sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sob a Repsol, YPF teve queda na produção em 8,6 milhões de m3


Desinvestimentos de 1999 a 2011 fez a
produção de petróleo desabar gerando desabastecimento
e forçando a importação


O projeto enviado ao Congresso Argentino pelo governo da presidente Cristina Kirchner, e que será votado na semana que vem, declarou “de interesse público o auto-abastecimento de hidrocarbonetos”. A iniciativa que recuperará para o Estado a direção da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), a partir da expropriação de 51% das ações em poder da Repsol, é apoiada pelos mais diversos setores do país.
 
INTERESSE PÚBLICO
 

A decisão de declarar também de interesse público “as tarefas de exploração, industrialização, transporte e comercialização” de gás e petróleo fica esclarecida pelos números do setor e pela atuação da Repsol na Argentina. “Entre 1998 e 2011, a produção total de petróleo reduziu-se em 15,9 milhões de metros cúbicos, dos quais 8,6 milhões foram responsabilidade da Repsol YPF. Vale dizer que essa empresa foi responsável por 54% da queda de produção de cru, e ainda de 97% da queda da produção de gás”, assinalou a presidente nos fundamentos do texto enviado pelo Executivo ao Parlamento. Durante o ano passado, a multinacional teve vendas de US$ 13 bilhões e 730 milhões. E esse mesmo ano, o Estado teve que importar combustíveis no valor de US$ 9 bilhões e 397 milhões, com um resultado negativo na sua balança energética de 3 bilhões 29 milhões de dólares.
 
A presidente Cristina inquiriu durante a apresentação do seu projeto como a Repsol fez para aumentar suas vendas, se diminuiu sua produção e níveis de reservas. “O senhor Brufau [presidente da Repsol] desenvolveu uma atitude sistemática de boicote da produção local de hidrocarbonetos. Como fazia isso? Pedia que se lhe permitisse vender internamente a preço internacional. Ou seja, se queixava dos preços internos. Fechavam as torneiras e provocavam desabastecimento. Por tanto, forçavam o Governo a importar combustível, que depois vendiam internamente a um preço um pouquinho menor que o internacional, mas maior que o preço de referencia ao que eles deviam comercializar”, explicou o vice-ministro de Economia Axel Kicillof, interventor designado pelo Estado na YPF, junto com o ministro de Planejamento Julio de Vido. A Repsol respondia por 55% do mercado de combustíveis na Argentina.
 
Os dois dirigentes participaram no plenário das comissões de Assuntos Constitucionais, de Orçamento e de Mineração, Energia e Combustíveis do Congresso, onde defenderam a medida de re-nacionalizar a YPF. “A privatização e desnacionalização da maior empresa do país a transformou num instrumento dentro de um grupo transnacional, usado para financiar a expansão internacional desse grupo, à custa do mercado interno e do desenvolvimento do país”, afirmou o ministro De Vido, esclarecendo que durante a ditadura e, fundamentalmente na década de Carlos Menem, esses recursos estratégicos eram considerados commodities e agora “o governo quer uma YPF pujante e não tonta, boba, nem autista. Tem que ser uma ferramenta ativa para o futuro econômico do país”.
 
Na medida em que a Repsol YPF só tem esvaziado os poços e maximizado os lucros exportando a maior parte do petróleo extraído, as províncias petroleiras (associadas na Organização Federal dos Estados Produtores de Hidrocarbonetos –Ofephi: Formosa, Jujuy, Salta, Mendoza, La Pampa, Neuquén, Río Negro, Chubut, Santa Cruz e Terra do Fogo) denunciaram a ameaça que representa a posição dominante dessa multinacional para a soberania energética e o abastecimento. Além da Repsol outras multis exploram hidrocarbonetos no país vizinho.
 
REGALIAS 

A legislação que ainda não foi modificada e as precárias regalias que deixam as multinacionais energéticas (cerca de 11%) provocaram que a Argentina, país auto-suficiente e exportador de petróleo antes da privatização, precisasse aumentar a importação de combustível em 1.618% entre 2003 e 2011.
 
A partir da intervenção da YPF, o Governo começou a investigar o estado patrimonial da empresa, assim como a situação de seus ativos físicos. “A pretensão de Brufau é de obter mais de 10 bilhões de dólares como indenização. Porém, deixaram um desastre na infra-estrutura de produção em várias províncias. Isso terá que ser avaliado. Isso tem o seu custo e deverão pagá-lo. Além disso, a Repsol YPF tem uma dívida de 9 bilhões de dólares, que parece que tentaram passar como investimento”, relatou Kicillof. “Idiotas são os que acreditam que o Estado é estúpido e tem que comprar as ações da empresa seguindo as leis ou regulamentos impostos pela mesma empresa”, constatou o vice-ministro.
 
O governo espanhol – cujo neoliberalismo tem destruído a economia e a vida dos espanhóis – agora tenta identificar os interesses de todos os espanhóis com os da Repsol, e ventila argumentos como o da segurança jurídica para proteger o roubo que se produziu nesses últimos anos.
 
A Repsol detinha 57,5% do valor da YPF, o Grupo argentino Petersen 25,5%, e o capital em bolsa é de cerca de 17%. Só serão expropriados 51% pertencentes a multinacional com sede em Madri.
 
Os governos latino-americanos – a exceção do México – apoiaram a medida. Mesmo no México, o principal líder oposicionista, Lopez Obrador, felicitou a ação da presidente argentina.

SUSANASANTOS 
                                                                                               

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