quarta-feira, 11 de abril de 2012

Dilma critica “política monetária expansionista” dos países ricos

 

Nos EUA, ela disse que essa política derruba o crescimento econômico dos países emergentes

 Em entrevista coletiva concedida na segunda-feira (9), em Washington (EUA), a presidenta Dilma Rousseff criticou a política monetária expansionista praticada pelo governo Obama e também por outros países desenvolvidos. “A conseqüência disso”, afirmou a presidenta, “é afetar aqueles países que estão crescendo”. “As políticas monetárias expansionistas serão políticas bastante nocivas para aqueles países que são, hoje, motor do crescimento econômico internacional”, prosseguiu.

“Ou seja, o ajuste fiscal é preconizado para economias que estão em situação de crise e que há a percepção da fragilidade delas, o mercado percebe como frágeis, e também economias que são superavitárias. Isto tem como consequência apostar só em políticas monetárias expansionistas, que levam a um verdadeiro tsunami monetário”, acrescentou. Segundo Dilma, isso afeta os países emergentes “porque torna as suas moedas mais valorizadas e, portanto, cria uma competição artificial que beneficia os países desenvolvidos em detrimento dos países emergentes”. Essa política “se configura como sendo uma espécie de protecionismo cambial”, denunciou.

“Se tiver uma combinação de política monetária expansionista com política fiscal expansionista, você tem um reequilíbrio. Se, além de emitir moeda, se investir com esse dinheiro nos Estados respectivos, consumindo, investindo, fazendo a economia crescer, você não tem um efeito negativo da expansão monetária”, sinalizou a presidenta. “Se continuar não crescendo, o que vai ter são duas coisas: desvalorização de moedas dos países emergentes e uma outra coisa que é inflação de ativos. Então, vai ter uma situação em que não se cresce e ainda tem inflação”, disse Dilma.
Respondendo sobre a decisão recente dos bancos públicos brasileiros - a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil - de começarem a praticar taxas de juros mais baixas, ela falou que não há explicação para os bancos privados praticarem “taxas de juros tão elevadas”.

Sobre a redução da taxa Selic, Dilma afirmou esperar “que haja um processo de convergência dos juros para as taxas internacionais”. “Espero que isso ocorra. Isso é possível”, acrescentou. “Não há, no mundo (taxas de juros tão elevadas). Até porque, se tem alguém com nível de influência elevado são os países desenvolvidos, não é? E eles praticam juros de 1%, 2%, 3%. Então, a questão dos juros é uma questão, também, de reequilíbrio das condições no Brasil”, avaliou.

Dilma criticou também a especulação com petróleo. “Outro fator que compromete a retomada do crescimento é a elevação dos preços do petróleo em um cenário de restrição da demanda”, alertou. “É estranho que em um cenário de restrição da demanda o preço do petróleo suba. Por que isso? São outros fatores.

Você pode explicar uma parte por fatores geopolíticos e outra parte pelo fato dessa expansão”. Provavelmente a presidenta está se referindo à especulação feita com as emissões sobre ativos, como várias commodities, entre elas, particularmente, o petróleo.

“O aumento do preço do petróleo prejudica até mais os países desenvolvidos, afeta também os países em desenvolvimento e os emergentes, mas, afeta também os países desenvolvidos”, destacou Dilma. Ela lembrou que são duas pressões sobre os países emergentes: uma, o fato de se querer exportar para os países emergentes a crise que é dos países desenvolvidos através da desvalorização de suas moedas, o que os torna mais competitivos no mercado internacional, e segundo, o preço do petróleo.

Questionada se a China não estaria contribuindo também com a expansão monetária no mundo, Dilma disse que não e lembrou que o país que emite moeda usada mundialmente é os EUA. “Sobre a China, eu acho que é diferente”, disse. “A contribuição da China é diferente, até porque a China atrelou sua moeda ao dólar, não é? A moeda chinesa varia quando o dólar varia”, ponderou.

Ao falar da sua conversa com Obama sobre a Cúpula das Américas, e sobre a participação de Cuba no evento - já que os EUA insistem em tentar impedir sua presença - a presidenta Dilma informou que não houve pedido formal de ninguém. “O que houve foi a constatação de que todos os países têm relação com Cuba e que, portanto, esta [cúpula realizada no ano passado] era a última Cúpula em que Cuba não participaria”. “Essa é a posição, vamos dizer, unânime”, frisou a presidenta. Questionada sobre a resposta de Obama, Dilma disse que Obama “não disse nada”. “Ele não tem de responder nada sobre isso. Isso não é uma questão, uma pergunta”, finalizou a presidenta.

SÉRGIO CRUZ

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