domingo, 16 de agosto de 2015

A Guerra “Fria”

Pelo Mundo
Caio Rearte*
A Guerra “Fria”
A guerra fria começou a 6.000 graus Celsius – aproximadamente a temperatura da super-fície do Sol – em 6 de agosto de 1945, após a explosão da bomba nuclear nomeada Little Boy (“Garotinho”) na cidade de Hiroxima. Nessa data, os EUA escolheram demonstrar o ápice do seu poderio militar para o mundo inteiro. Não contentes, explodiram outra bomba nuclear três dias depois, em Nagasaki. Não vou me demorar na brutalidade do ataque, um verdadeiro assassinato em massa a sangue frio. Aqui, vou tentar demonstrar o absurdo que é chamar o período sangrento da segunda metade do século XX de Guerra “Fria”.
Em geral, não há uma data específica para o começo desse período. Mas no momento em que as bombas nucleares foram utilizadas pela primeira vez, todos os outros países souberam que tal tecnologia existia, e que havia um país disposto a utilizá-la em combate. A União Soviética correu para desenvolver sua própria bomba, e testou a primeira em 1949. A “lógica” do confronto indireto que deu o nome de Guerra Fria veio daí. Uma guerra nuclear direta levaria a destruição mútua, o que não ocorreu. Porém, indire-tamente, os dois guerrearam. E muito.
Em 1950, o primeiro grande conflito da Guerra Fria começou – a Guerra da Coréia. Envolvendo os EUA e a China, esta deixou um saldo de no mínimo quinhentos mil mortos. Durante a década de 50, diversos golpes de estado se sucederam, os mais notáveis no Irã e na Guatemala. Ambos os países haviam eleito, democraticamente, líderes que se puseram contra a “segurança nacional” dos EUA, e assim foram taxados de “comunistas”. Assim, a CIA fez uma campanha clandestina de apoiar, armar e treinar os oponentes de tais líderes.
No Irã, o primeiro ministro Mohammad Mosaddegh estava tentando nacionalizar a empresa britânica de petróleo AIOC. A AIOC controlava as vastas reservas de petróleo do país, num regime de partilha injusto. Os serviços secretos do Reino Unido e dos EUA operaram em conjunto para instaurar uma ditadura monárquica sob o comando do Xá Mohammad Reza Pahlavi. O Xá mantinha seu domínio com a ajuda de uma temida polícia secreta, a SAVAK, que prendeu, torturou e matou milhares.
Na Guatemala, o presidente Jacobo Árbenz fez campanha pela reforma agrária, o que enfureceu a empresa agrícola americana United Fruit Company. A CIA e o Departamento de Estado interviram, e após o golpe de 1954, uma ditadura militar foi instaurada com apoio dos EUA. Uma guerra civil se sucedeu, matando duzentas mil pessoas.
No início dos anos 60, João Goulart ascendeu ao cargo de presidente do Brasil e passou a fazer campanha pelas reformas de base. Isso alarmou a Casa Branca, que começou a sondar possíveis soluções para a situação. Quando o golpe veio em 1964, os EUA estavam a postos para assegurar que tudo correria “bem” com a Operação Brother Sam. No resto da América Latina, diversas ditaduras ficaram no poder por décadas com apoio estadunidense. Essas ditaduras prenderam, torturaram e mataram dezenas de milhares.
E, é claro, houve a guerra do Vietnã. Ou melhor, a Guerra da Indochina, já que os EUA atacaram o Laos e o Camboja também, “secretamente”. Essa deixou algo entre quinhentos mil e dois milhões de mortos.
Ainda houve confrontos que envolveram os EUA – secretamente ou não – na Indonésia, em Angola, Granada, Líbia, Nicarágua, Panamá, Afeganistão e outros. Cada um resultou em instabilidade, em períodos ditatoriais, em atraso no desenvolvimento político e econômico, e, é claro, na morte de centenas de milhares de civis.
Então, afinal, a Guerra Fria que terminou no início da década de 90 deixou um rastro de milhões de mortos. Só foi “fria” pois matou poucos civis do mundo desenvol-vido. Para o resto do mundo, as lembranças do período são dolorosas, e as consequências duradouras.
 
*Caio Rearte é colaborador do HP e editor do
blog caiorearte.blogspot.com 
 

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