sexta-feira, 23 de agosto de 2013

“Não há uma bandeira grande o bastante para cobrir a vergonha de matar gente inocente”


Abaixo a carta em que Manning reivindica o indulto.
“As decisões que eu tomei em 2010 tiveram como motivo a preocupação por meu país e o mundo em que vivemos. Desde os trágicos eventos do 11 de Setembro, nosso país tem estado em guerra. Temos estado em guerra com um inimigo que escolheu não nos encontrar nos campos de batalha tradicionais, e devido a este fato nós tivemos de alterar nossos métodos de combater os riscos impostos a nós e nosso modo de vida.
Eu concordei inicialmente com esses métodos e escolhi ser voluntário para ajudar a defender meu país. Somente quando estive no Iraque e passei a ler relatórios militares secretos diariamente foi que comecei a questionar a moralidade do que nós estávamos fazendo. Foi nesse tempo que eu compreendi que em nossos esforços para fazer frente aos riscos que nos eram impostos pelo inimigo, nós esquecemos nossa humanidade. Nós conscientemente escolhemos desvalorizar a vida humana no Iraque e no Afeganistão. Quando agíamos contra aqueles que percebíamos como inimigo, às vezes matamos civis inocentes. Sempre que matamos civis inocentes, ao invés de aceitar a responsabilidade por nossa conduta, nós optamos por nos esconder atrás do véu da segurança nacional e informação secreta a fim de evitar qualquer prestação de contas ao público.
Em nosso zelo para matar o inimigo, nós internamente debatemos a definição de tortura. Mantivemos indivíduos em Guantánamo por anos sem o devido processo. Inexplicavelmente, viramos um olho cego para a tortura e execuções do governo iraquiano. E compactuamos com incontáveis outros atos em nome da nossa guerra ao terror.
Muitas vezes o patriotismo é exaltado aos gritos enquanto atos moralmente questionáveis são defendidos por aqueles no poder. Quando tais gritos abafam qualquer dissensão que tem base na lógica, geralmente trata-se de que foi dada ao soldado americano a ordem de desempenhar alguma missão mal concebida.
Nossa nação tem tido momentos negros similares diante das virtudes da democracia – a Trilha de Lágrimas [N.HP – a expulsão dos índios cherokees de suas terras], a decisão Dred Scott [a sentença da Suprema Corte que manteve escravo um negro que fora para um estado onde não havia escravidão], o McCarthismo, e os campos de internamento dos nipo-americanos – para mencionar alguns. Estou confiante que muitas dessas ações desde o 11 de Setembro serão um dia vistas sob luz similar.
Como o saudoso Howard Zinn disse uma vez, “Não há uma bandeira grande o bastante para cobrir a vergonha de matar gente inocente”.
Eu compreendo que minhas ações violaram a lei; eu lamento se minhas ações atingiram alguém ou causaram dano aos Estados Unidos. Nunca foi minha intenção atingir quem quer que seja. Eu só queria ajudar o povo. Quando eu escolhi divulgar informação secreta, o fiz por amor ao meu país e por senso de dever aos outros.

Se você negar meu pedido de indulto, eu cumprirei meu tempo [de sentença] sabendo que às vezes tem-se de pagar um pesado preço para viver numa sociedade livre. Eu pagarei com alegria esse preço se isso significar que nós poderemos ter um país que seja verdadeiramente concebido na liberdade e dedicado à proposição de que todas as mulheres e homens são criados iguais.”

 

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