sábado, 20 de outubro de 2012

Presidente do BC de FH eleva juros a 45% e agora protesta contra juro baixo


As recentes declarações do sr. Armínio Fraga contra a queda dos juros, considerando os cortes feitos pelo Banco Central (BC) na taxa básica de juros como “preocupantes” - e, claro, agitando o surrado espantalho da inflação como ameaça – não demandam explicações muito sofisticadas.

Fraga, hoje, é sub-mandachuva do Gávea Investimentos, fundo do JP Morgan Chase, o maior banco norte-americano. Antes, fora empregado do sr. Soros e do Salomon Brothers, em Wall Street.

Quando nomeado presidente do BC por Fernando Henrique, em março de 1999, sua primeira medida foi aumentar a Selic, então transformada em taxa básica de juros, de 25% para 45%. Na época, o mesmo jornal em que ele agora exibe a sua sapiência econômica publicou o seguinte comentário:

“... não há nenhuma explicação lógica para a pretensa política econômica adotada no país (...). Ou há? Uma política que agora eleva novamente as taxas de juro para 45%, a pretexto de 'esfriar' a economia para combater a 'volta da inflação', apesar de todas as estatísticas mostrarem que a economia já está 'gelada'? Por que os juros altos? Quem ganha?

No mesmo artigo:

“... os bancos que operam no Brasil (…) obtiveram resultados que, possivelmente, nunca ocorreram em lugar nenhum do mundo. Houve lucros de 100%, ou 200%, ou 300%, isto é, esses bancos duplicaram, triplicaram ou multiplicaram por quatro o seu patrimônio líquido. Em um mês. No total, 181 bancos lucraram R$ 3,3 bilhões. Em um mês. Praticamente o dobro dos lucros que eles registraram em 1998, de R$ 1,8 bilhão. Em um ano.” (Aloysio Biondi, FSP, 06/03/1999).

[Só de passagem, não deixa de ser característico da inteligência de certos meios que um sujeito que fracassou como especulador (o fundo Soros que administrava foi à falência) e nas supostas funções de presidente do BC (quando saiu do cargo, no final de 2002, a inflação estava fora de controle), seja tratado como autoridade em alguma coisa, ainda que muito mal definida. Não estamos nos referindo ao seu cargo de presidente do conselho da Bovespa, embora, que pode ser um risco para os investidores, lá isso é...]

Continuando, não é para estranhar que a conversa de Fraga seja exatamente a mesma de mais de 13 anos atrás. Tudo muda, menos a ganância de um preposto de grandes bancos norte-americanos pelo dinheiro dos outros, isto é, pelo dinheiro público – e é bom lembrar que apesar de uma redução no mesmo ano, em 1999, o governo Fernando Henrique passou aos bancos, em média, por seus papéis, a estonteante taxa real de juros de 16,65% a.a. - uma taxa real de juros que é 9,8 vezes a atual (cf. Marcelo de Oliveira Passos, “Taxa real de juros 1960-2008”).

Na entrevista de agora, diz Fraga:
“... as projeções [da inflação] para o ano que vem continuam acima de 5%. (…) Essas últimas reduções [de juros] estão preocupando. (…) Não ficou muito claro o porquê do último corte [em setembro]. Mais um neste momento requer uma certa explicação do Banco Central. Alguma coisa que nos leve a crer que a inflação vai convergir para a meta, que é 4,5%. A meta não é 5,2%. É 4,5%”.

Projeções de inflação com 14 meses de antecedência deveriam ser chamadas de chute ou conto do vigário. Mesmo assim, 5,2% não é lá grande coisa – o que deve estar errado, como sempre, é o 4,5%, que serve apenas de pretexto para aumentos de juros (ou para a outra forma de aumentar o juro real - o ganho dos bancos - alargando a diferença entre a taxa de inflação e a taxa de juros pela diminuição da inflação, à custa de destruir a economia).

Porém, não é verdade que a meta de inflação para 2013 seja 4,5%. A meta é uma banda que vai de 2,5% a 6,5%. Fraga sabe muito bem disso, pois, em 1999, após aumentar astronomicamente os juros, foi ele quem estabeleceu esse sistema de metas de inflação, sempre com metas irreais para beneficiar os bancos. Os 4,5% citados por Fraga são “o centro da meta”, critério que ele mesmo jamais levou em consideração quando era presidente do BC:

1999: a) meta: 6% a 10%; b) centro da meta: 8%; c) inflação efetiva (IPCA): 8,9%.
2000: a) meta: 4 a 8%; b) centro da meta: 6%; c) inflação efetiva (IPCA): 6%.
2001: a) meta: 2% a 6%; b) centro da meta: 4%; c) inflação efetiva (IPCA): 7,7%.
2002: a) meta: 1,5% a 5,5%; b) centro da meta: 3,5%; c) inflação efetiva (IPCA): 12,5%.

Com uma exceção (2000), em todos os anos em que Fraga foi presidente do BC, a inflação ficou longe do centro da meta – e até fora da meta. No entanto, ele acha que pode exigir da presidente Dilma esse resultado, que seria o garroteamento letal da produção e do emprego no país, pois todo mundo sabe o que Fraga propõe para chegar ao “centro da meta”. Aliás, ele mesmo diz: “... a melhor coisa que o Banco Central pode fazer pelo crescimento é preservar uma taxa de inflação baixa e estável. (…) Acredito, ao contrário de muitos colegas economistas, que (…) ele [o BC] vai aumentar os juros”.

Quase em seguida, vem:

É possível que o Brasil passe por um período de vários anos importando poupança. Se o investimento [estrangeiro] começar a crescer, não deve surpreender a ninguém que o déficit em conta corrente aumente um pouco”.

Em suma, o objetivo, além de ganhar os tubos com os juros sobre o Tesouro, é desnacionalizar mais o país – mandando, como ele reconhece, as contas externas para o espaço, com um cerco de “credores”, isto é, especuladores em torno do país.

Note-se que o mesmo elemento acha que “há muita crítica dos bancos privados de que o spread está mal medido”, em outras palavras, são injustas as críticas aos bancos – inclusive às da presidente Dilma – por seus juros extorsivos.

O que deve ser cortado são as despesas públicas (“como está funcionando o sistema de saúde? A educação? Há espaço pra cortar?”), exceto àquelas, adivinhem - pois é -, com juros: “quando as coisas vão bem, se deveria ter também um [superávit] primário maior (...). Sempre tive simpatia por essa ideia”).

Temo que o leitor ache que estamos falando demais sobre esse escroque. Mas é que a alternativa – chamar a polícia – ainda não está disponível.

CARLOS LOPES



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