sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ATRELAMENTO DO JAPÃO AOS EUA FAZ PIB DESABAR E PLD PERDE ELEIÇÃO

Partido Democrático do Japão conquistou 2/3 dos votos nas eleições legislativas com a proposta de trabalhar pela independência do país
Dentro de alguns dias assumirá como Primeiro-Ministro do Japão, Yukio Hatoyama, presidente do PDJ – Partido Democrático do Japão - que venceu com 2/3 dos votos as eleições legislativas no dia 30 de Agosto passado, derrotando o PLD – Partido Liberal Democrata, há 55 anos no poder.
O Japão, com um crescimento econômico pífio há décadas, foi profundamente atingido pela crise iniciada nos EUA. Até agora o atual governo do PLD nada fez para enfrentá-la e impedir que ela degradasse as condições de vida dos japoneses. Nas últimas eleições, o PLD e seu governo foram identificados como os responsáveis pelo desemprego record – um milhão e trezentos mil a mais do que em julho do ano passado, e que atinge majoritariamente aos jovens.
A crise que o conservador PLD não enfrentou, provocou a falência de muitas empresas, a redução dos salários, o aumento das horas trabalhadas, e obrigou grande parcela dos trabalhadores a reduzirem os gastos com alimentação, transporte, educação e habitação. Muitos passaram a morar nas ruas e nas estações subterrâneas do metrô.
O PDJ, durante o processo eleitoral, propôs-se a enfrentar essa situação e reduzir a precariedade da vida da maioria do povo, “fazer um governo para melhorar a vida dos cidadãos”, auxílio para as famílias pobres e com crianças pequenas, auxílio aos idosos, subsídios à agricultura em particular aos produtores de arroz que são, na sua maioria, idosos e pequenos fazendeiros-camponeses, fim dos pedágios nas rodovias. Sagrou-se vitorioso, conquistando 308 das 480 vagas de deputados na Câmara Baixa, interrompendo 55 anos de desmandos internos e submissão do PLD aos EUA.
A proposta de mudança na política de aliança com os EUA a partir de atitude mais altiva “numa relação entre iguais” galvanizou os jovens e idosos elevando o nível da participação desses setores nas eleições. Eles votaram pelas mudanças, para derrotar o PLD, acreditando nas promessas de campanha do vitorioso PDJ.
SERVILISMO
Vale pensar que não deve ter sido fácil para a população japonesa conviver com o servilismo do governo do Japão aos EUA, depois de receber deles, com a II Guerra Mundial já terminada, duas bombas atômicas que dizimaram as populações civis de Hiroxima e Nagasaki. Que necessidade tinham os EUA de atirar bombas atômicas em um Japão já derrotado além de afirmar o poderio norte-americano no pós-guerra, nas disputas da Guerra Fria? Não foi fácil para esse povo conviver com 55 anos de submissão e dependência de seu país e de seu governo ao seu principal agressor – os EUA. Foram milhares de mortos, feridos e doentes que por anos a fio sofreram as consequências da radiação nuclear.
O governo do PLD fez da aliança com os EUA o principal pilar de sua política externa e de segurança. No quadro dessa aliança, coube aos EUA ‘proteger’ o Japão com seu guarda-chuva nuclear em detrimento das relações do país com seu continente, a Ásia, e com o resto do mundo. Além de permitir em seu território as bases militares nucleares norte-americanas, afrontando o sentimento nacional, desconhecendo a mágoa de seu povo com seus agressores covardes e afrontando a própria constituição, que, pelos seus ‘três princípios anti-nucleares’, proíbe o Japão de possuir, fabricar ou importar armas nucleares.
Exatamente para manter a submissão aos EUA e contar com seu apoio para desenvolver um programa nuclear, o PLD reclamava tanto a revogação dos ‘três princípios’ da constituição. O que sempre contou com a oposição do PDJ, cuja vitória para o povo japonês, significa “o anúncio de uma nova era”, como afirmou em artigo o jornal Asahi Shimbun.
O PDJ terá de se esforçar para, num momento de crise, a pior recessão desde a II Guerra Mundial, vencer as pressões dos monopólios e da mídia cevada pelo PLD durante 55 anos, e colocar em prática suas propostas de campanha, que implicam no aumento dos gastos sociais do governo e na redução do favorecimento ilícito dos monopólios com o dinheiro público.
Hatoyama afirmou, divulgado pelo jornal econômico japonês Nihon Keizai Shimbun, que o novo orçamento, para ser aplicado a partir de abril de 2010, será todo refeito desde o começo e que o que foi feito pelo PLD, de nada serve. Ele assumirá o governo com o país no vermelho e com a responsabilidade de atender a expectativa popular gerada pela campanha e pela vitória eleitoral sem precedentes no país.
DÉFICIT
Em razão de uma redução de 16,4% nas exportações, o comércio exterior mostra no biênio 2008/2009 um déficit de 725,3 bilhões de Yens ou 5,67 bilhões de euros. E esse é o primeiro déficit no comércio exterior registrado pelo Japão nos últimos 28 anos, apontou o jornal japonês Yomiuri Shimbun.
As exportações para os EUA recuaram em 27,2% e as vendas para a China reduziram-se em 9,8%. O último relatório do FMI prevê para o Japão um crescimento negativo de 6% esse ano. O déficit público está na casa dos 170% do PIB.
O novo Primeiro Ministro anunciou que governará em coalizão com outros dois pequenos partidos, o Partido Social Democrata e o Novo Partido do Povo. Ele divulgou alguns nomes que formarão seu ministério. O do ex-ministro da saúde Naoto Kan, que será o seu vice-primeiro ministro e coordenará o recém criado ‘Escritório Nacional de Estratégia’ com a responsabilidade de cuidar do novo orçamento, de políticas estratégicas, e da desburocratização. Catsuya Okada, Secretário Geral do PDJ, que será o Ministro de Relações Exteriores e terá a missão de cumprir a promessa de campanha de dotar o país de “uma política externa mais independente dos EUA e com o olhar mais voltado para a Ásia”.
ROSANITA CAMPOS

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