domingo, 30 de setembro de 2012

“Projeto Volks” contra CLT é para empresas externas reduzir salário

Monopólios alemães só querem aumentar suas remessas de lucros para as matrizes em crise

A Volkswagen e outros monopólios alemães usam alguns sindicalistas – certamente ingênuos – para apresentar um projeto ao governo que reduz, quando não acaba, os direitos trabalhistas da CLT. O interessante é que, durante anos, Getúlio Vargas foi acusado falsamente de copiar Mussolini na CLT – para agora chegarem à conclusão de que as leis de Getúlio são demasiado à esquerda...

Apesar da declaração enfática da presidente Dilma de que, em seu governo, os direitos dos trabalhadores são intocáveis, o ministro Gilberto Carvalho aceitou “discutir” tal proposta, assim como “analisar” um certo “Programa Nacional de Estabilização e Manutenção do Emprego e Renda”, que não é mais do que usar o FGTS para que as empresas externas reduzam os salários.

A patente desse projeto é, declaradamente, alemã. Diz uma nota sobre a reunião com o ministro:

Ficou acertado que um grupo de trabalhadores, representantes do governo e de empresários visitará a Alemanha, no final de setembro, para conhecer os detalhes do projeto que inspirou a iniciativa local. 'Essa viagem é um avanço na área de proteção ao emprego no Brasil', disse Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. 'É a primeira vez na história deste país que uma delegação tripartite vai em missão oficial conhecer uma experiência bem-sucedida de combate ao desemprego.'

“A primeira vez na história”?! “Experiência bem-sucedida de combate ao desemprego”??!!

Vejamos esse texto alemão, que saiu há pouco tempo na Deutsche Welle:

O elevado índice de desemprego parece ter paralisado a Alemanha. Todas as pessoas conhecem pelo menos alguém que se encontra nesta situação. Isso gera uma insegurança muito grande. Ninguém mais se sente seguro e o pensamento 'serei eu o próximo?' aflige a todos.

Onde será que o Nobre ouviu falar em “experiência bem-sucedida de combate ao desemprego”? Quem foi o vigarista da Volkswagen que o enganou?

Esses sindicalistas foram atraídos a Frankfurt, Alemanha, para, segundo informa nota da Força Sindical do dia 25, “conhecer as experiências de proteção ao emprego e renda desenvolvidas naquele país. Estas medidas estão em debate no Brasil entre o movimento sindical e governo” (grifo nosso).

Que medidas são essas que estão em debate com (ou no) governo?

Segundo Sérgio Luiz Leite, primeiro-secretário da Força Sindical, “sindicatos, empresas e governo podem negociar a redução da jornada de trabalho com redução de salário e o governo arca com os custos, através de um fundo (…) formado pela contribuição de empregados e empregadores” (grifo nosso).

Ou, disse o secretário de relações sindicais da mesma central, Geraldino dos Santos Silva, “acreditamos ser possível manter um fundo que sustente total ou parcialmente a renda dos trabalhadores que sofreram redução dos salários” (grifos nossos).

Nem precisa cobrir totalmente a redução de salário. Basta “parcialmente”.

A nota informa que os sindicalistas se reuniram com a ministra do Trabalho da Alemanha (por sinal, uma aristocrata pertencente à alta nobreza da Baixa Saxônia, Ursula Gertrud von der Leyen, também vice-presidente do partido de direita que está no governo – assim é o ministério do Trabalho no governo Merkel, uma monarquia com feudo e baronesa).

Diz o primeiro-secretário da Força Sindical que “... fomos informados da disposição do Ministério do Trabalho Alemão em estabelecer uma parceria Brasil/Alemanha para trocar experiências em medidas de proteção ao emprego, negociações coletivas e organização sindical nos locais e trabalho”.

A Alemanha, há bastante tempo, é um dos países mais atrasados do mundo no quesito relações de trabalho. Nem mesmo salário mínimo existe naquele país. Aliás, nem país existe muito na Alemanha, ocupada pelos norte-americanos há quase 70 anos.

O violento achatamento salarial dos últimos 10 anos, quando as leis trabalhistas, que já eram ruins, foram pioradas, está na base da atual crise alemã – e na base do seu, cada vez mais horrendo, desemprego. Isso também é verdade nos demais países da União Europeia, mas, evidentemente, o fulcro da crise na Europa não é a Grécia ou Portugal, nem a Espanha, Itália ou Irlanda. O fato de que a Alemanha conseguiu, em parte, descarregar a crise sobre outros países, apenas torna sua situação mais grave com o tempo, pois isso significa que matou as galinhas dos ovos de ouro que explorava.

Se há um país que poderia aprender muito com o Brasil na questão das relações de trabalho é, positivamente, a Alemanha. Até porque, se o presente é ruim, a sua tradição passada é pior...

Porém, há algo incongruente.

No momento atual, nós não temos problema – pelo menos agudo – de desemprego. Por que, então, sindicalistas brasileiros foram conhecer as medidas supostamente contra o desemprego que o governo e as empresas alemãs (a rigor, os monopólios alemães) querem aplicar aqui, se não há desemprego?

O que esses monopólios realmente querem é reduzir os salários dos que trabalham em suas filiais no Brasil. Estão se lixando para o desemprego. O que, aliás, é claro pelas declarações dos sindicalistas, que não deviam tratar com tanta naturalidade a redução dos salários de trabalhadores. Não somente porque redução de salários jamais impediu o desemprego – pelo contrário, reduzir salários é um incentivo ao desemprego: ao estreitar o mercado interno, causa mais desemprego.

Mas, falam em fazer o Estado pagar pelas multinacionais a parte do salário que elas deixariam de pagar. Se fosse isso, seria uma doação de dinheiro do povo brasileiro para empresas e países estrangeiros.
No entanto, pretende-se usar parte do FGTS - ou seja, dinheiro dos próprios trabalhadores, que pagariam pela parte dos salários que as empresas alemãs deixariam de pagar. Com essa lógica, dentro em breve alguém proporá que os trabalhadores paguem às empresas para trabalhar. Com isso, as empresas ficariam mais competitivas...

Esses sindicalistas nem repararam que no Brasil não há crise de desemprego... A redução salarial serviria apenas para aumentar os lucros das empresas, justamente o que querem os monopólios alemães, cujo grande problema, na crise que provocaram e em que se atolaram, é aumentar a remessa de lucros de suas filiais para as matrizes. Considerando que suas filiais na Europa estão falidas pela própria pilhagem que perpetraram em outros países, a galinha dos ovos de ouro que resta é o Brasil.

CARLOS LOPES

Nenhum comentário: