sexta-feira, 27 de abril de 2012

Surgem gravações com propina de Carlos Cachoeira para Perillo

 

PF monitorou entrega de dinheiro no Palácio de governo de Goiás, segundo novas gravações 

 A Polícia Federal monitorou, através de gravações autorizadas pela Justiça e que estão vindo a público agora, detalhes da entrega de uma polpuda propina de Carlos Cachoeira ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Disponibilizadas pelo blog “QuidNovi”, do jornalista Mino Pedrosa, as gravações revelam a entrega de R$ 500 mil a Perillo dentro do Palácio das Esmeraldas. O dinheiro foi entregue pelo ex-vereador do PSDB, Wladimir Garcez, que está preso e é considerado pela Polícia Federal o braço direito no esquema de Cachoeira. As gravações mostram um comparsa de Cachoeira perguntando a outro se ele contou o dinheiro e, depois de confirmar que está tudo certo, orienta-o a esconder as notas numa caixa de computador.

Num dos telefonemas, um membro da quadrilha de nome Geovani, informa a Carlos Cachoeira que o dinheiro já está na mão e que o “Gleibão” (Gleyb Ferreira da Cruz) está indo. “Pode mandar?”, pergunta Geovani. Cachoeira responde que pode, e diz: “Fala pra ele esconder”. Geovani responde que o dinheiro “está numa caixa de computador”. Cachoeira diz que tudo bem e que é para eles terem cuidado com acidentes de trânsito para “não queimarem as notas”.

Wladimir Garcez se dirige a Carlos Cachoeira, num dos telefonemas gravados, como “chefe”, ao responder sobre o horário da passagem do dinheiro. “E aí que hora vai ser?”, pergunta Cachoeira. “Nada, ele [Perillo] nem recebeu ainda o pessoal da Schinkariol. Ele está lá com o pessoal da televisão gravando um vídeo”, respondeu Garcez. “O coisa está chegando aí com aquele dinheiro, liga para o Lúcio aí. Liga prá ele aí e vê com quem ele deixa”, diz Cachoeira. “OK. Eu estou tentando falar com ele”, responde Garcez.

Em outra ligação de rádio Nextel, Cachoeira cobra de Garcez que mudou o horário [do encontro com o governador] e ele não foi avisado. “Você ia me avisar que horas que mudou de 1 para as 4 horas o horário dos meninos?”, pergunta. Garcez responde: “Eu estou esperando confirmar, né”. E acrescenta: “Ele [Gleyb] está aqui em Goiânia já?”. “Ele está na porta do Palácio”, responde. “Pode ser até daqui a pouquinho. Estou esperando o tenente me ligar, ele não ligou. Eu até liguei prá lá e ele disse que o governador falou: manda ele vir prá cá, mas não disse que horas, não”, explica Garcez, acrescentando: “eu falei pro tenente, você marca e eu estou aí em menos de vinte minutos”.

Na transcrição da Polícia Federal (ver fac símile ao lado) aparece o título: “Entrega de dinheiro no Palácio do Governo de Goiás”. No documento são mostrados os detalhes da operação que monitorou com áudios e vídeos a ação de pagamento da propina ao governador. A Polícia Federal acompanhou todos os movimentos da quadrilha desde a saída do dinheiro de Cachoeira até a sua entrega a Wladimir Garcez (PSDB) que estava esperando no Palácio do Governo.

Geovani pergunta, em outra gravação, se a pessoa que recebeu a encomenda contou o dinheiro. “Contou?”, indaga Geovani. “Já conferi tudo”, responde. “Então, lacra aí e pede para o Gleibão entregar para o Wladimir que está lá na praça perto do Palácio. Fala para ele passar lá e deixar”, completa. Gleyb depois pergunta para Cachoeira se Wladimir já está no lugar combinado. “É para esperar lá”, responde o chefe. Gleyb pergunta a uma pessoa de nome Julinho, se é no mesmo lugar de antes. Ele responde que vai passar um rádio para o Wladimir e que depois retorna com o lugar exato, mas reforça que deve ser no mesmo lugar “da outra vez”.

As gravações destes diálogos só foram possíveis porque a Polícia Federal conseguiu interceptar os rádios Nextel, que a quadrilha acreditava estar imune. Sob orientação do ex-delegado da Polícia Federal, Fernando Byron, e do ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, também presos na Operação Monte Carlo, Cachoeira comprou e habilitou 15 rádios Nextel em Miami (EUA). O ex-delegado e o araponga Dadá garantiram a Cachoeira que assim estariam livres de interceptações legais ou ilegais, o que não aconteceu, felizmente. O senador Demóstenes Torres foi um dos contemplados com um rádio Nextel.

Com todas essas evidências da ligação criminosa entre Carlos Cachoeira e o governador Marconi Perillo, vai ficar muito difícil para o político tucano continuar tentando negar seu envolvimento no bando formado por Cachoeira e Demóstenes Torres. Perillo deu declaração na quarta-feira negando que tenha recebido dinheiro de Cachoeira.

Numa estratégia de defesa parecida com a que Demóstenes também usou no início das revelações de sua ligação com a quadrilha de Cachoeira, Perillo disse que é tudo calúnia e que ele não faz nada de errado dentro do Palácio. Que no Palácio ele só defende “os interesses do povo”.

Diante das gravações, vai ficar também insustentável a ausência de Marconi Perillo nas investigações pedidas pelo Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, à Justiça. O procurador já abriu investigações contra o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB) e o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).

Foi apresentado à CPMI do Cachoeira, na quarta-feira (25), um requerimento para que o governador de Goiás seja convocado a apresentar explicações aos parlamentares.

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