quinta-feira, 12 de abril de 2012

Coutinho oferece dinheiro do FAT para multinacionais americanas


A sr. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, em seminário na cidade de Washington, disse aos executivos de multinacionais norte-americanas: “por favor, batam à nossa porta” - e pôs o dinheiro do banco que preside (isto é, dinheiro do Tesouro e do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT) à disposição das corporações norte-americanas para financiar seus “investimentos” no Brasil.

Em entrevista, “Coutinho afirmou que novas empresas americanas já começaram a bater à porta do BNDES, e que isso aconteceu imediatamente após sua palestra. Ao deixar o palco, foi cercado por diversos empresários pedindo audiências”.

Coutinho citou, como exemplos da “promissora” resposta norte-americana, duas empresas, certamente muito “novas”: 1ª) a GE (faturamento em 2011: US$ 151,63 bilhões; lucro líquido: US$ 14,15 bilhões); 2ª) a IBM (faturamento em 2011: US$ 106,91 bilhões; lucro líquido: US$ 15,85 bilhões; fonte: Fortune e US Securities and Exchange Commission).
Com certeza, são empresas que precisam muito dos financiamentos do BNDES, fundado pelo presidente Getúlio Vargas com a fantástica ideia de que serviria para financiar os investimentos das empresas nacionais.

Por isso, durante décadas e décadas, os entreguistas de todos os matizes propalaram que as empresas nacionais eram “artificiais”. Boas eram as multinacionais, que traziam “investimentos”, porque, segundo eles, não tínhamos dinheiro (“poupança”) para investir.

Logo, as multinacionais não precisavam do nosso dinheiro; nós é que, supostamente, precisávamos do dinheiro delas.

Claro que as multinacionais vinham para cá promover a pilhagem de nossos recursos numa escala astronomicamente maior que qualquer “investimento” - geralmente máquinas velhas – que, porventura, fizessem. Portanto, elas é que precisavam da poupança interna do país para enviá-la às suas matrizes.

Sempre um sujeito de vanguarda, inovador e ousado (quiçá quase tão iluminado quanto o falecido Bob Fields, que tinha uma “lanterna na popa”), o sr. Coutinho propõe acabar com os arrodeios e oficializar que a função das multinacionais dos EUA no Brasil é arrombar a nossa poupança: devemos implorar a elas para que nos arrombem e ficar muito satisfeitos, talvez - ou provavelmente - eufóricos.

Se fosse a poupança do sr. Coutinho, nada teríamos a objetar. Mas já que ele quer que as multinacionais (as norte-americanas, bem entendido) façam investimento direto estrangeiro com o dinheiro do Tesouro e do FAT, por que não ser mais prático?

Por que o BNDES não usa esse dinheiro para
comprar empresas nacionais e as repassa diretamente às multinacionais?

Pelo menos, evitar-se-ia muita chatice, sobretudo seminários em Washington com o jumentil nome de “Brasil-Estados Unidos: Parceria para o Século 21” (há um dito popular que descreve bem tal tipo de parceria; mas, por consideração às leitoras pudicas, não o repetiremos).

Mas não paremos por aí. Para modernizar mais ainda a política de desembolsos do BNDES, o sr. Coutinho poderia introduzir uma nova regra para a aprovação dos empréstimos: proibir as empresas nacionais de pleitearem financiamentos. Assim, sobraria mais para as multinacionais, sem que esses pentelhos nacionais – escapou, leitora: quer dizer, empresas nacionais – fiquem querendo abiscoitar financiamentos para produzir isto ou aquilo, dando um trabalho danado ao BNDES para inventar pretextos e recusá-los, ou conceder um décimo daquilo que se pleiteou.

Por último, para tornar mais rigorosos os critérios do BNDES, o sr. Coutinho poderia baixar a norma de que os empréstimos às multinacionais fossem depositados diretamente na conta da matriz nos EUA - em Nova Iorque (aliás, New York), Chicago, ou, quem sabe, Yoknapatawpha.

Já que é para isso mesmo que elas vão usar o dinheiro do BNDES, por que não queimar etapas?

Seria muito mais eficiente.

C.L.

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