terça-feira, 18 de maio de 2010

FHC/SERRA: SER NEOLIBERAL/CAPACHILDO É NUNCA PEDIR PERDÃO

As campanhas eleitorais estão cada vez mais desvinculadas dos governos que se fazem, caso eleitos. Uma se orienta pelas preferências do eleitor, pelas necessidades de captar seus votos. A outra, pelos interesses reais do bloco de forças em que se apóia o candidato.

Carlos Menem, na Argentina, e Carlos Andrés Perez, na Venezuela, prometiam grandes “choques produtivos” para recuperar as economias combalidas dos seus países. Nem bem triunfaram, anunciaram duríssimos pacotes de ajuste fiscal, revelando os verdadeiros interesses que se escondiam detrás das suas candidaturas. As demagogias dos dois os levaram ao fracasso e à prisão.

FHC anunciava que chegaria ao Brasil o Renascimento que, segundo ele, representava a globalização. Bastava controlar a inflação e estabilizar a moeda. Para isso bastava “apenas”, “virar a página do getulismo no Brasil”, substituir o desenvolvimento pelo ajuste fiscal, diminuir o tamanho do Estado, dando lugar ao mercado. Sabe-se no que deu. Nunca foi retomado o desenvolvimento econômico, o país quebrou duas vezes e duas vezes o FHC-Malan foram, de joelhos, pedir novos empréstimos ao FMI e assinaram as respectivas Cartas de Intenções, jogando o Brasil numa profunda e extensa recessão, de que só saiu no governo Lula.

Aumentaram as desigualdades e a pobreza no país, o patrimônio publico foi doado a grandes empresas privadas, o Estado foi sucateado – com especial ênfase na educação e na saúde –, o país virou uma combinação de Bolsa de Valores e shopping-center, com o governo FHC-Serra governando para uma minoria, da elite branca do centro-sul, somados aos caciques nordestinos.

Foram rejeitados, rechaçados, derrotados. FHC saiu com baixíssimo índice de apoio, Serra foi fragorosamente derrotado por Lula, quando tentava esconder seus vínculos com o governo FHC, sem sucesso, ao defender “um continuísmo sem continuidade” (sic).

Nunca se arrependeram de nada – como consignou Veríssimo -, como atitude típica de neoliberais. Nem poderiam, porque continuam a representar o mesmo bloco de forças que se beneficiaram brutalmente das privatizações e de tantas outras benesses que FHC-Serra lhes brindaram e que financiam agora, de novo, a candidatura do-ex presidente da UNE, ex-prefeito de São Paulo, ex-governador de São Paulo – todos cargos abandonados por ele, por covardia no primeiro caso, por ambição de disputar outros cargos, nos outros.

Ou FHC-Serra se arrependeram de tentar privatizar a Petrobrás, mudando o nome da empresa, para um nome “global”? Ou se arrependeram de ter jogado a maioria dos trabalhadores brasileiros na precariedade, expropriando-lhes as carteiras de trabalho, com FHC declarando que o país tinham milhões de “inimpregáveis”? De terem promovido um brutal processo de privatizações – rejeitado maciçamente pela opinião publica, como as pesquisas de opinião atestam – e de abertura acelerada e irresponsável da economia, levando à intensificação da desnacionalização da economia e da quebra de grande quantidade de empresas, com a correspondente perda de empregos?

Se arrependeram de ter tentado levar o Brasil a promover uma Área de Livre Comércio das Américas, que teria levado o Brasil e todo o continente à penosa e falimentar situação do México hoje, com FHC votando a favor da proposta norteamericana na reunião realizada em 2001 no Canadá? Se arrependeram de ter elevado a taxa de juros a 45% em janeiro de 1999, numa tentativa desesperada de segurar capitais em fuga, elevando ao mesmo tempo a esse nível as taxas de pagamento das próprias dividas do Estado brasileiro, que multiplicaram essas dívidas por 11 no final do governo FHC-Serra, depois de FHC ter dito que “O Estado brasileiro gasta muito e gasta mal”?

Se arrependeram de ter posto em prática uma política totalmente subserviente aos EUA e ter levado a uma eventual liquidação do Mercosul (este que Serra chama agora de “farsa”)? Se arrependeram FHC-Serra de terem reprimido e criminalizado os movimentos sociais, em especial o MST? Se arrependeram de FHC ter chamado os brasileiros de “preguiçosos”? Se arrependeram de ter mudado a Constituição, com votos comprados, em pleno mandato de FHC, para ter um segundo mandato?

Se arrependeram de ter apoiado o golpe militar de Fujimori no Peru? Se arrependeram de ter destinado, fraudulentamente, recursos do governo para salvar os bancos Marka e Fonte Cindam, pelo qual funcionários do Banco Central do governo foram condenados? Se arrependeram de ter jogado o Brasil numa profunda e prolongada recessão, de ter desnacionalizado a economia, de ter promovido a hegemonia do capital financeiro no país?

Passaram-se os anos e nunca manifestaram arrependimento. O que confirma que foram, são e continuarão a ser neoliberais e repetirão essas doses cavalares de recessão, privatização, desemprego e miséria que aplicaram durante oito anos, dispondo de maioria absoluta no Congresso e de apoio unanime na mídia privada e no empresariado nacional e internacional.

Emir Sader

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