quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Mídia arrasta a oposição para o sepulcro eleitoral

Para fabricar uma crise, ela teve que torrar até mesmo seus apadrinhados do Senado

Houve época em que senadores da oposição eram, antes de tudo, senadores como outros: gente alfabetizada, que conhecia pelo menos alguns livros importantes, pessoas civilizadas e bem educadas. Podíamos não concordar com eles, mas que tinham algum verniz, e às vezes até algum brilho, lá isso tinham. Não viviam cedendo às chantagens da mídia, não gastavam seu mandato cavando a própria sepultura eleitoral somente por submissão, não achavam que suas funções eram compatíveis com as de palhaço da televisão, e tinham repugnância de perder tempo com assuntos menores, a bem dizer, desprezíveis, para assacar aleivosias contra colegas que não fizeram nada por merecê-las.

Hoje em dia, depois de semanas de campanha contra o senador José Sarney, ninguém é capaz de responder do que ele está sendo concretamente acusado. O que ele fez de ilegal? Onde e quando ele quebrou o decoro? Ninguém sabe responder. Claro, sempre vai aparecer algum histérico para dizer que Sarney é culpado “por tudo isso”. O que não é uma acusação, pois quem é culpado “por tudo”, não é culpado de nada. E, se prova existe nisso, é a prova da falta de provas. Se não gostar das pessoas fosse suficiente para culpá-las e condená-las, iam faltar carcereiros para as cadeias, pois todos eles, provavelmente, também estariam presos, para não falar do que aconteceria aos acusadores...

No entanto, o senador Artur Virgílio diria, como disse sobre outro colega, que as provas contra Sarney são os títulos e matérias da “Veja”, da “Globo”, da “Folha” e de outras publicações muito desinteressadas. Por esse critério, a crucificação de Jesus Cristo foi muito justa: afinal, as provas contra ele eram o que diziam os fariseus, os vendilhões do templo e Judas – mais ou menos os correspondentes da mídia atual naquela época.

A campanha contra Sarney é tão ridícula que nem essa oposição parlamentar, por pior que seja, aderiu de pronto a ela. Foi necessário que essa mídia batesse na própria oposição durante dois meses para que ela fosse tangida a esse papel de marionete. Na edição de 29 de abril deste ano, a “Veja” publicou uma de suas capas mais antologicamente fascistas - uma privada com os dizeres: “Puxe para se livrar deles”. Quem eram esses “eles”? Todos os políticos, oposição e situação. Aliás, a preferência era bater na oposição, tratada como um bando de incompetentes, de corrompidos e outras coisas piores.

Isso durou até o final de junho. Nesse mês, no dia 24, nós publicamos a manchete: “Mídia golpista degola seus cupinchas para atear fogo no Senado”. A matéria referente a essa manchete iniciava com a seguinte frase: “A mídia chegou à conclusão de que, para fabricar uma nova crise, depois de frustrado o ‘escândalo’ contra a Petrobrás, teria que rifar até mesmo os seus tradicionais apadrinhados do Senado”.

Por isso, quando, sob o porrete da mídia, a oposição no Senado aderiu à campanha contra Sarney, já estava mais torrada do que churrasco de gato na quarta-feira de cinzas. Tinha sido torrada pela própria mídia.

Assim, sabe-se que o senador Virgílio usou indevidamente dinheiro do Senado para pagar o tratamento da mãe; que mantinha, na folha do Senado, um funcionário que nem morava no Brasil; e que, quando estava na Europa, pegou um dinheiro com o Agaciel Maia. Sabe-se que o ex-presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, abastecia o seu avião particular com dinheiro do Senado. Sabe-se, agora, que o atual presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, pagou as despesas da filha, em viagem ao exterior, com dinheiro do Senado. E etc., etc., etc. & etc.

Em suma, não se sabe do que Sarney é culpado, mas sabe-se do que são culpados os detratores de Sarney. Que situação! Tudo de cabeça para baixo. Até inventaram uma “tropa de choque” composta pelo octogenário senador Paulo Duque, pelo senador Almeidinha, pelo senador Salgado e outros próceres que ninguém poderia classificar de tropa, quanto mais de choque. Enquanto isso, Virgílio, Tasso e outros energúmenos, que parecem egressos das SA, esses não são tropa de choque... O fascismo sempre é, politicamente, a inversão da realidade.

O senador e ex-presidente Sarney é um político conservador. Recentemente, em sua coluna num dos jornais que mais o difamam, referindo-se a Marx, afirmou que “a concepção de classes é uma teoria que não resiste à realidade”. Infelizmente, a realidade é que há classes que, usando os desclassificados da oposição, querem empalar em público o nobre político maranhense, hoje representando o Amapá. Portanto, não é prudente subestimar a teoria das classes - e da luta de classes - quando há um exemplo prático desse porte na sua frente.

Porém, Sarney não está sendo atacado por seu conservadorismo ou por sua distração no estudo do marxismo. Pelo contrário, está sendo atacado porque apoia o presidente Lula e há uma eleição para presidente em 2010.

Além disso, essa mídia fascista não esqueceu que ele foi o político cujo rompimento com a ditadura determinou o fim daquele infausto regime e, ao substituir Tancredo na Presidência da República, não privatizou estatal alguma, nem cedeu, no essencial, ao que ela queria fazer do Brasil. Sarney é atacado por suas qualidades e não por seus defeitos. Nunca isso foi tão claro – e, por isso, com exceção de alguns basbaques que não conseguem enxergar nem seus próprios interesses, todos o percebem.

Para essa mídia, mil vezes mais reacionária do que Sarney, mentir, inventar acusações, difamar, caluniar, insultar, espargir a sua lama, é a forma de colocar algum usurpador no Planalto. No passado recente, ela já fez isso duas vezes. No entanto, agora, o que ela está conseguindo é arrastar para o Inferno os seus próprios serviçais.

CARLOS LOPES

Nenhum comentário: