quarta-feira, 19 de maio de 2010

COMUNIDADE INTERNACIONAL SAÚDA ACORDO IRÃ OBTIDO PELO BRASIL.

Rússia, UE, China e Liga Árabe aplaudem acordo Brasil-Turquia-Irã.O jornal inglês “Guardian” resumiu: “foi bom para todos, exceto para os que, nos EUA e Israel, buscam desculpas para isolar e atacar o Irã”

Do mundo inteiro, as saudações ao Brasil pelo papel cumprido no acordo em que o governo do Irã se comprometeu a enviar ao exterior – à Turquia – 1,2 tonelada de urânio fracamente enriquecido a 3,5% para que seja enriquecido a 20% e devolvido ao longo de um ano.

Até mesmo a Casa Branca – de onde tem partido a política mais agressiva contra o Irã – se viu forçada a declarar que reconhecia “os esforços feitos pela Turquia e pelo Brasil”, enquanto tentava manter a pressão por mais sanções, sob o pretexto de que o Irã “não cumpre” acordos ou de que, desde outubro, a quantidade de urânio do Irã aumentou.

O presidente russo Dmitri Medvedev, após ser informado por telefone pelo presidente brasileiro Lula sobre as tratativas em Teerã, “avaliou positivamente os esforços conjuntos do Brasil e da Turquia para promover uma solução política e diplomática para o problema nuclear iraniano”, conforme comunicado do Kremlin. E, em referência às sanções de Washington, Medvedev ele acrescentou que “uma pequena pausa nesse problema não faria mal nenhum”. A posição da China foi expressa pelo ministério das Relações Exteriores: “Apoiamos o acordo, consideramos importante”, declarou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu. “Esperamos que isto ajude a promover uma solução pacífica à questão nuclear iraniana”, acrescentou Ma Zhaoxu.

“TEMPO NECESSÁRIO”

Há poucos dias, uma matéria da “Reuters” afirmava que Rússia e China dariam ao Brasil e à Turquia “todo o tempo” de que precisassem para fechar um acordo” com o Irã. Quanto à França, desmentidos à partes, como o chanceler brasileiro Celso Amorim revelou, a questão da libertação da francesa Clotilde Reiss, detida em Teerã, foi decisiva para possibilitar as negociações.

O primeiro-ministro turco Tayyip Endorgan, que só foi a Teerã quando o acordo já estava perto do sucesso, afirmou crer que “após esta declaração [a declaração assinada pelos três países] não haja mais a necessidade de sanções”. Trata-se de “um histórico ponto de inflexão”, considerou o chanceler turco, Ahmet Davutoglu.

Até mesmo quem não quer acordo e insiste em “satanizar” o Irã fez alguma declaração admitindo que a declaração Brasil-Turquia-Irã os deixara numa enrascada. Porta-voz da Comissão Européia declarou que o acordo “pode ser um passo na direção correta”, mas ainda é preciso “avaliar os detalhes”. Ainda na segunda-feira, a AIEA anunciou ter recebido a declaração de Teerã, e que aguardava uma notificação do Irã “por escrito”.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon disse avaliar positivamente “a iniciativa do presidente Lula e do primeiro-ministro Erdogan para ajudar a encontrar uma solução diplomática a este assunto tão delicado”. O fariseu acrescentou que “como princípio, sempre apoiei a resolução negociada e em paz dos problemas, mas as sanções estão em mãos do Conselho de Segurança e é lá onde devem ser resolvidas”. O acordo foi ainda elogiado pela Liga Árabe, que congrega 22 países do Oriente Médio, África e Ásia.


“SURPRESA”

A Declaração também foi analisada pela mídia. O “Washington Post” considerou sua assinatura “uma surpresa” e assinalou ser o primeiro acordo do tipo que o Irã assina desde 2004. O jornal norte-americano considerou que ele “poderia prover uma alternativa às duras sanções contra o Irã” que os EUA tentam impor. Ainda segundo o WP, enquanto os EUA dizem “temer a proliferação de armas nucleares”, as nações emergentes denunciam a intenção deste de “controlar a tecnologia nuclear e evitar o desenvolvimento de programas independentes de energia nuclear”.

O “New York Times”, após várias considerações sobre o que o imperialismo deve fazer em relação ao Irã, chega à conclusão de que o presidente Obama está diante de um dilema. “Se ele rejeitar o acordo, vai parecer que está rejeitando um acordo semelhante ao que estava disposto a assinar há oito meses. Mas se ele o aceitar, muitas das questões urgentes que ele diz que terão que ser resolvidas com o Irã nos próximos meses - em sua maioria sobre as suspeitas sobre armamentos - serão deixadas de lado por um ano ou mais”.

Já revista inglesa “The Economist” advertiu que o acordo entre as três parte poderá fortalecer “a oposição às sanções”. Por sua vez o “Financial Time” considera, usando como fonte “alguns diplomatas ocidentais”, que o governo iraniano fez algumas concessões e que Ahmadinejad gostaria de ter fechado acordo no ano passado, e só não o fez por questões internas. Para o “Guardian”, o acordo é positivo para todos, “exceto aqueles em Washington e Tel Aviv que buscam desculpas para isolar ou atacar o Irã”.

ANTONIO PIMENTA

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