quinta-feira, 13 de junho de 2013

Em conchavo com os nazistas, Álvaro Dias mata 10 milhões de ucranianos


 O senador Álvaro Dias não falsifica apenas dossiês para atribuí-los ao governo. Ao que parece, tem um atração infalível para a falsificação. Agora falsifica mortes para atribuí-las a Stalin. Em discurso no Senado, reivindicou do governo brasileiro o reconhecimento de um suposto “holocausto ucraniano”, no qual Stalin teria matado de fome “10 milhões de ucranianos entre 1932 e 1933”. Segundo ele, diante desse “holocausto”, o genocídio promovido por Hitler na Ucrânia foi um crime menor.

Dias não é prendado em dotes intelectuais. Suas prendas são outras. Assim, nem se pergunta onde foram parar tantos cadáveres – e nem qual era, em 1932, a população da Ucrânia soviética. Pois eram 25 milhões de pessoas. Portanto, Dias está dizendo que 40% da população morreu em um único ano. Resta saber qual o milagre que fez com que, apesar do desaparecimento de 40% da população, a Ucrânia, como registram os censos, aumentasse seus habitantes em 3.339.000 pessoas entre 1926 e 1939...

Se charlatães como Robert Conquest escondem esses dados por má-fé, no caso do senador Dias nos parece que a burrice tem papel mais preponderante – o que não é uma atenuante.

Porém, a infâmia tem pedigree, o que deve agradar muito ao senador: na década de 30, o Dr. Goebbels, aquele para o qual uma mentira muito repetida virava verdade, inventou um mote para a propaganda anticomunista dos nazistas - uma grande fome na Ucrânia, supostamente causada pela coletivização da agricultura. O caminho para evitar tais tragédias era seguir o que seu chefe, Hitler, pregara explicitamente no “Mein Kampf”: tornar a Ucrânia um anexo alemão, após uma limpeza étnica.

Fora da Alemanha, somente um barão da imprensa americana publicou a invenção do Dr. Goebbels: W. R. Hearst, que Orson Wells retratou em “Cidadão Kane”. Em 1934, Hearst foi à Alemanha, encontrando-se com Hitler e fechando um “intercâmbio de notícias” com os nazistas. Em fevereiro do ano seguinte, apareceu em seus jornais uma série de artigos sobre a “fome na Ucrânia”, assinados por um certo Thomas Walker.  Naquela época, as “vítimas” eram seis milhões.

Walker jamais havia pisado na Ucrânia, como o correspondente de “The Nation” em Moscou, Louis Fischer, que não pode ser acusado de pró-soviético, comprovou na época. Além disso, comprovou-se que uma foto de uma criança gélida e esfomeada, creditada a Walker e datada de 1934, era cópia de uma de 1922, quando a URSS estava destruída pela invasão estrangeira. Em seguida, descobriu-se que Walker não era Walker: seu nome verdadeiro era Robert Green, condenado a oito anos de cadeia e foragido de uma prisão do Colorado. Recapturado, Green confessou a fraude.

Na mesma época, um certo Ewald Ammende publicou um livro sobre a “fome na Ucrânia”. Suas fontes eram explícitas: a imprensa alemã e a italiana, isto é, fascista. O livro de Ammende desapareceu, até que foi republicado em 1984, sob os auspícios do governo Reagan, pela Universidade de Harvard. As fotos desse livro eram retiradas do jornal de Hitler, o “Volkischer Beobachter”.

Em 1953, durante o macartismo, foi publicado outro livro sobre a “fome na Ucrânia”, pela “Associação Ucraniana de Vítimas do Terror Comunista Russo” e pela “Organização Democrática de Ucranianos Ex-perseguidos pelo Regime Soviético”, dois antros montados pela CIA. Não foi difícil perceber que as fotos eram falsas (numa delas os supostos algozes soviéticos vestiam fardas do exército czarista...). Um dos autores do livro era Alexander Hay-Holowko, ex-oficial das SS e “ministro” da propaganda da “Organização Nacionalista Ucraniana”, um grupo nazista, responsável pelo assassinato de milhares de judeus, poloneses e russos. Um dos “patrocinadores” era Anatole Bilotserkiwsky, ex-membro da Gestapo durante a ocupação da Ucrânia.

Esse último livro é uma das fontes citadas por Robert Conquest, agente do MI-5, denunciado em 1978 pelo “The Guardian” como funcionário do Information Research Department (a repartição de propaganda anticomunista do serviço secreto inglês) e autor de “The Harvest of Sorrow”, um prolixo espichamento da fraude nazista. Conquest, por sinal, já variou amplamente o número de vítimas que matou na “grande fome da Ucrânia”. Durante o governo Reagan, chegou a 14 milhões – matou nada menos do que 56% da população ucraniana em um ano. Depois, diminuiu outra vez os números...

Mas Conquest não foi um pioneiro. Depois que Walker contou, por telepatia, 6 milhões de mortos e Ammende, mais científico, achou 7 milhões e 500 mil, outro funcionário de Hearst, Richard Stallet, sem sair dos EUA, liquidou com 10 milhões de ucranianos - e houve quem chegasse a 15 milhões...

Mas um certo professor Dana Dalrymple resolveu o problema: em 1964, na “Soviet Studies”, chegou à conclusão de que 5.500.000 pessoas morreram de fome na Ucrânia. Como ele chegou a esse número? Simples: fez a média entre as várias contagens de mortos, incluindo as dos nazistas...

CARLOS LOPES

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