domingo, 16 de agosto de 2015

A economia dos EUA continua o seu colapso


 Pela mesma regra em vigor sob Reagan, adulterada por Clinton e continuada por W. Bush e Obama, a taxa real de desemprego chega a 23% , revela o ex-subsecretário do Tesouro, PauCraig Roberts. 

PAUL CRAIG ROBERTS*
Você se lembra quando os relatórios reais existiam? Aqueles eram os dias antes de o governo Clinton concentrar os meios de comunicação em poucas mãos e tornar a mídia em um Ministério da Propaganda, uma ferra-menta do Big Brother. A falsa realidade em que os americanos vivem se estende à vida econômica. O relatório sobre emprego de sexta-feira foi a continuação de uma longa seqüência de más notícias transmutadas em uma boa notícia. A mídia repete dois números como se eles significassem alguma coisa – os ganhos nas folhas de pagamento mensal e a taxa de desemprego - e ignora os números que mostram o contínuo declínio multiano em oportunidades de emprego, enquanto a economia alegadamente está se recuperando.
A chamada recuperação se baseia na medida U3 da taxa de desemprego. Esta medida não inclui qualquer pessoa desempregada que se ficou desencorajada com a incapacidade de encontrar um emprego e não procurou trabalho nas últimas quatro semanas. A medida U3 do desemprego inclui apenas os ainda esperançosos, que acham que vão encontrar um emprego.
O governo tem uma segunda medida oficial de desemprego, U6. Esta medida, raramente relatada, inclui entre os desempregados aqueles que ficaram desencorajados há menos de um ano. Esta medida oficial é o dobro da medida U3, 5,3%. Significa isso que a taxa de desemprego é superior a 10% após seis anos de suposta recuperação econômica?
Em 1994, o governo Clinton parou de computar como desempregados os trabalhadores desencorajados há longo prazo. Clinton queria que sua economia parecesse melhor do que a de Reagan, então ele deixou de contar os trabalhadores desencorajados há longo prazo que faziam parte da taxa de desemprego de Reagan. John Williams (shadowstats.com) continua a medir os desencorajados de longo prazo pela metodologia oficial da época, e quando estes desempregados estão incluídos, a taxa de desemprego dos EUA em julho de 2015 é de 23%, várias vezes maior do que durante a recessão com o qual o presidente do Fed Paul Volcker brindou a presidência de Reagan.
Uma taxa de desemprego de 23% dá à recuperação econômica um novo significado. 85 anos após a Grande Depressão, e a economia dos EUA está em recuperação econômica com uma taxa de desemprego próxima à da Grande Depressão.
A taxa de participação na força de trabalho tem diminuído ao longo da “recuperação” que supostamente começou em junho de 2009 e continua até hoje. Isso é altamente incomum. Normalmente, conforme uma economia se recupera os empregos ressurgem, e as pessoas retornam para a força de trabalho. Com base no que lhe foi dito por seus assessores econômicos, o presidente Obama atribuiu a queda da taxa de participação aos ‘baby boomers’ que se aposentam. Na realidade, na assim chamada recuperação, o crescimento do emprego tem sido primordialmente entre aqueles com 55 anos de idade e mais velhos. Por exemplo, todos os ganhos de emprego nas folhas de pagamento de julho foram contabilizados pelos de 55 anos e mais velhos. Os americanos em idade ativa por excelência (25-54 anos) perderam 131 mil postos de trabalho em julho.
Em relação ao ano anterior (julho 2014 - julho de 2015), os na faixa etária de 55 e mais velhos ganharam 1.554.000 postos de trabalho. Já os jovens, nas faixas de 16-18 e 20-24, perderam respectivamente 887 mil e 489 mil postos de trabalho.
Hoje há 4.000.000 empregos a menos (entre 25 e 54 anos) do que em dezembro de 2007. De 2009 a 2013, os americanos nessa faixa etária perderam 6.000.000 de postos de trabalho. Esses anos de alegada recuperação econômica aparentemente ignoraram os americanos no auge da idade ativa.
Em julho de 2015, os EUA têm 27.265.000 pessoas com empregos em tempo parcial, dos quais 6,3 milhões ou 23% estão trabalhando em tempo parcial porque não conseguem encontrar trabalho em tempo integral. Há 7.124.000 americanos que detêm vários empregos em tempo parcial, a fim de fazer face às despesas, um aumento de 337.000 em relação há um ano atrás.
Os jovens não têm como formar famílias com base em empregos de tempo parcial, mas os aposentados tomam tais empregos a fim de conseguir a renda perdida em suas economias devido à política de juro zero do Federal Reserve, que visa sustentar os balanços de um punhado de bancos gigantes, cujos executivos controlam o Tesouro e o Federal Reserve. Com tantos empregos qualificados na indústria e em profissões de ponta, tais como engenharia de software, deslocados para a China e a Índia, as carreiras profissionais estão desaparecendo nos EUA.
GOLPES EM WALL STREET
Os trabalhos mais lucrativos na América envolvem executar golpes em Wall Street e fazer lobby para grupos privados, para os quais são preferidos antigos membros da Câmara, do Senado, e do poder executivo, assim como a fabricação de esquemas para enriquecimento de doadores de think-tanks, que, disfarçando-se de políticas públicas, podem se tornar lei.
Os alegados empregos de julho são nas categorias habituais que se tornaram familiares mês após mês, ano após ano. São serviços domésticos, garçonetes e barmen, varejo, transporte, armazenagem, finanças e seguros, cuidados de saúde e assistência social. Nada que possa ser exportado para pagar as importações maciças. Com o crescimento escasso em valor real da mediana da renda familiar, conforme as poupanças são exauridas e o crédito vai à exaustão, até mesmo a parte de vendas da economia irá fraquejar.
Claramente, isto não é uma economia que tem futuro.
Mas você nunca ficaria sabendo ao ouvir os meios financeiros ou ler a seção de negócios do New York Times ou o Wall Street Journal. Quando eu era editor do Wall Street Journal, a condição deplorável da economia dos EUA teria sido notícia de primeira página.
  *Paul Craig Roberts foi Secretário Assistente do Tesouro do governo Reagan e ex-editor do WSJ. Seus livros mais recentes são: O Fracasso do Capitalismo de Laissez Faire, A Dissolução Econômica do Ocidente. O título da matéria é do autor.
http://www.horadopovo.com.br/

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