quarta-feira, 27 de junho de 2012

Mídia se une para salvar golpistas

Por Altamiro Borges

Num primeiro momento, a mídia brasileira ficou confusa e dividida diante do golpe relâmpago no Paraguai. Colunistas amestrados da direita, como Reinado Azevedo e Augusto Nunes, da Veja, e Merval Pereira, da Globo, aplaudiram os golpistas e até justificaram a deposição “democrática” de Fernando Lugo. Já nos editoriais, mesmo sem usar o termo “golpe”, jornais e emissoras de televisão estranharam a rapidez do impeachment e foram mais cautelosos. Agora, porém, a mídia se uniu para socorrer os golpistas.



O discurso único parece combinado. Todos os veículos criticam o Mercosul e a Unasul pela suspensão dos golpistas do Paraguai. A pressão maior é contra a presidenta Dilma Rousseff. A mesma mídia que sempre exigiu posições rápidas e duras contra o Irã, a Síria e outras nações contrárias à política expansionista dos EUA, agora pedem que o governo brasileiro “respeite a autonomia” do país vizinho. Na prática, a mídia colonizada recomenda a “neutralidade” para salvar os golpistas do isolamento na América Latina.


Itamaraty deve "calar-se"

 
O editorial de hoje da Folha, intitulado “Paraguai soberano”, é explícito neste sentido. “Apesar de cercear o direito de defesa, impeachment do presidente foi constitucional; é abuso dos países vizinhos pretender impor sanções”, afirma logo na abertura. O jornal da famiglia Frias, que apoiou o golpe no Brasil, não esconde sua oposição ao presidente deposto do Paraguai. “Eleito numa plataforma esquerdizante, o ex-bispo católico Fernando Lugo conduzia um governo populista e errático”.

Para o jornal, a afinidade ideológica – e não a defesa da democracia – é que explica a posição “injustificável” do Mercosul de punir os golpistas. A Folha faz um apelo à presidenta Dilma para que não reforce esta postura. “Com um triste histórico de ingerência na política interna do Paraguai, país que mantém laços de dependência econômica em relação ao Brasil, o melhor que o Itamaraty tem a fazer é calar-se e respeitar a soberania do vizinho”. Ela repete o apelo do golpista Federico Franco e do governo dos EUA.


Eternos defensores dos golpes

 
A mesma posição foi assumida pelos jornais O Globo e Estadão. Eles exigem que o governo Dilma respeite a “soberania do Paraguai” e não “fique a reboque de Chávez” – como afirmou o ridículo Merval Pereira. O argumento para defender a “neutralidade” é que os golpistas seguiram a Constituição no rito sumário do impeachment. Como lembra o filósofo Vladimir Safatle, este foi o mesmo argumento usado pela imprensa golpista no Brasil.

“Até o golpe de Estado brasileiro (1964) foi feito ‘legalmente’, já que o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vacante a Presidência por Goulart ter ‘abandonado’ o governo ao procurar abrigo no RS, tomando posse o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. O que demonstra como nem sempre estamos protegidos pelas leis”.
 

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