domingo, 9 de maio de 2010

A CATÁSTROFE DO GOLFO DO MÉXICO E A INCRÍVEL" EFICIÊNCIA" DAS MULTINACIONAIS.

O desastre da British Petroleum (BP) no Golfo do México levanta algumas questões bastante relevantes para o nosso país.

 Como se sabe, apesar do Brasil possuir a única companhia petrolífera do mundo com domínio pleno da tecnologia de extração do petróleo em águas profundas, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) tem, sobre a Petrobrás, uma opinião diferente do consenso internacional.

Mas vejamos o que aconteceu na Deepwater Horizon - que seria uma plataforma “de quinta geração”, operada pela BP e alugada à Transocean, uma firma com sede na Suíça, e com a “cimentação” do poço feita pela Halliburton, empresa da qual provém um dos diretores da ANP, o sr. Nelson Narciso, antes diretor da multinacional que durante anos foi chefiada pelo vice de Bush, Richard Cheney (a “cimentação”, resumidamente, é uma obra de engenharia para revestir a perfuração de um poço com um invólucro de cimento – em águas profundas, é uma operação bastante delicada).

O advogado norte-americano Robert Wiygul, que trabalhou por muito tempo para petroleiras e hoje é advogado de entidades ambientalistas, resumiu do seguinte modo o desastre no Golfo do México: “O ponto é que, se você vai perfurar a uma profundidade de 1.524 metros, você precisa ter capacidade para controlar o que está fazendo”.

No Golfo do México, somente nos cinco primeiros meses de 2009, houve 39 explosões em poços de petróleo. Qual o problema? No Golfo, a produção de petróleo em águas rasas está quase esgotada. Assim, as companhias estão sendo obrigadas a operar em águas mais profundas – mas não desenvolveram, com exceção da Petrobrás (que opera dois campos no Golfo do México), uma tecnologia específica para esse tipo de exploração.

O resultado tem sido um desastre atrás do outro. Especialmente a “cimentação” da Halliburton é suspeita em 16 dessas 39 explosões – e não se trata apenas da incompetência da Halliburton, mas do fato de que a maioria das empresas que a contratam não tem condição técnica de estabelecer parâmetros para supervisionar o trabalho entregue a ela.

No caso da Deepwater Horizon, todas as circunstâncias indicam que a BP, acostumada a profundidades de 300 metros no Mar do Norte, não tinha experiência nem capacidade para operar em águas com 1500 metros de profundidade, algo que na Petrobrás é rotina há muitos anos.

Wiygul analisou o plano para o poço da Deepwater Horizon que a BP encaminhou ao Minerals Management Service (MMS) - o departamento do governo norte-americano que, entre outras coisas, aprova os projetos de extração “off shore”, ou seja, no mar - e concluiu que nada nesse documento demonstra que a BP tinha tal capacidade tecnológica. O documento limita-se a repetir várias vezes que “é improvável que ocorra um derramamento acidental com as atividades propostas”, e, que se houvesse, “por causa da distância da costa (quase 77 quilômetros) e das respostas que seriam implementadas, nenhum impacto adverso significativo é esperado”.

Pois, até agora, já são quatro Estados norte-americanos (Louisiana, Mississippi, Alabama e Florida) com o litoral tomado pela mancha de óleo do poço da BP - e esta foi incapaz até mesmo de fechar o poço.

Isso aconteceu, ressaltamos, numa profundidade de 1.500 metros. Imagine-se nas profundidades requeridas pela exploração no pré-sal, mais de 2000 metros de lâmina d’água e 6000 metros no subsolo.

No entanto, a ANP, na oitava rodada de leilões, em 28 e 29 de novembro de 2006, quis impedir a Petrobrás de concorrer livremente, limitando sua participação a 11% das áreas que estavam sendo oferecidas. Segundo a ANP, o objetivo era “aumentar a concorrência”, ou seja, entregar mais blocos aos monopólios petroleiros externos. Essa rodada de leilões acabou suspensa pela Justiça.

Porém, na 9ª rodada, a ANP incluiu no leilão 41 blocos localizados na área do pré-sal – esses blocos somente foram retirados do leilão depois de ordem expressa do presidente Lula.

Segundo o sr. Nelson Narciso, o ex-diretor da Halliburton que hoje é diretor da ANP, o pré-sal tem que ser leiloado porque “tem custo muito alto” e é preciso procurar “alternativas a custo menores”. Evidentemente, ele acha que o custo é muito alto só para a Petrobrás, mas não para as multinacionais – caso contrário, não proporia que o pré-sal fosse leiloado, pois ninguém iria dar lance algum por um petróleo tão caro. Portanto, sua “alternativa a custo menor” não é procurar petróleo fora do pré-sal, mas entregá-lo às multinacionais.

Estamos vendo uma dessas “alternativas a custo menor” no Golfo do México, com a devida – e, segundo os jornais americanos, decisiva - participação da Halliburton nessa fenomenal diminuição dos custos. A ANP poderia perguntar ao presidente Obama o que ele acha do “custo menor” da BP.

C.L.

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