quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Cristina rejeita tentativa de ingerência no país via FMI



O país construiu um mercado interno com inclusão social e políticas anti-crise. Esta é a causa da irritação do FMI”, esclareceu a presidente argentina
"Onde estava o FMI, que não pode advertir sobre nenhuma crise? Alguém conhece alguma sanção do FMI, alguma decisão contra aqueles que, enriquecendo-se, quebraram o mundo? Não. A primeira medida tomada pelo FMI é contra a Argentina", afirmou a presidente Cristina Kirchner respondendo ao Fundo Monetário Internacional, um dia após que esse organismo emitisse uma moção de censura contra Argentina pelas estatísticas oficiais do índice de preços ao consumidor (IPC) e o cálculo do PIB, interferindo nas questões internas do país. 
Cristina questionou o papel do Fundo na crise provocada pela especulação nos Estados Unidos e na Europa. "Onde estava o FMI quando se formaram, não apenas bolhas, mas verdadeiros balões financeiros? Onde estava um de seus diretores [Rodrigo Rato] quando o Bankia, que ele dirigia, teve que ser auxiliado com bilhões de euros? [injeção de recursos públicos à banca espanhola, quebrada pela especulação]. Hoje a Espanha tem 26% de desempregados, em sua maioria jovens. Em quais estatísticas aparecem essas tragédias? Quais são os parâmetros ou ‘procedimentos’ com que o FMI analisa países quebrados que continuam endividando-se, com povos desesperançados?", apontou, perguntando ainda "o que acontece com os países emergentes que sustentamos a economia global na última década e hoje querem que tomemos conta de pratos quebrados por outros?". E ainda: "FMI+FBI contra a Argentina. Não se assustem, o FBI são os Fundos Abutres Internacionais [na sigla em espanhol]".
O Governo argentino alertou sobre a relação com os fundos especulativos norte-americanos que tentam achacar milhões de dólares do país, depois de terem recusado a oferta da Casa Rosada de comprá-los por seu valor real. "Não me parece casual o timing, o momento em que o fundo decide soltar esse informe", disse o  ministro de Economia, Hernán Lorenzino. Indicou que o anuncio da moção por Cristine Lagarde, gerente do FMI, ocorreu "no meio dessa discussão dos títulos" cujo próximo passo será a exposição oral do governo, dia 27, em Nova Iorque.
"Não fizeram nada na crise que arrebentou a economia de muitos países. A 1ª medida que toma o FMI é contra a Argentina. Aluna exemplar do FMI nos `90, que seguiu todas e cada uma das receitas, e quando estourou em 2001 soltaram-lhe a mão", assinalou a presidente.
Cristina considerou que essa "parece ser a verdadeira causa da irritação do FMI. A Argentina é um palavrão para o sistema financeiro global de rapina e seus derivados. O nosso país construiu um mercado interno com inclusão social e políticas anti-crise". O ministro Lorenzino a complementou denunciando que "a moção de censura do FMI responde à decisão do país de proteger a indústria nacional e o emprego, de se financiar prescindindo do mercado financeiro e de dizer não aos fundos abutres".  
Cristina contrapôs a situação argentina de 2003 com a atual e assinalou que naquela época nosso país tinha "166% de um PBI raquítico de dívida, 90% em moeda estrangeira. Hoje a dívida ao setor privado nacional e internacional está só em 14% de um PIB robusto. Apenas 10% em moeda estrangeira, 32% de dívida intra setor público".
Entre os índices favoráveis, a presidente incluiu "6.9% de desempregados", e "o melhor salário nominal da América Latina e de poder aquisitivo medido em US$". O salário mínimo argentino é hoje de 2.875 pesos, aproximadamente 1.350 reais.
"Um posicionamento de tal natureza com respeito à Argentina constitui não só um novo erro do FMI, mas também um claro exemplo de tratamento desigual e de duplo padrão deste organismo em sua relação com certos países membros. Esse é o mesmo Fundo que se mostra complacente com declarações inexatas de dados e com frustradas políticas que conduziram à crise global. Um FMI que, sendo consciente que suas receitas não funcionam, não se arrepende de suas prescrições", declarou o ministro.
O FMI estipulou um prazo de oito meses para que o governo argentino aplique medidas ao Instituto Nacional de Estatística e Censo (INDEC). Lorenzino lembrou que o país planeja lançar um novo índice de preços ao consumidor, chamado IPC-Nacional, até o fim do ano, em substituição ao atual índice de preços, o IPC-GBA, e que "o Fundo está a par disso". "Acreditamos (que o novo índice) entrará em vigor no último quadrimestre de 2013, o FMI só expressou sua inconformidade com a política independente do país", acrescentou.
O representante do Brasil no FMI, Paulo Nogueira Batista, qualificou de "contraproducente" a censura feita à Argentina.
SUSANA SANTOS
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