domingo, 30 de setembro de 2012

Um relatório levanta o véu das desigualdades do modelo alemão


HUGO FRANSSEN*

Hoje metade dos alemães não tem direito a mais que 1% das riquezas do país. O modelo alemão é um verdadeiro abismo social como demonstra um relatório sobre a pobreza e a riqueza publicado essa semana pelo Ministério dos Negócios Sociais alemão.
Jamais na história foi tão grande a divisão entre a elite rica e o povo. É esse modelo que os políticos querem tomar como modelo para a Bélgica.

Entre 1992 e 2012 o patrimônio líquido do Estado alemão foi reduzido em mais de 800 bilhões de euros. Paralelamente o patrimônio líquido privado dobrou passando de 4,6 para praticamente 10 trilhões de euros. As medidas de salvação tomadas com o objetivo de sair da crise financeira e econômica resultaram "um deslocamento das dívidas e recebíveis privados para as contas públicas", indica claramente o relatório. Não é, portanto, surpreendente que as comunidades e os Estados Federados alemães estejam presos nas dívidas e que os "caixas vazios" comprometam seriamente as pensões.

O relatório insiste, sobretudo, sobre a "repartição muito desigual dos patrimônios privados". A parte que possui os 10% dos mais ricos "não tem parado de aumentar", passando de 45% do total das riquezas em 1998 para 53% em 2008, enquanto 50% da população fica com apenas 1% do total das riquezas (esse percentual era de 4% em 1998).

O relatório constata igualmente importantes desigualdades no que se refere a evolução dos salários. "Os altos salários (dos grandes executivos) fixaram uma tendência positiva de alta enquanto 40% dos assalariados, dos que trabalham em tempo integral, os mais mal pagos, viram seus salários diminuírem.

Trata-se aqui, segundo o relatório, "duma evolução que bate na porta do sentimento de equidade da população." No início dos anos 1970 a parte dos salários e alocações representava 72% dos ganhos da população. Em 2008 a parte dos salários auferidos não passava de 62%.

Todos esses números são oficiais. Ninguém o contesta e sua publicação tem feito muito barulho. O Financial Times Deutschland tentou moderar os efeitos do relatório argumentando que se deveria acentuar sobre a "igualdade de oportunidades" e sobre a "responsabilidade pessoal" mais que reclamar um imposto sobre a fortuna. Para Gustav Horn, diretor do Institut für Makroökonomie und Konjunkturforschung (IMK), "Os debates sobre a instauração de um imposto sobre as fortunas e a criação de um salário mínimo legal na Alemanha são de uma importância capital no que se refere a busca de uma maior equidade e um maior dinamismo econômico".

No próximo dia 29 de setembro "UmFAIRteilen" (Redistribuição Equitativa), uma frente que reúne 40 organizações sociais e sindicais organiza uma jornada de ações (teatro de rua, cantores, atividades culturais, etc.) em várias cidades alemãs para levar a compreensão de onde se encontra o dinheiro. Efetivamente seria ingenuidade crer que eles (o governo) vão poder continuar a aplicar sua "redistribuição" moderna, aquela onde tudo vai dos pobres para os ricos sem ser incomodados.

* Artigo publicado no jornal Solidaire de Bruxelas

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