMI, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia. Monti precisou desmentir ter dito que a crise cobraria “lágrimas e sangue” da Itália, mas admitiu “sacrifícios” à frente.

SALÁRIO

 
Quanto a isso, já se sabia que o pacote inclui o aumento do imposto sobre valor agregado de 20% para 21% e o congelamento de salários dos servidores públicos até 2014 mas uma carta do ministro das Finanças Giulio Tremonti à Comissão Europeia, que a agência Dow Jones relatou, vai ainda além. Afirma que o governo já tomou as medidas para demitir 300 mil servidores até 2014. Outras providências são prometidas, como ‘agilizar o mercado de trabalho’, isto é, facilitar as demissões e o rebaixamento salarial, e liquidar patrimônio público.

Sobre as aposentadorias, a carta de intenções registra que no país a idade legal mínima para pleitear já é de 65 anos para os homens - regra que será estendida, a partir do próximo ano, para as mulheres no setor público. Para as que trabalham no setor privado, a meta é de que, rapidamente, sofram igual aumento da idade mínima de aposentadoria.

Mas a carta esclarece que, graças a mecanismos que atrasam o recebimento efetivo desses benefícios entre 12 e 18 meses, na realidade a idade de aposentadoria já vai até 66,5 anos. Em decorrência, a idade da aposentadoria, na Itália, está prestes a se tornar maior que na Alemanha a partir de 2013, sendo que será um ano superior em 2017. E por aí vai o documento, prometendo mundos e fundos para a consolidação fiscal e mais austeridade.

Ex-comissário europeu por duas vezes e também um dos Goldman Sachs-boys europeus, Monti precisou ser ungido senador vitalício, isto é, biônico, para poder ser nomeado primeiro-ministro. Com o agravamento da crise, os bancos – como também visto na Grécia – estão dispensando intermediários e instaurando no poder prepostos diretos, “respeitados banqueiros”, para pôr em execução as impopulares medidas destinadas a arrochar a população e a transferir compulsoriamente dinheiro público para bailouts.

Na descrição do jornal inglês “Guardian”, a euforia nos mercados que acompanhou a indicação de Monti e seu governo técnico “evaporou-se em horas”. Um leilão de títulos públicos de cinco anos, na segunda-feira, foi penalizado com juros de 6,77%. O maior banco italiano, o Unicredit, anunciou perdas que o levaram a provisionar 45 bilhões de euros de ativos tóxicos, a necessidade de 7,5 bilhões de euros para recapitalização, e a demissão de 5.200 funcionários. Também as bolsas européias sofreram quedas. E os trabalhadores italianos ainda nem tiveram tempo para se posicionarem sobre a tosquia pretendida.

ANTONIO PIMENTA

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