domingo, 7 de junho de 2015

Intervencionismo e extorsão para Wall Street e seus banqueiros



GENERAL SMEDLEY DARLINGTON BUTLER *

“A guerra é apenas uma extorsão. Uma extorsão é melhor descrita, creio, como algo que não é o que parece ser para a maioria das pessoas. Somente um pequeno grupo que está por dentro sabe o que significa. Ela é conduzida para o benefício dos muito poucos à custa das massas.

Eu acredito numa adequada defesa da costa e mais nada. Se uma nação vem até aqui para lutar, então nós lutaremos. O problema com os Estados Unidos é que quando o dólar só rende 6% aqui, então fica-se inquieto e vai-se para o exterior a fim de conseguir 100%. Em seguida, a bandeira segue o dólar e os soldados seguem a bandeira.

Eu não iria para a guerra de novo, como eu fui, para proteger algum investimento nojento dos banqueiros. Existem somente duas coisas pelas quais nós deveríamos lutar. Uma é a defesa de nossos lares e a outra é a Declaração de Direitos. Guerra por qualquer outra razão é simplesmente uma extorsão.

Não existe uma trapaça no saco de extorsões para a qual a gangue militar esteja cega. Ela tem seus “homens-dedo” para apontar inimigos, seus “homens-músculo” para destruir inimigos, seus “homens-cérebro” para planejar os preparativos de guerra, e um “Grande Chefe” Super-Nacionalista-Capitalista.

Pode parecer estranho que eu, um militar, adote tal comparação. A exatidão me compele a isso. 

Eu passei trinta e três anos e quatro meses no serviço militar ativo como um membro da mais ágil força militar deste país, o Corpo de Fuzileiros Navais. Eu servi em todos os postos comissionados desde segundo-tenente a general-de-divisão. E durante este período, eu passei a maior parte do meu tempo sendo um homem-músculo de alta classe para o Big Business, para Wall Street e para os banqueiros. Em resumo, eu era um extorsionário, um gângster para o capitalismo.

Eu suspeitava, nessa época, que era apenas parte de uma extorsão. Agora eu estou certo disso. Como todos os membros da profissão militar, eu nunca tive um pensamento meu próprio até que deixei o serviço. Minhas faculdades mentais permaneceram em animação suspensa enquanto eu obedecia às ordens dos superiores. Isto é típico com qualquer um no serviço militar.

Eu ajudei a fazer o México, especialmente Tampico, seguro para os interesses das empresas de petróleo americanas, em 1914. Eu ajudei a fazer do Haiti e de Cuba lugares decentes para que os rapazes do National City Bank arrecadassem rendimentos. Eu ajudei a estuprar meia dúzia de repúblicas da América Central em prol dos lucros de Wall Street. O registro de extorsões é grande. Eu ajudei a purificar a Nicarágua para a casa bancária internacional dos Brown Brothers em 1909-1912 (onde eu tinha ouvido esse nome antes?). Eu trouxe luz na República Dominicana para os interesses dos usineiros americanos em 1916. Na China, eu ajudei para que a Standard Oil seguisse seu caminho sem ser molestada.

Durante aqueles anos, eu participei de uma expansão da extorsão. Olhando para trás, sinto que poderia ter dado a Al Capone umas poucas sugestões. O melhor que ele pôde fazer foi operar suas extorsões em três distritos. Eu operei em três continentes.”
* Transcrito de um discurso do general em 1933

Trata-se de uma das mais profundas, sintéticas e candentes denúncias do complexo industrial-militar dos EUA e seu banditismo ao redor do mundo, feita por alguém que o conhecia por dentro. Originalmente, o texto foi dado a conhecer em nosso país graças ao tenente-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla e ao engenheiro Paulo Metri, que reproduziram-no em seu livro “Nem todo o petróleo é nosso”.

Smedley Butler, autor de “War is a Racket” (“A Guerra É Uma Extorsão”), é conhecido por ter denunciado, em 1934, o complô contra o presidente Roosevelt, um golpe de Estado em preparação, o “Business Plot” - devido à participação de grandes industriais e banqueiros, inclusive Morgan e DuPont. A comissão do Congresso que ouviu o depoimento de Butler e investigou a tentativa de golpe concluiu pela existência do complô, e nenhuma das afirmações do general foi jamais desmentida, o que não impediu o “The New York Times” de deflagrar uma campanha de difamação, chamando-o de louco e paranóico.

No entanto, Butler, republicano como seu pai, o deputado Thomas S. Butler, presidente do Comitê de Assuntos Navais durante os cinzentos governos de Harding e Coolidge, tinha sido durante décadas um dos heróis da direita americana – e por isso havia sido chamado a participar no golpe contra Franklin Roosevelt.

Smedley Darlington Butler foi o mais condecorado fuzileiro naval e o mais jovem general da história dos EUA. Duas vezes ele foi distinguido com a maior das condecorações daquele país, a “Medalha de Honra do Congresso”, o que somente aconteceu até hoje com 18 outras pessoas.
Sua carreira militar, como diz em seu discurso, foi realizada em agressões e intervenções imperialistas em praticamente todos os recantos do planeta, desde a guerra contra a Espanha, em 1898 - onde foi um dos ocupantes de Guantánamo, Cuba. Dois anos depois, ele estaria na China, como integrante das tropas estrangeiras que esmagaram a Revolta dos Boxers. Depois, Honduras e Nicarágua.

A primeira “Medalha de Honra do Congresso”, ele a recebeu por sua participação na tomada do porto mexicano de Veracruz, em 1914, intervenção americana realizada durante a Revolução Mexicana, sob pressão dos monopólios do petróleo que dominavam Tampico e outras áreas do México. O motivo declarado era impedir que armas alemãs chegassem ao país, quebrando o embargo declarado pelos EUA. Como outros americanos, inclusive o próprio presidente Wilson, que havia determinado a intervenção, Butler deve ter se surpreendido ao verificar que as supostas armas alemãs eram fabricadas pela Remington, dos EUA. Para driblar o embargo e fornecê-las a Victoriano Huerta, traidor do presidente Francisco Madero, a Remington enviara as armas para Hamburgo, de onde foram embarcadas para o México. Tudo, como diria Butler muitos anos depois, uma questão de negócios...

O fato é que, espantosamente, e pela primeira vez, um galardoado com essa medalha quis devolvê-la. Segundo declarou o então major Smedley Butler, ele não havia feito nada para merecê-la. Porém, seus superiores ordenaram que aceitasse a medalha e a envergasse com o uniforme militar.

Um ano depois, em 1915, Smedley Butler estava entre as tropas enviadas ao Haiti para esmagar a revolta dos camponeses daquele país, conhecida como Revolta dos Cacos. Por ter tomado o quartel-general dos camponeses, ele foi outra vez condecorado com a “Medalha de Honra”.

Porém, em 1931, ele se tornou também o primeiro general americano a ser submetido a uma corte marcial por ter ofendido Mussolini, ao contar publicamente uma história de conteúdo anti-fascista. Apesar de ser republicano, seu correligionário Herbert Hoover, presidente dos EUA, que notoriamente detestava Butler, resolveu atender a um protesto do capo fascista.
CARLOS LOPES


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