quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Iedi: juros altos e câmbio aceleram déficit na indústria de transformação


Em nove meses, saldo negativo de US$ 35,3 bilhões já é maior do que todo o ano passado  



A indústria de transformação registrou um déficit de US$ 35,3 bilhões em sua balança comercial, entre janeiro e setembro deste ano. No mesmo período de 2010, o saldo ficou negativo em US$ 25,8 bilhões, fechando o ano com um déficit de US$ 34,8 bilhões. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) projeta um déficit de US$ 50 bilhões na balança comercial de bens da indústria de transformação em 2011.

Na avaliação do Iedi, “do ponto de vista do resultado comercial brasileiro, o problema do déficit comercial dos bens da indústria de transformação, deve ser considerado outro ângulo da mesma questão, a saber: é flagrante o descompasso entre vendas do varejo nacional e a produção industrial interna, no qual as vendas vêm crescendo bem mais que a produção. Em parte relevante, isso é decorrência da chamada guerra cambial e do reconhecido diferencial entre as taxas de juros domésticas e as internacionais”.

Ou seja, os juros siderais do Banco Central são o chamariz para a montanha de dólares emitida pelos norte-americanos na guerra cambial deflagrada após a explosão da crise em setembro de 2008, distorcendo o câmbio. Isso se transformou em um verdadeiro subsídio aos produtos importados, inundando o país com produtos estrangeiros, daí o descompasso entre as vendas no varejo e a produção industrial interna.

Assim, de acordo com os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações no período se concentraram principalmente em produtos da agropecuária e extração mineral. O superávit da balança comercial como todo alcançou US$ 23,0 bilhões nos três primeiros trimestres do ano.

De janeiro a setembro de 2011, destacaram-se as vendas para o exterior de minério de ferro (US$ 30,7 bilhões), petróleo (US$ 15,8 bilhões, soja em grão (US$ 14,0 bilhões), açúcar em bruto (US$ 8,2% bilhões), café em grão (US$ 5,6 bilhões), carne de frango (US$ 5,2 bilhões), entre outros.

Conforme o Iedi, “conferir um norte contundente nos intentos para um horizonte maior faz-se premente, ao sinalizar custos menores de investimento e produção e para esforços bem maiores em elevação da produtividade e inovação”.

Levando-se em consideração os critérios da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o comércio de bens da indústria de transformação por atividades de alta intensidade tecnológica teve desempenho sofrível: déficit de US$ 23,2 bilhões. “Além dessa deterioração, suas exportações pouco tem se recuperado, atingindo US$ 6,7 bilhões. Notar que, além do conjunto dos bens do complexo eletrônico e dos produtos farmacêuticos – historicamente deficitários –, o intercâmbio de aeronaves e afins também ficou deficitário”, destaca o Instituto.

Na faixa de produtos de média-alta tecnologia o saldo da balança comercial ficou negativo em US$ 38,3 bilhões nos nove meses iniciais de 2011, sendo que o déficit no setor de automóveis chegou a US$ 5,0 bilhões e no de produtos químicos, a US$ 16,3 bilhões. Quanto aos bens de média-baixa intensidade tecnológica, o déficit alcançou US$ 5,6 bilhões no mesmo período.

O segmento de baixa intensidade tecnológica apresentou superávit de US$ 31,8 bilhões. Os produtos das indústrias de alimento, bebidas e fumo concorreram sobremaneira para esse resultado, com superávit de US$ 28,6 bilhões. Por sua vez, o conjunto das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados registro déficit de US$ 1,0 bilhão.

Para o Iedi, “o cenário externo é adverso e há muito a ser feito: pinçar oportunidades, baratear o investimento, incentivar a inovação e a produtividade devem ser objetivos perseguidos incessantemente”.

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