quarta-feira, 18 de julho de 2012

Algumas considerações sobre o PIB, o futuro e o presente do país

Não seria a contenção dos salários e a ameaça de desemprego um mal às crianças brasileiras

A presidente Dilma, em seu discurso na 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, disse que “uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para as suas crianças e para seus adolescentes, não é o Produto Interno Bruto, é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são as suas crianças e os seus adolescentes”.

Não conseguimos captar, apesar de nos esforçarmos muito - porque é o nosso governo, o governo que elegemos e apoiamos –, o que está sendo feito de substancial pelas crianças, considerando que 20 milhões delas jamais viu um brinquedo, exceto aqueles que elas próprias ou seus pais improvisam, que o ensino básico é caótico, nem falemos no atendimento médico – e os R$ 70,00 por mês do “Brasil Carinhoso”, infelizmente, não melhoram ou muito pouco minoram as aflições da infância na miséria.

Certamente, não seria a política de contenção de salários, que faz mal às crianças e ao Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o Dieese, em 2011 houve um aumento das negociações salariais que obtiveram reajustes abaixo da inflação – ou seja, um aumento das negociações que resultaram em redução do salário real. Pode parecer pouco esse “aumento da ordem de 3 p.p. (ponto percentual) no total de negociações com pisos reajustados abaixo da variação do INPC-IBGE”, mas isso quer dizer que a propaganda do Banco Central pró-arrocho salarial e o exemplo do governo ao tratar seus funcionários teve efeito. No entanto, não foi aí o principal efeito.

 Mostra o Dieese que “o aumento real médio dos pisos salariais (…) foi de aproximadamente 3% acima do INPC-IBGE. Em 2010, (…) o aumento real médio foi de quase 5%”.

Em suma, o aumento real médio dos pisos salariais – isto é, o aumento do piso dos salários reais - caiu quase pela metade em relação a 2010, ano em que o PIB cresceu +7,5%. E isso num momento em que o país precisa quase desesperadamente do estímulo do consumo para aumentar os investimentos e crescer.

Concretamente, pode-se sentir o que isso significa pelos valores: “... cerca de 50% dos pisos tinham valor de até R$ 660,00; e pouco mais de 75%, até R$ 765,00” (cf. Dieese, “Balanço dos Pisos Salariais negociados em 2011”, Estudos e Pesquisas nº 61, junho de 2012).

Certamente, sempre se pode dizer que era possível que fosse pior, porque, assim como quase tudo na vida pode melhorar, também sempre pode piorar.

Sobretudo se, devido ao baixo ou nenhum crescimento da economia, induzido pela política econômica, os pais dessas crianças e adolescentes perderem, ou estarem na iminência de perder, o emprego. Para isso serve o crescimento – o crescimento do PIB: para possibilitar emprego e salário aos pais e/ou mães das crianças e adolescentes.

No entanto, as estimativas de crescimento da economia do país neste ano caíram mais em apenas uma semana. Inclusive a do FMI, o que é notável não pela acurácia futurológica desse magote de capangas dos grandes bancos norte-americanos, mas por, normalmente, o FMI ser um entusiasta da política do sr. Mantega – até porque é a sua, sem tirar nem por.

Como são muito ingratos, em seu relatório, esclarecem que a queda da nossa economia não foi devida principalmente “ao debilitamento da situação externa”, mas “ao aperto da política [econômica] no ano passado” (literalmente: “policy tightening over the past year” - cf. IMF, “World Economic Outlook Update”, Washington, D.C., July 16, 2012, p. 4).

Apenas observaremos que nesse relatório a projeção do FMI para “as economias emergentes e em desenvolvimento” é, na média, 5,6% de crescimento para este ano, mais que o dobro da sua previsão para o Brasil – e o triplo da previsão mais alta que apareceu dentro do país na última semana. Fora isso, não torraremos a paciência do leitor com números sobre o PIB que têm o único e reiterativo significado de que estamos andando para trás.

O PIB (Produto Interno Bruto) foi uma ideia que começou a ser usada na década de 30 do século passado pelos economistas norte-americanos da era Roosevelt - segundo um deles, John Kenneth Galbraith - para ter algum instrumento, um pouco mais objetivo que a pura sensibilidade individual e pessoal, que pudesse dar uma medida, mais ou menos aproximada, do crescimento ou queda da economia.

Assim, passamos de um crescimento do PIB de +7,5% no último ano do governo Lula para +2,7% no ano passado e, nas projeções atuais, de +1,5% a +1,9% este ano.

O que isso significa, do ponto de vista das crianças - ou, melhor, da sua proteção?

Significa que, por exemplo, na indústria têxtil, o número de pais, mães e membros de família empregados diminuiu 5,7% num único mês (maio) em relação ao mesmo mês do ano passado.  Na indústria de calçados, a queda no emprego foi de -7,1%. Significa que num único mês os pais e/ou mães das crianças foram despojadas de -3,4% dos empregos na indústria da Bahia, -3,2% dos empregos na indústria de São Paulo, -2,3% dos empregos industriais no Rio Grande do Sul, -3,2% dos empregos na indústria do Ceará – e paremos nesses resultados do IBGE, pois, em junho, coisa pior se alevanta sem que musa alguma cante ou deixe de cantar.

Como o leitor pode conferir em matéria nesta mesma página, se excetuarmos o setor sucroalcooleiro, o maior parque industrial do país - o de São Paulo - demitiu 23.533 trabalhadores em junho, já descontadas as admissões. O setor que mais desempregou é aquele mais beneficiado com desonerações e empréstimos do BNDES: a indústria automotiva multinacional.

Se incluirmos o setor sucroalcooleiro, foram 7.000 demissões – mostramos o resultado sem esse setor para evidenciar o quanto é grave a situação na indústria paulista, exatamente a que tem puxado o crescimento do país há 80 anos.

Em 2010, quando o PIB cresceu 7,5%, em junho a indústria paulista admitiu, já descontadas as demissões, 15.500 pais ou mães ou jovens - que são arrimos, parciais ou totais, da sua família, como o foi o presidente Lula.

Em 2011, com 2,7% de crescimento, em junho houve demissão de 500 trabalhadores. Agora, em 2012, 7.000 - o que perfaz -86.000 empregados nos últimos 12 meses e projeta, pelo menos, 100 mil demissões até o final do ano, se a situação não piorar.

O PIB realmente é uma desgraça para as crianças – quando ele cai, isto é, quando os pais delas perdem o emprego e deixam de receber salário.

Por sinal, a folha salarial real, segundo o IBGE, caiu -2,5% em maio, comparada ao mês imediatamente anterior.
CARLOS LOPES

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