terça-feira, 4 de agosto de 2015

Os ricos e o golpe no Brasil


Por Joaquín Piñero, no jornal Brasil de Fato:

A história nos ensina que sempre quando os ricos sentem seus interesses ameaçados, se articulam com seus representantes em todos os espaços de poder, criam uma situação de desestabilização política e o passo seguinte é a derrubada do poder constituído.

A mais recente manobra desse tipo foi o golpe militar de 1964. Naquele momento, o Brasil vivia sob um clima de pressão social para que houvesse mudanças na economia e na política a fim de favorecer a maioria da população excluída de seus mais básicos direitos.

O então presidente João Goulart anunciou as Reformas de Base, que reunia um conjunto de iniciativas, como as reformas bancária, fiscal, administrativa, universitária, urbana e agrária. Essas reformas atingiam diretamente uma pequena classe rica, mas muito poderosa. A reforma agrária, por exemplo, visava eliminar os conflitos pela posse da terra e garantiria o acesso à terra a milhões de trabalhadores rurais, o que contrariava os interesses dos fazendeiros endinheirados.

O desfecho disso tudo foi o golpe em 1º de abril de 1964. Derrubaram o presidente João Goulart, democraticamente eleito, e nenhuma das reformas anunciadas foi adiante, os problemas sociais se mantiveram e os ricos ficaram mais ricos.

Golpe não é saída

Atualmente vivemos uma situação semelhante àquela que antecedeu o golpe de 1964. O país está envolvido em uma crise econômica, social e política. E é cada vez mais comum ouvir dos representantes dos ricos que a saída é o golpe.

Ocorre que os lugares onde se estão armando essa estratégia estão mais sujos do que “pau de galinheiro”. O primeiro deles é o TCU (Tribunal de Contas da União), onde denúncias de corrupção envolvem seus ministros. O outro é a Câmara dos Deputados, também com seu presidente Eduardo Cunha enlameado até os cabelos com acusações de corrupção. E, por último, o Senado do presidente Renan Calheiros, sobre quem pesam as mesmas denúncias.

Crise é dos ricos

Enfim, esse é o cenário que estamos vendo se formar em nosso país. Esperamos que os próximos atos da presidenta Dilma sinalizem com ventos positivos de mudanças substanciais para a classe trabalhadora e não medidas que jogam mais água no moinho dos golpistas. Seguramente o que a grande maioria não quer é que sejam quebrados os pilares da democracia duramente conquistados, muito menos pagar por uma crise onde só os ricos ganham.

* Joaquín Piñero é da coordenação nacional do MST.

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