sexta-feira, 19 de abril de 2013

Dilma aumenta taxa de juros e adia retomada do crescimento


Mesmo águias, por vezes, escorregam no tomate

Presidente escolheu a pior hora para ceder ao lobby dos rentistas
Ao admitir – e minimizar o prejuízo para o país – de um aumento dos juros básicos, apenas 24 h antes da decisão do Copom, a presidente Dilma decidiu o resultado da reunião, a favor dos bancos externos e demais especuladores. Com um crescimento de meros 0,9% no ano passado e com a atividade econômica deste ano caindo -0,52% em um mês, segundo o próprio BC, foi a hora mais contraindicada para um aumento de juros, com a tendência que ele aponta: queda no investimento público e privado; crédito mais caro; e câmbio contra a indústria nacional. A taxa básica de juros aumentou de 7,25% para 7,5%.
Copom se rende a especuladores e aumenta a taxa Selic para 7,5%
Que necessidade havia de aumentar os juros agora?
Apenas 24 h antes da decisão do Copom sobre a taxa de juros básica, a presidente Dilma selou o resultado com seu discurso em Belo Horizonte: “Nós jamais voltaremos a ter aqueles juros, que a qualquer necessidade de mexida, elevava os juros para 15%. (…) Hoje, nós temos uma taxa de juros real bem baixa. Qualquer necessidade, para combate à inflação, será possível fazer num patamar bem menor. (…) Nós não negociaremos com a inflação. Nós não teremos o menor problema em atacá-la sistematicamente. Nós queremos que esse país se mantenha estável” (grifo nosso).
Depois disso, tornou-se inevitável o aumento de juros, numa situação em que havia condições para que esse esbulho sobre a sociedade, em especial sobre o Tesouro e o Estado, e, sobretudo, em cima da autoridade da presidente da República, fosse barrado - ao menos na quarta-feira. Mas, se a própria presidente sinaliza que os juros podem ser aumentados, tal como em outras oportunidades, com toda razão e cumprindo com o dever para o qual foi eleita, sinalizou que eles deviam cair - que se há de fazer?
Não havia discussão sobre “negociar com a inflação” ou sobre a “manutenção da estabilidade”. Exceto a oposição golpista - “Veja” e seus asseclas, com seus tomates, jilós e quiabos  – ninguém atribuiu tal coisa à presidente ou a quem quer que seja. O motivo é simples.
A inflação estava, como está, em queda. Todas as forças vivas do país (como diria o conselheiro Acácio, forças vivas do país são aquelas que não estão mortas) estavam contra o aumento de juros: trabalhadores, empresários, lideranças, jovens, homens, mulheres, o povo em geral, e até a melhor parte dos economistas.
Nesse caso, até a maioria ou pelo menos a metade da pior parte, também: os economistas de banco, segundo o Boletim Focus - a “pesquisa de mercado” do próprio Banco Central - tinham se conformado em manter a taxa de 7,25% inalterada.
Dentro do próprio BC, como se viu pelo resultado da votação do Copom, aumentar os juros estava longe de ser incontroverso, e não foi consenso nem depois do discurso da presidente: dois diretores do BC, inclusive o Diretor de Política Monetária, Aldo Luiz Mendes,  e o Diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Luiz Awazu Pereira da Silva, votaram contra o aumento de juros.
Mas é óbvio que para impedir esse aumento era essencial que a grande patrocinadora da queda dos juros mantivesse a sua posição. Não é uma boa tática, para evitar o risco de ser derrotado, aderir ao outro lado. Se a humanidade seguisse essa regra, ainda não teria descido das árvores. No entanto, a presidente preferiu dizer que, como a taxa havia caído, se aumentasse não seria problema, pois não aumentaria para os níveis anteriores. Evidentemente, não é possível que a presidente quisesse dizer que a função de baixar os juros é permitir que, depois, eles aumentem – mas é a isso que conduz a tolerância com o terrorismo inflacionário.
Alguns fariseus, escribas hipócritas e sepulcros caiados, há algumas semanas gritam que a presidente não pode falar sobre juros, pois se trata de matéria do BC. Não é verdade. Qualquer brasileiro – ou até que não seja brasileiro – pode dizer o que acha dos juros, e esses fariseus usam abundantemente, até abusivamente, esse direito. Se a única pessoa proibida de falar sobre juros for exatamente quem foi eleita para governar o país – inclusive para governar a política monetária – estaríamos diante de uma democracia muito original, tão neoliberal quanto neofascista.
Mas eles não se queixaram quando a presidente falou a favor do aumento de juros. Só quando ela foi contra esse aumento. Em suma, ela não pode ser contra os juros altos, só a favor.
Nossos leitores sabem o esforço que temos feito para preservar a presidente Dilma, e não somente defendendo-a contra a reação. Sabemos também que o erro cometido agora pode ser remediável – contanto que seja reconhecido como erro a ser remediado. No entanto, a verdade não é sacrificável no altar das conveniências, ou, melhor dizendo, dos oportunismos políticos. Estaremos à beira da extinção – como nação, mas também como espécie – quando não houver quem fale a verdade ou não houver quem fale o que verdadeiramente pensa.
A questão é: que necessidade havia de aumentar os juros agora?
Nenhuma, absolutamente nenhuma. Pelo contrário, era a hora mais contraindicada para aumentar os juros. Não tanto pelo que aumentou, mas pelo que esse aumento significa.
Com a atividade econômica do país caindo -0,52% (menos 0,52%) em um mês, segundo o último Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) e com a taxa “observada” - isto é, sem ajustes estatísticos - em -3,3% (menos3,3%), o aumento de juros é uma seta apontando para uma política de recessão continuada. A presidente Dilma pode não ter, e não tem, essa intenção, mas as intenções aqui são menos importantes que a percepção da sociedade. Com um baixo investimento público, agora, com esse aumento de juros, o investimento privado tende a cair ainda mais, simplesmente porque é clara, para os empresários, a sua mensagem: 1) não vai haver aumento substancial do investimento público, pois é contraditório com o aumento dos juros; 2) o crédito torna-se ainda mais caro; 3) e o câmbio, mais desfavorável para a indústria nacional.
O piso geral dos juros do país foi para 7,5% - ou, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, 1,7% em termos reais, ou seja, 1,7% acima da inflação. Não é, internacionalmente, uma taxa pequena ou baixa: trata-se da quinta taxa real mais alta do mundo. Para que o leitor tenha uma ideia: a dos EUA, nosso principal problema quanto ao câmbio, está em -1,6% (menos 1,6%).
É óbvio o que isso significa do ponto de vista dos preços relativos, isto é, dos preços das importações, que já estavam rebaixados artificialmente em cerca de 20%, vis-à-vis os preços dos produtos fabricados internamente, encarecidos na mesma medida – e apenas por um artifício cambial que tem origem nos juros internos -, com a consequente desindustrialização do país, isto é, dessubstituição das importações (ou substituição da produção pela importação). 
Portanto, mais importante que o aumento 0,25 ponto percentual (p.p.) nos juros básicos em si, é a tendência que esse aumento aponta. Na quinta-feira pela manhã, especulava-se na mesma mídia que gritou por esse aumento de juros, sobre uma suposta necessidade do juro real subir até, pelo menos, 3% (isto é, quase dobrar em relação ao nível atual), o que seria a segunda taxa do mundo. Da mesma forma, abriam-se manchetes sobre um suposto “novo ciclo de aperto monetário”, isto é, uma nova série de aumentos dos juros.
Tudo muito estimulante para a produção, o povo e o país.
CARLOS LOPES


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