domingo, 1 de fevereiro de 2015

Grécia tem pressa em se livrar do desmonte e privataria sob a Troika


 
O governo Tsipras prioriza o enfrentamento da crise humanitária gerada por anos de arrocho; brecar a privatização da infraestrutura e renegociar a dívida
A Grécia tem pressa em deixar para trás a devastação e submissão sob a Troika, e o novo governo grego da Coalizão de Esquerda Radical Syriza em aliança com os Gregos Independentes, e liderado pelo premiê Aléxis Tsipras, anunciou, já no terceiro dia no poder (quarta-feira, 28), a suspensão das privatizações da estatal de eletricidade PPC, da Petróleo Helênico (refinarias/petroquímica e usina térmica), das operadoras de ferrovias Trainose e Rosco, dos dois maiores portos do país, Pireus e Tessalônica, assim como aeroportos, estradas e outros bens públicos, prestes a serem entregues a preço de fim de feira.
“Vamos parar imediatamente qualquer privatização da PPC”, afirmou o ministro da Reconstrução Produtiva, Panagiotis Lafazanis, acrescentando que será implantado um novo modelo no setor, para que o preço da energia é gás seja mais acessível. Ele reiterou o compromisso do Syriza em proporcionar eletricidade gratuita a 300 mil famílias que não têm como arcar com a conta e estão no escuro. Já o vice-ministro Thodoris Dritsas afirmou que a entrega do porto de Pireus à corporação chinesa Cosco “será revista em benefício do povo grego”.
A suspensão da privatização dos aeroportos também foi comunicada pelo ministro substituto Christo Spirtzis – só a alemã Franport já contava com adonar-se de 14 aeroportos regionais. O novo enfoque, ressaltou o ministro, “é parar a privatização da infraestrutura que proporciona serviços e ajuda no crescimento do país”. “As prioridades são os programas e investimentos públicos, de forma que sirvam à reconstrução produtiva do país”.
Em Berlim, o ministro da Economia, o social-democrata Sigmar Gabriel, chiou, dizendo que o governo do Syriza tinha que ter consultado os credores sobre o fim das privatizações. Chamando cinicamente os banqueiros alemães que pilharam a Grécia de “cidadãos de outros euroestados que têm o direito de ver que os acordos ligados aos seus atos de solidariedade são mantidos”, o ministro germânico ameaçou a Grécia, dizendo que “seria a solução errada” esta sair do euro, mas que Atenas é que tinha de “decidir”. Aliás, Frau Merkel levou 36 horas para telefonar para Tsipras pela vitória, depois que quase todo mundo já o havia feito, como a Rússia, a China, a França e até Obama.
Assim, o novo governo começa muito bem – já tendo antes anunciado a restauração do salário mínimo para 751 euros, o que corresponde a aumento de 30% sobre o salário arrochado para 580 euros em 2012. Agora, o ministro substituto Yannis Panousis, responsável pela Proteção do Cidadão e Ordem Pública, determinou – e já foi cumprida – a remoção das grades de ferro em frente do parlamento que visavam impedir os protestos contra a “austeridade” neoliberal.
Uma das quatro prioridades do novo governo é enfrentar a crise humanitária que aflige o país, com mais de 40% da população – 4,5 milhões - jogada abaixo da linha de pobreza. Além desta, há a renegociação da dívida, a recuperação econômica, a justiça fiscal e o fim da evasão de impostos pela oligarquia e monopólios. O ministro substituto da Saúde, Andréas Xanthos, anunciou a revogação da taxa de cinco euros nos hospitais públicos e de um euro por receita, que forçaram tanta gente a depender de clínicas para indigentes, que antes praticamente só atendiam imigrantes. Estudo da prestigiosa revista inglesa Lancet sobre a crise da saúde na Grécia debaixo da austeridade revelou que quase 3 milhões ficaram sem assistência médica; as mortes por suicídio aumentaram 45%; a taxa de pobreza infantil aumentou 50%; e o número de bebês natimortos cresceu 21%.
Por sua vez o ministro substituto dos Fundos Sociais, Dmitris Stratoulis, anunciou o fim dos cortes nas aposentadorias e a restauração da “13ª pensão” para os que recebem menos de 700 euros por mês. Já os camponeses inativos voltarão a receber 360 euros mensais da seguridade. Outros setores que foram penosamente prejudicados pelos ditames da Troika, como os servidores públicos demitidos de forma arbitrária ou postos em disponibilidade – há cerca de 10 mil, entre professores, guardas escolares, pessoal da limpeza e outros – terão seus casos revistos, segundo o ministro substituto da Reforma Administrativa, Giorgos Katrougalos. 320 faixineiras, cuja demissão foi considerada inconstitucional por um tribunal, serão readmitidas imediatamente.
Já Tasia Christodoulopoulou, ministra substituta para a política de Imigração, anunciou que os filhos de imigrantes nascidos e criados na Grécia terão assegurada a nacionalidade grega. Parece uma coisa óbvia – mas até hoje não ocorria. Aos leitores que estão curiosos sobre essas figuras de “ministro substituto” e “vice-ministro”, são parte da decisão do Syriza de montar um governo compacto, com dez ministros, mais responsáveis por áreas correlatas, capaz de gerenciar a crise. Aos seus ministros, Tsipras aconselhou-os a um comportamento “frugal” e a combater todo o desperdício e privilégios. O economista Yanis Varoufakis, conhecido crítico do neoliberalismo e da Troika, foi nomeado ministro das Finanças, e outro respeitado economista, Nikos Dragasakis, tornou-se vice-primeiro-ministro. A Defesa coube ao líder dos Gregos Independentes, Panos Kammenos, enquanto, para a diplomacia, o nome escolhido foi Nikos Kotzias.

ANTONIO PIMENTA
http://www.horadopovo.com.br/

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