quinta-feira, 9 de setembro de 2010

BP CULPA ATÉ MORDOMO POR SEU VAZAMENTO NO GOLFO DO MÉXICO

Relatório da British Petroleum sobre o desastre admite alguns erros menores, atribui às empresas contratadas os principais erros, e até insinua que mortos na explosão foram culpados por morrerem

Cínico “relatório” da BP sobre o desastreque provocou no Golfo do México o maior vazamento de petróleo da história, com milhões de litros de petróleo lançados diariamente, e colossal dano ao meio ambiente, lançou a culpa para todo lado e, no sumário executivo de apresentação, só faltou dizer que nem conhecia a plataforma que afundou.

“Um evento de controle de poço na noite de 20 de abril permitiu o escapamento de hidrocarbonetos do poço Macondo para a Deepwater Horizon, da Transocean, resultando em explosões e incêndios na plataforma”, mais 11 mortos, 17 feridos e “um vazamento de significado nacional”, retrata o isento relatório. Só no segundo parágrafo o investigativo estudo fala da BP e da equipe de análise, imediatamente formada para apurar o que ocorreu. Haja modéstia...

O relatório de 193 páginas admite alguns erros menores da BP, atribui às empresas contratadas a responsabilidade maior pelos principais erros, e insinua até mesmo que os mortos na explosão da Deepwater Horizon foram culpados pelas próprias mortes.

“Ações de controle de poço tomadas antes da explosão sugerem que a tripulação da plataforma não estava suficientemente preparada para administrar uma situação crescente de controle de poço”, segundo o “estudo” da BP, que já teve refinarias explodidas nos EUA e vazamentos no Alasca. Mais adiante, o relatório acrescenta que “em um período de 40 minutos, a equipe da Transocean na plataforma falhou em reconhecer e agir no influxo de hidrocarbonetos dentro do poço”.

Durante as audiências na Câmara dos Deputados sobre o desastre, veio a público que a BP decidiu por conta e risco mudar o projeto de engenharia do poço, cancelou um teste da cimentação do poço e descartou o uso do segundo dispositivo de prevenção de explosões, que é norma em todas as petroleiras sérias. Conforme essas audiências, o poço estava com atraso de 43 dias e gasto a mais do projetado de US$ 20 milhões. Só cancelamento do teste de cimentação, poupou US$ 128.000 e nove horas.

O “New York Times” apontou o relatório como um esforço de relações públicas – provavelmente com Wall Street, onde as ações da BP andam de mal a pior -, e de criação de álibis visando a defesa da petroleira “contra possíveis acusações criminais ou cíveis, multas federais e centenas de processos pendentes”. A Transocean, que operava a plataforma para a petroleira inglesa, denunciou que “tanto no projeto quanto na construção [do poço], a BP tomou uma série de decisões para economizar custos que aumentaram o risco – em alguns casos, severamente”.


CIMENTO

Já Halliburton, que viu algumas das cimentações de poço que fez explodirem mundo afora, desta vez bateu boca com a BP. Asseverou que, além de não fazer o teste da cimentação, a BP havia, cinco dias antes do poço explodir, rejeitado a recomendação de instalar 21 dispositivos chamados centralizadores, e usado só seis. Por via das dúvidas, a Halliburton não forneceu qualquer amostra real do cimento usado na cimentação, para análise de sua equipe, só amostras genéricas.

De acordo com o presidente demissionário da BP, Tony Hayward, as causas da explosão teriam sido cimentação “mal feita” e falhas no revestimento do poço que permitiram que “hidrocarbonetos vazassem do reservatório para o compartimento de produção”. No sábado, o dispositivo de prevenção de explosões que falhou foi afinal retirado do mar e levado para instalações da Nasa perto de Nova Orleans, para investigação.

ANTONIO PIMENTA

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