terça-feira, 11 de novembro de 2008

Lessa: temos que segurar com unhas e dentes as nossas reservas cambiais

O economista Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), defendeu o controle do câmbio como principal medida para o Brasil enfrentar os efeitos da crise norte-americana." O Brasil precisa centralizar e controlar o câmbio, porque não podemos deixar que saiam do país mais dólares do que entram. Temos que ter uma política para represar dólares, de puxar para cá os dólares que estão fora. Meirelles está matando a indústria e fazendo deste país um país de jogadores em juros altos. Os dólares só deixam o país para comprar máquinas ou ações da Petrobrás na Bolsa de Nova York, caso contrário ficam aqui", defendeu Lessa.PESADELOAo participar do programa "Brasil Nação", no domingo (9), na TV Paraná Educativa, Lessa alertou que o maior entrave para o Brasil superar a crise e sair dela fortalecido é o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "Criticar o Meirelles é ir contra o sistema financeiro internacional, contra o mercado de capitais, contra esta loucura chamada globalização financeira", disse Lessa, lembrando que foi demitido da presidência do BNDES, depois que chamou de pesadelo a política de juros altos instituída por Meirelles. "Agora, estamos em pleno pesadelo. Meirelles não fará nada para ajudar o Brasil a ser o Brasil que os brasileiros sonham. Ele fará tudo para ajudar os grandes bancos, agora com mais poderes. O presidente Lula acaba de assinar uma MP, que deu ao presidente do Banco Central pleno poderes. Ele pode fazer qualquer coisa. Pode ajudar qualquer banqueiro, fundo de pensão ou empresa. O que a Nação espera de Meirelles é que ele conserve as reservas internacionais brasileiras, que há dois meses atrás somavam US$ 207 bilhões em títulos do tesouro norte-americano. Eu não sei quanto ele gastou até agora, mas temos que segurar com unhas e dentes o que sobrou. Não acredito que o Meirelles venha a segurar alguma coisa, porque ele é presidente do banco central do mercado e não do Brasil", afirmou. Para Carlos Lessa, se o Brasil ficar sem suas reservas cambiais, "no dia seguinte, entregaremos o pré-sal, os aeroportos, o Porto de Paranaguá e tudo o que sobrou do processo de privatização". Ele considerou estranho o presidente e os demais diretores do Banco Central desconhecerem que acontecia na Aracruz Celulose, Votorantin e Sadia, que perderam bilhões de dólares com a crise. "Isso demonstra que o Brasil possui uma ponta negra, que ninguém sabe dizer, que pode transformar em pó nossas reservas".Carlos Lessa disse que as crises são comuns no sistema capitalista, mas que a atual pode ser comparada as graves crises de 1870 e 1929, que só foram resolvidas com grandes guerras. "O que até agora historicamente o capitalismo revelou é que é capaz de superar suas grandes crises com muita dor para a humanidade. As duas guerras mundiais são duas passagens desta conta de dor. Um preço alto demais", declarou. "Isto é extremamente importante para que todos tenham consciência ao avaliar as medidas que o governo brasileiro venha a tomar para superar a crise, caso contrário o mundo continuará vivendo a globalização financeira com todos os seus desvarios".PRÉ-SALLessa considerou que o país tem todas as condições de sair fortalecido da crise. "Estamos extremamente preparados para crescer na direção dos sonhos dos brasileiros, descritos na Constituição de 1988, que é fazer com que cada brasileiro tenha nível adequado de educação, de alimentação, habitação e que tenha acesso a cultura, lazer e a felicidade social coletiva. Se há um país no mundo que tenha potencialidade para tudo isto é o Brasil", disse Lessa, ao se referir à descoberta de petróleo no pré-sal "que eleva o Brasil a condição de detentor da quinta reserva mundial"."Se manejarmos mal esta crise que avassala o mundo, debilitaremos o Brasil de tal maneira que seremos obrigados a entregar esta reserva riquíssima de petróleo. Os Estados Unidos não estão interessados no etanol brasileiro, mas sim no pré-sal. Eles se jogaram para o Iraque, porque suas reservas só são suficientes para cinco anos. Então, tendo no quintal dos fundos uma reserva como o pré-sal, passa a ser um objeto de desejo", alertou o economista, ex-reitor da UFRJ.

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