segunda-feira, 5 de agosto de 2013

General americano expõe entranhas do complexo industrial-militar dos EUA


“Olhando para trás, sinto que poderia ter dado a Al Capone umas poucas sugestões. O melhor que ele pôde fazer foi operar suas extorsões em três distritos. Eu operei em três continentes”, revela o renomado general marine Smedley Darlington Butler

Extrato do discurso feito pelo general norte-americano Smedley Butler, em 1933.

Trata-se de uma das mais profundas, sintéticas e candentes denúncias do complexo industrial-militar dos EUA e seu banditismo ao redor do mundo, feita por alguém que o conhecia por dentro. Originalmente, o texto foi dado a conhecer em nosso país graças ao tenente-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla e ao engenheiro Paulo Metri, que reproduziram-no em seu livro “Nem todo o petróleo é nosso”.

Smedley Butler, autor de “War is a Racket” (“A Guerra É Uma Extorsão”), é conhecido por ter denunciado, em 1934, o complô contra o presidente Roosevelt, um golpe de Estado em preparação, o “Business Plot” - devido à participação de grandes industriais e banqueiros, inclusive Morgan e DuPont. A comissão do Congresso que ouviu o depoimento de Butler e investigou a tentativa de golpe concluiu pela existência do complô, e nenhuma das afirmações do general foi jamais desmentida, o que não impediu o “The New York Times” de deflagrar uma campanha de difamação, chamando-o de louco e paranóico.

No entanto, Butler, republicano como seu pai, o deputado Thomas S. Butler, presidente do Comitê de Assuntos Navais durante os cinzentos governos de Harding e Coolidge, tinha sido durante décadas um dos heróis da direita americana – e por isso havia sido chamado a participar no golpe contra Franklin Roosevelt.

Smedley Darlington Butler foi o mais condecorado fuzileiro naval e o mais jovem general da história dos EUA. Duas vezes ele foi distinguido com a maior das condecorações daquele país, a “Medalha de Honra do Congresso”, o que somente aconteceu até hoje com 18 outras pessoas.

Sua carreira militar, como diz em seu discurso, foi realizada em agressões e intervenções imperialistas em praticamente todos os recantos do planeta, desde a guerra contra a Espanha, em 1898 - onde foi um dos ocupantes de Guantánamo, Cuba. Dois anos depois, ele estaria na China, como integrante das tropas estrangeiras que esmagaram a Revolta dos Boxers. Depois, Honduras e Nicarágua.

A primeira “Medalha de Honra do Congresso”, ele a recebeu por sua participação na tomada do porto mexicano de Veracruz, em 1914, intervenção americana realizada durante a Revolução Mexicana, sob pressão dos monopólios do petróleo que dominavam Tampico e outras áreas do México. O motivo declarado era impedir que armas alemãs chegassem ao país, quebrando o embargo declarado pelos EUA. Como outros americanos, inclusive o próprio presidente Wilson, que havia determinado a intervenção, Butler deve ter se surpreendido ao verificar que as supostas armas alemãs eram fabricadas pela Remington, dos EUA. Para driblar o embargo e fornecê-las a Victoriano Huerta, traidor do presidente Francisco Madero, a Remington enviara as armas para Hamburgo, de onde foram embarcadas para o México. Tudo, como diria Butler muitos anos depois, uma questão de negócios...

O fato é que, espantosamente, e pela primeira vez, um galardoado com essa medalha quis devolvê-la. Segundo declarou o então major Smedley Butler, ele não havia feito nada para merecê-la. Porém, seus superiores ordenaram que aceitasse a medalha e a envergasse com o uniforme militar.

Um ano depois, em 1915, Smedley Butler estava entre as tropas enviadas ao Haiti para esmagar a revolta dos camponeses daquele país, conhecida como Revolta dos Cacos. Por ter tomado o quartel-general dos camponeses, ele foi outra vez condecorado com a “Medalha de Honra”.

Porém, em 1931, ele se tornou também o primeiro general americano a ser submetido a uma corte marcial por ter ofendido Mussolini, ao contar publicamente uma história de conteúdo anti-fascista. Apesar de ser republicano, seu correligionário Herbert Hoover, presidente dos EUA, que notoriamente detestava Butler, resolveu atender a um protesto do capo fascista.

CARLOS LOPES

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