sexta-feira, 6 de julho de 2012

Dívida dos estudantes dos EUA ultrapassa 1 trilhão de dolares




No país onde até as faculdades públicas cobram anuidade, os empréstimos para financiar estudo universitário já superam até mesmo a dívida com cartões de crédito e com financiamento de veículos


Nos EUA, país onde até as faculdades públicas são cobradas, os empréstimos para pagar a universidade já ultrapassam o US$ 1 trilhão, superando até mesmo a dívida com cartões de crédito e com o financiamento de veículos. E o total de estudantes que contraíram débitos cresceu mais de 60% nos últimos cinco anos. Na semana passada, faltou pouco para que a situação se tornasse ainda mais crítica, com o Congresso só votando no último minuto – a data limite era 1º de julho – para não dobrar o juro dos empréstimos federais, que foi mantido em 3,4%. Parte dessa dívida é direto com os bancos privados, a juros ainda maiores.

Isso acontece quando o desemprego entre os recém formados está batendo o recorde de todos os tempos. Ao terminar o curso, dentro de seis meses o formando tem de começar a pagar a dívida, e aí a coisa se complica. De acordo com o “New York Times”, aproximadamente um de cada 10 estudantes que tomaram esses empréstimos e que começaram a pagar em 2009 ficou inadimplente dentro de dois anos – o dobro da taxa de 2005. Ainda segundo o NYT, “graduados e mais graduados contam histórias de deverem tanto dinheiro no crédito estudantil que eles estão gastando metade do seu salário mensal nos pagamentos”. Esse é o modelo de ensino superior que a ditadura e o Mec-Usaid queriam implantar no Brasil nos anos 60, e que Pinochet impôs no Chile, onde centenas de milhares de estudantes vêm se manifestando hoje nas ruas para exigir a volta do ensino público e gratuito.

Já há quem compare esse crescimento da dívida para pagar universidade nos EUA com a bolha das hipotecas. Essa descomunal dívida abrange, de acordo com o Federal Reserve de Nova Iorque, 37 milhões de pessoas, o que representa uma dívida média de pouco mais de US$ 27 mil. Mas que pode chegar a muito mais: é freqüente que estudantes terminem o curso com dívidas de US$ 50.000, US$ 80.000 e até mais de US$ 100.000.

Apenas alguns exemplos, pinçados dos jornais norte-americanos. “Mary Worthy, 22, depois de três anos na Universidade Estadual de Michigan, estima que já tenha mais de US$ 30.000 de dívida”. “Sean Doerr, 22, de Detroit, estudante de fotografia da Faculdade para Estudos Criativos, que está se formando com uma dívida de quase US$ 87.000”. “Estudante de direito de primeiro ano Lauren Adams, 25, disse que deverá cerca de US$ 135.000 quando se graduar”. “Kelsey Griffith, que se formou no domingo na Universidade Ohio Northern. Para começar a pagar sua dívida estudantil de US$ 120.000, ela já está trabalhando em dois restaurantes e irá deixar o apartamento onde vive para morar com seus pais”. “Chelsea Grove, que abandonou os estudos na Universidade Estadual Bowling Greeen e deve US$ 70.000. ‘Vou ficar pagando isso para sempre’”.

No ano passado, a organização Move.on, que jogou um importante papel para a eleição de Barack Obama, organizou um abaixo-assinado na internet em favor de algum tipo de perdão para a dívida estudantil e obteve 650 mil adesões. No chamado “Dia do 1 Trilhão de Dólares” – o dia em abril deste ano em que o débito estudantil alcançou essa assombrosa quantia – o movimento Occupy Wall Street realizou manifestações denunciando a situação vivida pelos estudantes. Universitários foram às ruas com placas com o valor do débito que já têm antes mesmo de praticar por um só dia a profissão para a qual estão estudando. “Graduação livre de dívidas”, exigiram.

Atualmente, dois terços dos universitários apelam para o crédito estudantil, contra 45% de 1992-93. De acordo com o Departamento de Educação, os pagamentos só vêm sendo feitos por 38% dos que pediram os empréstimos estudantis subsidiados pelo governo, abaixo dos 46% de cinco anos atrás. Não são pagos porque os que tomaram os empréstimos ainda estão na escola, ou porque adiaram os pagamentos, ou porque simplesmente pararam de pagar.

ANUIDADES


Uma das razões para o incremento da dívida é o aumento generalizado das anuidades escolares. Entre 1999 e 2009, as anuidades numa universidade pública de quatro anos subiram 73% em média, enquanto a mediana da renda familiar caiu 7% no período. Desde 2009, tem aumentado sensivelmente o descompromisso dos estados com a educação superior, com cortes seguidos nos orçamentos.

Um exemplo disso é a Universidade Estadual de Ohio, que agora recebe 7% do seu orçamento do estado, contra 15% uma década atrás e 25% em 1990. Suas anuidades e taxas aumentaram em 60% em dólares de hoje, o que, como registra o NYT, fez com que “três de cada cinco estudantes da Ohio State tomassem empréstimos e a dívida média seja US$ 24.840”. E nacionalmente, o gasto local e estadual por estudante universitário, ajustado pela inflação, atingiu o mínimo em 25 anos este ano.

Para o vice-diretor do Bureau de Proteção Financeira do Consumidor, Rajeev Date, “se alguém não está pensando aonde isto vai parar nos próximos dois ou três anos, está perdendo inteiramente os sinais de aviso”. O Bureau foi criado após a crise financeira de 2008. Ele comparou esse quadro com as hipotecas de risco. O NYT advertiu que as chamadas “faculdades com fins lucrativos”, que espocaram na década de 1990, jogando pesado no marketing e recrutamento de novos estudantes, e dizendo para os alunos não se preocuparem com a dívida para estudar, com 11% do total de alunos, receberam 25% do montante de empréstimos federais. 
http://www.horadopovo.com.br/

                                                                                               

ANTONIO PIMENTA

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