domingo, 15 de março de 2015

Ressurgência nuclear: Produção de urânio no país tem queda de 72% em 2014


01/04/2013 03h30

O setor atômico brasileiro andava tomado pela modorra, nos últimos anos, até uma saraivada de demissões na estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). De uma só vez, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, destituiu o presidente da empresa e mais três diretores.




Esses executivos eram remanescentes do tempo em que o PSB comandava a área científica --entre outros ministros, o partido teve na pasta o atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Como ele hoje ensaia uma pré-candidatura à eleição presidencial de 2014, as demissões foram de pronto interpretadas como retaliação do Planalto a sua possível defecção da base de apoio ao governo.

Há mais razões por trás da medida drástica, porém. A INB não tem conseguido intensificar a produção de combustível nuclear para as usinas termelétricas de Angra dos Reis (RJ) no ritmo desejado pelo governo federal. Já se dá como certo que Angra 3 trabalhará com urânio enriquecido importado, quando o plano era alcançar a autossuficiência em 2014.

A mudança na direção da estatal serviria para dotá-la de gestão mais eficiente, baseada no cumprimento de metas preestabelecidas. Não se deve esquecer, porém, que a INB foi vítima de sucessivos contingenciamentos de suas dotações orçamentárias --em 2012, a estatal recebeu apenas 65% dos R$ 800 milhões previstos.

A energia elétrica de fonte nuclear figurou com proeminência no planejamento energético do período Lula, que previa a construção de quatro a oito usinas. Perdeu destaque, contudo, sob Dilma Rousseff --sobretudo após o acidente de março de 2011 em Fukushima, Japão. Por ora, só está garantida a conclusão de Angra 3, em 2015.

Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", as alterações na INB fazem parte de uma pretendida reforma geral do setor nuclear. A boa notícia é que se cogita ressuscitar a proposta de uma agência reguladora para a área, separando a função de fiscalização --que ficaria a cargo do novo órgão-- da de fomento à atividade nuclear.

Ambos os papéis são hoje desempenhados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). O acúmulo implica um conflito potencial de interesses que já criou objeções ao modelo do Brasil no plano internacional.

Em 2008 já se falava no Planalto em criar essa agência independente, mas a ideia, promissora, não avançou. Se prosperar, agora, que seja o primeiro passo para dar mais eficiência e governança ao uso do potencial nuclear do país.
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Plano prevê maior produção de urânio no país
09/07/2013 03h00

Responsável pelo monopólio da cadeia do urânio, a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) estabeleceu metas para ampliar a produção nacional nos próximos cinco anos.
O presidente Aquilino Senra diz que apresentará até agosto um plano plurianual ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, pasta à qual a INB está vinculada.
"Queremos evitar a importação de urânio, como tivemos de fazer em 2012 para a primeira parte do carregamento da usina de Angra 3."
Editoria de Arte/Folhapress

Uma das prioridades é iniciar o processo de licenciamento de uma nova área de mineração em Caetité (BA) --atualmente, só é explorada no país a chamada lavra 13, no mesmo município.
A meta é inaugurar em 2015 a lavra 9, que renderia mais 350 toneladas ao ano. É quase o total da produção em 2012 (383 toneladas).
A INB espera receber neste ano aval para aprofundar a exploração da lavra 13, com a expectativa de conseguir outras 380 toneladas anuais.

O licenciamento é feito pelo Ibama e pela Comissão Nacional de Energia Nuclear.
Até 2017, a meta é implantar a exploração no município cearense de Santa Quitéria, onde o urânio é encontrado associado ao fosfato.

"Nós tivemos de desenvolver tecnologia para fazer a separação e vamos entregar em agosto os documentos para o licenciamento", diz Senra.

O investimento de cerca de US$ 350 milhões será feito por uma companhia privada, que ficará com o fosfato.

O plano plurianual deve apresentar ainda projetos para o beneficiamento do urânio e para etapas do ciclo do combustível nuclear.
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Produção de urânio no país tem queda de 72% em 2014
10/03/2015 03h00

A produção nacional de urânio registrou, em 2014, o seu pior desempenho dos últimos dez anos, segundo as Indústrias Nucleares do Brasil, que detêm o monopólio da exploração de toda a cadeia do mineral no país.

No ano passado, foram extraídas 67 toneladas de urânio, um decréscimo de 72% em relação ao ano anterior.

Na comparação com 2005, o recuo foi de 48%.
A produção diminuiu em razão do esgotamento da lavra 13 –única em operação no país–, localizada no polo do produto, em Caetité (BA).

Daniel Marenco/Folhapress


Aquilino Senra, presidente da companhia nuclear

"Nossa meta era aprofundar em mais 20 metros a captação na lavra para obtermos o último extrato do mineral a céu aberto. Por risco de desmoronamentos, preferimos não seguir adiante", afirma Aquilino Senra, presidente da companhia. A operação, segundo o executivo, também seria duas vezes mais cara.

Só o município baiano concentra 38 lavras que, juntas, têm uma reserva estimada de 100 mil toneladas de urânio.
A empresa aguarda licenciamento ambiental há oito anos da lavra 9, também de Caetité, para iniciar uma exploração ainda inédita no país: a do tipo subterrâneo.

"Temos que comprovar que teremos total controle na emissão dos gases radioativos e isso leva tempo", diz.

"A mina tem o potencial de gerar 360 toneladas do mineral e poderá ajudar o Brasil a ser autossuficiente", afirma.

Enquanto aguarda o licenciamento, a companhia utiliza o produto estocado.
O urânio abastece as usinas Angra 1 e 2, responsáveis por 3% da matriz energética.

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