quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Dilma usa governo de Lula para esconder o seu

 

A presidente Dilma Rousseff minimizou a discussão sobre a sua sucessão e os rumores de que, dentro do PT, haveria um crescente movimento pela volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", publicada domingo (28), tentou passar a ideia de que não há diferença entre sua gestão e a do seu antecessor. "Eu tou misturada com o governo dele total", declarou.
"Querida [a colunista Mônica Bergamo], olha, vou te falar uma coisa: eu e o Lula somos indissociáveis. Então esse tipo de coisa, entre nós, não gruda, não cola. Agora, falar volta Lula e tal... Eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi. Ele não saiu", ressaltou Dilma.
Lula, como se sabe, não é, no momento, candidato. A presidente, supõe-se, também sabe disso. Por isso, o problema principal das declarações da presidente nada tem a ver com o desejo do PT de ter Lula como candidato. No entanto, não é saudável para o governo da presidente, nem para a sua candidatura, esconder a mudança da política econômica que houve após a saída de Lula. O problema dessa tentativa de não reconhecer os equívocos da política adotada a partir de 2011, recorrendo ao subterfúgio de dissolver os erros dos últimos dois anos e meio nos acertos do governo anterior, é que a presidente perde uma excelente oportunidade de mudar – e seguindo um excelente exemplo: precisamente, o do seu antecessor. Ante os 7,5% de crescimento do PIB em 2010, último ano de Lula, o país vem recuando nos dois últimos anos e não dá mostras de que reverterá essa tendência. Pelo contrário – já existe quem preveja 1,6% para o crescimento deste ano.
Mas, segundo a presidente, ela não fica preocupada quando usam Lula para criticar sua gestão, porque teria uma relação com o ex-presidente "que tá por cima de todas essas pessoas. Não passa por elas, entendeu?". "Nós ficamos juntos todos os santos dias, do dia 21 de junho de 2005 [quando assumiu a Casa Civil] até ele sair do governo. Temos uma relação de compreensão imediata sobre uma porção de coisas", disse.
Dizia um velho psiquiatra que a negação é o mecanismo mais reacionário que existe, pois é um compromisso com o erro, e não com a vida – isto é, os outros seres humanos. Todos sabem da relação próxima entre Dilma e Lula. O problema é o que ela aprendeu com a convivência. Por exemplo, ao contrário do que fez Lula em seu segundo mandato, Dilma tem se rendido à cantilena rentista de arrocho nos investimentos públicos e nos gastos públicos: "As despesas com pessoal, de 4,2%, são as menores em dez anos". "Como é que afrouxei o fiscal?", admitiu.
A seguir, se autoelogiou pelo retorno da política de alienação do patrimônio público, muito usual na época de FHC, que seu governo retomou. "Quero falar do futuro. De agosto até o início do ano que vem, faremos várias concessões, rodovias, ferrovias, aeroportos e portos, o que vai contribuir para a ampliação dos investimentos e para melhorar a competitividade da economia", disse.
A presidente está, em verdade, falando do passado. Depois disso, é inútil comparar o seu governo com o de Fernando Henrique, para concluir que tudo está muito bem.

WALTER FÉLIX

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