terça-feira, 18 de junho de 2013

Se liga, Dilma: Cuidado com o financismo!



Em mais um artigo da nova seção da Carta Maior 'Se liga, Dilma', o alerta vem do economista e colunista Paulo Kliass. Para ele, ao subir a Selic, o governo voltou a ceder às pressões do financismo e abandonou todas as estratégias que pudessem combinar controle da inflação com políticas de estímulo ao desenvolvimento.


Dilma até que ensaiou adotar uma postura mais autêntica em termos de política econômica no início de seu governo. Depois da saída de Palocci do cargo de Ministro Chefe da Casa Civil, imaginou-se que haveria um fortalecimento das opiniões mais heterodoxas e desenvolvimentistas no interior de seu governo.


A equipe do Banco Central deixou de ser comandada por um representante direto da banca, como havia ocorrido com o reinado absoluto de Henrique Meirelles, durante os oito anos de Lula no poder. A indicação de Tombini e o perfil de técnicos de carreiras públicas no resto da diretoria abriam espaço para uma possível ruptura com as teses monetaristas e ortodoxas de política econômica. 


Durante um período de indefinição pouca coisa mudou, até que depois de 8 meses, a taxa de juros oficial iniciou uma trajetória de queda. A Selic baixou de 12,5% para 7,25% ao ano. Mas no decorrer de 5 meses, o governo voltou a ceder às pressões do financismo. Abandonou todas as estratégias que pudessem combinar controle da inflação com políticas de estímulo ao desenvolvimento e enveredou de novo pelo caminho da ortodoxia e do monetarismo.


O Copom passou a decidir por aumentos sucessivos na taxa de juros, com o argumento surrado e falacioso do risco do retorno do crescimento dos preços. Na verdade, tratava-se de uma estratégia montada pelos defensores dos interesses do sistema financeiro: ou aumenta-se a SELIC ou instaura-se o caos. Dilma optou por ceder ao cântico de sereia dos bancos, achando que assim teria conseguido ainda mais setor de apoio para seu governo. Rendeu-se ao pânico proporcionado pela estratégia do catastrofismo, como se aumentos nos juros fossem a panacéia para escapar de um cenário de crise artificialmente criado.


Com tal inflexão, os elementos essenciais da política econômica de seu governo continuam satisfazendo plenamente às demandas do capital e do empresariado. Os exemplos são vários. Desoneração tributária da folha de pagamento, com redução das receitas do sistema da previdência social. Desoneração tributária para o capital especulativo internacional, que aqui segue ainda obtendo ainda a maior remuneração financeira em todo o planeta. 

Manutenção da política de geração de superávit primário próximo a 3% do PIB, retirando recursos orçamentários de áreas sociais e transferindo-os para o pagamento de juros da dívida pública. Permanência de uma taxa de câmbio artificialmente valorizada, provocando desindustrialização a olhos vistos. Implementação da política de privatização de setores estratégicos da infra-estrutura, sob a forma disfarçada de “concessões” aos grupos empresariais por décadas.



Assim, o fato é que o capital - em especial o financeiro - agradece bastante tamanha generosidade, oferecida tão gentilmente por um governo dirigido por um partido que deveria defender os interesses dos trabalhadores. Porém, não cabe a menor ilusão de que essa tentativa de adoçar a boca do financismo com apetitosas medidas governamentais vá convertê-los em apoiadores do governo em momentos decisivos. Fenômeno semelhante, inexplicável e carregado de irracionalidade, ocorre no setor de comunicações. A SECOM e outras áreas da Esplanada oferecem mundos e fundos para o oligopólio da imprensa impressa, rádio e televisão, mas por outro lado passam o tempo se queixando de que “los médios” só batem no governo.


Já passou da hora de despertar desse sonho ingênuo de que é possível “enganar” os caras. O setor financeiro tem um poder de influência no conjunto da sociedade, ao ponto que não precisa do apoio do governo para se manter. Ele consegue fazer a cabeça da galera formada pelos responsáveis pela imprensa, ele se fez presente no interior das universidades, ele modela a forma de raciocinar da maior parte dos empresários e dirigentes dos grupos empresariais.


A missão de um governo progressista, pelo contrário, é de se apresentar como um contraponto a essa forma conservadora e elitista de encarar o País. Ao invés de trazer esse tipo de pensamento retrógrado para dentro de se sua equipe de governo, a Presidenta deveria é constituir um bloco de pensamento capaz de formular um programa e um ideário que se apresentem como alternativa aos intentos do parasitismo financeiro.


Se liga, Dilma: é preciso romper os grilhões que te prendem aos interesses do financismo. Atender aos interesses do capital especulativo e voltar as costas para o Brasil real - que trabalha e produz - só trará conseqüências negativas para qualquer projeto estratégico de fortalecimento do Brasil como Nação forte e soberana.



(*) Doutor em economia pela Universidade de Paris 10 (Nanterre) e integrante da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental, do governo federal.


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