sábado, 27 de março de 2010

TUCANARAM A MARINA

Se a prática é mesmo o critério da verdade, como não constatar o óbvio: tucanaram a Marina. Nem bem a ex-senadora petista começou a desandar o caminho percorrido, se assomam oportunistas de plantão, com estiloso bico e bela plumagem, ávidos para colocá-la no figurino da reação. Para dizer o mínimo, é grotesca a caricatura.

Gente que pela ação ziguezague vai, coberta de títulos e de nariz empinado, da extrema esquerda à direita sem nenhum tipo de constrangimento, abraçando as teses centrais do neoliberalismo, mas com discurso e verniz de progressista. Uma pose ridícula e estéril, de quem ataca amigos para tornar-se palatável aos até então inimigos: a candidatura Serra e os setores mais retrógrados da mídia. Na prática, um arremedo de terceira via que camufla as intenções obtusas do auto-proclamado “liberalismo sustentável e da descarbonização”. Identificados como tucanos verdes, reagem verborragicamente, atribuindo o carimbo – óbvio por demais – à “satanização do debate”.

Buscando tangenciar o inadiável confronto de ideias, um dos expoentes do PV no Rio, Alfredo Sirkis diz que os “verdes” não estão à esquerda, mas à frente do governo Lula, pois seu partido estaria tentando “incorporar o que ele trouxe de bom e o que herdou de FHC”. E vai além: “Não houve herança maldita, e o Lula sabe disso”. Em poucas palavras a política neoliberal de Estado mínimo, privatização, desnacionalização, arrocho, desemprego e precarização de direitos foi obra do além. Fernando Henrique Cardoso era só o presidente na ocasião. Aliás, pelas palavras de Sirkis, ficamos sabendo que FHC inclusive deixou uma gorda herança, que o presidente Lula talvez não tenha aproveitado tão bem. Esse Lula...

Privatismo

Numa espécie de sub-legenda do PSDB, o novo PV, abraçado agora por figurinhas carimbadas da reação, como Eduardo Giannetti da Fonseca, declara apoio a Marina por esta, segundo ele, expressar compromisso com a “austeridade fiscal”, combatendo o Estado pesado e ineficaz. Qualquer semelhança com o elefante privatista não é mera coincidência.

Ao mesmo tempo, Giannetti volta a bater na surrada tecla de “enxugar gasto” diante dos riscos da “pressão inflacionária e do desequilíbrio nas contas externas”. Enquanto adverte que “não adianta aumentar o PIB de qualquer maneira”, o astuto pensador diz ter “muitas dúvidas técnicas sobre o pré-sal” – a quem acusa de “economia suja” – e reclama que, com as ações implementadas, some-se a elas o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), “o Brasil está querendo dar um passo maior que as pernas”.

Assim, enquanto o país é tema palpitante de eventos internacionais, com empresários, governos e movimentos sociais reconhecendo a destacada atuação e exemplo do governo brasileiro, da sua afirmação do papel indutor do Estado no combate à crise, da importância do fortalecimento das políticas públicas, da relevância do investimento na área social, os tucanos verdes surtam. E morrem pela boca. “Vamos ter de enxugar o gasto do governo. Vamos ter de aceitar algum sacrifício agora para melhorar o futuro”, diz Giannetti. Quem duvida da dimensão realmente espetacular das bobagens, pode conferir: está no panfleto dos Frias do último domingo.

ARTHUR HENRIQUE*
* é presidente nacional da CUT

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