sábado, 11 de fevereiro de 2012

A ILUSÃO DA RECUPERAÇÃO ECONÔMICA AMERICANA



PAUL CRAIG ROBERTS*

No dia 27 de Janeiro, o Bureau de Análise Econômica dos EUA anunciou sua estimativa antecipada de que no último trimestre de 2011 a economia cresceu a uma taxa anualizada de 2,8% em termos ajustados à inflação real, um aumento em relação à taxa de crescimento anualizada do terceiro trimestre.

Boa notícia, não é?

Errado. Se quiser saber o que realmente está acontecendo, deve voltar-se para John Williams em http://www.shadowstats.com/ .

O que a mídia não nos conta é que quase todo o ganho no crescimento do PIB foi devido à “acumulação involuntária de estoques”, ou seja, mais bens foram produzidos do que vendidos.
Descontados os bens não vendidos, a taxa anualizada de crescimento real foi oito décimos de um por cento.

E mesmo essa minúscula taxa de crescimento é um exagero, porque está deflacionada com um padrão de medida da inflação que a subestima. A medição da inflação do governo dos EUA já não mede um padrão de vida constante. Ao invés disso, a medida de inflação do governo se baseia na substituição, por bens mais baratos, daqueles que aumentam de preço. Em outras palavras, o governo mantém baixa a medida através da mensuração de um padrão de vida em declínio. Isto permite aos nossos governantes desviarem ajustes do custo de vida que deveriam ser pagos a beneficiários da Seguridade Social para guerras de agressão, estado policial e salvamentos de banqueiros.

Quando a metodologia que mede um padrão de vida constante é utilizada para deflacionar o PIB nominal, o resultado é uma contração da economia dos EUA. Isso torna claro que a economia dos EUA não teve recuperação e tem estado em recessão profunda há quatro anos apesar da proclamação do Bureau Nacional de Pesquisa Econômica de uma recuperação baseada em números oficiais manipulados.

Um governo sempre pode produzir a ilusão de crescimento econômico através da subestimação da taxa de inflação. Não há dúvida de que uma medida de inflação com base nessa substituição subestima a inflação que o povo experimenta. Mais provas de que não tem havido recuperação econômica estão disponíveis naquelas séries de dados não afetados pela inflação.

Se a economia estivesse de fato em recuperação, estas séries de dados estariam a subir. Ao invés disso, elas estão estáveis ou em declínio, como demonstra John Williams.

Por exemplo: segundo os próprios dados do governo, os empregados em folha de pagamento no mês de Dezembro de 2011 são menos do que em 2001. Entretanto, houve uma década de crescimento populacional. A mídia chama à alegada recuperação econômica uma “recuperação sem emprego”, o que é uma contradição em termos. Não pode haver recuperação sem um crescimento no emprego e na renda do consumidor.

Os ganhos reais médios por semana (deflacionados pelo CPI-W do governo) nunca se recuperaram desde o seu pico em 1973. A mediana do rendimento familiar real (deflacionada pelo CPI-U do governo) nunca recuperou o seu pico de 2001 e está abaixo do nível de 1969. Se os rendimentos fossem deflacionados pela sua metodologia original ao invés da nova metodologia baseada na substituição, o quadro seria muito mais negro.

A confiança do consumidor não mostra recuperação e está muito abaixo do nível de uma década atrás. Como é que uma economia se recupera sem uma recuperação da confiança do consumidor?
O início na construção de casas tem permanecido estagnado desde 2009 e está abaixo do seu pico anterior.

As vendas a varejo estão abaixo do nível de Janeiro de 2000.
A produção industrial permanece abaixo do nível de Janeiro de 2000.

Para repetir: o único indicador de recuperação econômica é o PIB deflacionado com uma medida de inflação subestimada.

A economia dos EUA não pode se recuperar, porque depende das despesas do consumidor para mais de 70% da sua atividade.

A transferência para o exterior de empregos da classe média freou a subida do seu rendimento e provocou uma queda no poder aquisitivo do consumidor.

O Federal Reserve sob Alan Greenspan compensava a falta de crescimento da renda do consumidor dos EUA com uma política de crédito fácil e uma política de elevação dos preços das casas com baixas taxas de juros. Esta política permitiu ao povo refinanciar seus lares e gastar o valor inflacionado das casas que a política de Greenspan havia criado.

Por outras palavras, um aumento no endividamento do consumidor e perda da poupança conduziu a economia no lugar do perdido crescimento nos rendimentos dos consumidores.

Hoje, os consumidores estão demasiado endividados para contrair empréstimos e os bancos demasiado insolventes para emprestar. Portanto, não há possibilidade de nova expansão da dívida como substitutivo do crescimento do rendimento real. Uma economia transferida para o exterior é uma economia morta e exaurida.

As consequências de uma economia morta quando o governo está desperdiçando trilhões de dólares em guerras de agressão descarada e em salvamentos de instituições financeiras fraudulentas é um orçamento de governo que só pode ser financiado através da impressão de dinheiro.

A consequência de imprimir dinheiro quando os empregos foram transferidos para o exterior é uma depressão inflacionária. Esta catástrofe pode começar a desdobrar-se este ano ou em 2013. Se os problemas da Europa piorarem, a fuga para o dólar poderia adiar subidas na inflação dos EUA até 2014.

O imperador não tem roupas. Mais cedo ou mais tarde isto será reconhecido.

*Paul Craig Roberts foi subsecretário do Tesouro no governo Reagan e editor do Wall Street Journal.

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