sexta-feira, 15 de outubro de 2010

PAULO SOUZA DISSE QUE SERRA SABIA DE TUDO O QU EELE FAZIA

Paulo Souza é o máximo, declarou Serra após ser ameaçado e 24 horas depois de renegá-lo

No domingo, dia 10, quando, no debate da Rede Bandeirantes, Dilma Rousseff mencionou o nome “Paulo Vieira de Souza”, Serra olhou para seus assessores como se procurasse uma tábua no meio do Atlântico. Não tocou no assunto, embora não lhe faltassem oportunidades.

Paulo Vieira de Souza, segundo o vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge, roubou R$ 4 milhões que “arrecadou” para a campanha de Serra. Portanto, Serra seria vítima de um roubo ou de uma trapaça. Se é assim, poderia ter dito isso, mas não disse.

Pelo contrário, na segunda-feira, em Goiânia, Paulo Vieira de Souza era um fantasma tão apavorante que Serra o aboliu do mundo dos vivos: “é um factóide criado para que vocês fiquem perguntando. Não conheço. Nunca ouvi falar. Não sei quem é”.

Na terça-feira, em Aparecida, menos de 24 horas depois de sua entrevista em Goiânia, e menos de 48 horas após o debate, Serra, subitamente, descobriu que “Paulo Souza é um engenheiro muito competente. Já foi eleito o Engenheiro do Ano. Nunca ouvi nenhuma acusação sobre ele. Ele não fez nada disso. Ele é totalmente inocente. O Paulo Souza não está trabalhando na área de finanças da campanha, não recolheu dinheiro que não chegou à campanha. Eu teria sabido. Se sou o candidato, eu saberia. Isso não aconteceu. Não existiu nenhum desvio. Eu não pude responder no dia [do debate], porque ela [Dilma] aproveitou o final de uma fala e depois entrou outro assunto”.

Serra poderia ter usado qualquer outro momento do debate para falar do assunto. Não falou. Porém, em 24 horas – aliás, menos – o factóide, o sujeito que ele não conhecia, não sabia quem era e nunca tinha visto nem ouvido falar, tornou-se uma celebridade acima de suspeitas, com Serra colocando a mão no fogo pelo ex-desconhecido.

LIMPO

O que houve para que Serra esquecesse a existência de homem tão notável quanto esse “Paulo Souza”, a ponto de nem defendê-lo - e até declarar que era um “factóide”? Esqueceu até das várias fotografias onde aparece junto com “Paulo Souza”, conhecido no PSDB pela alcunha de “Paulo Preto” - o que Serra, em Aparecida, chamou de “apelido preconceituoso”.

No entanto, desde abril, quando o governador Goldman o demitiu, Paulo Souza aparece nos jornais, inclusive nas seções policiais – foi preso em junho por receptação, quando avaliava, na Gucci, em São Paulo, um bracelete roubado da própria loja. Mas, passado o esquecimento, Serra disse que “nunca ouvi nenhuma acusação sobre ele”.

Serra demorou para lembrar que, quando governador, nomeou Paulo Vieira de Souza para a diretoria de Engenharia da Dersa (Companhia de Desenvolvimento Rodoviário do Estado de São Paulo) – ou seja, para responsável, inclusive financeiro, pela principal obra do seu governo (e de todos os governos tucanos que passaram por São Paulo), o Rodoanel, com orçamento de R$ 5 bilhões, a obra eternamente não terminada que “inaugurou”, ao lado de Paulo Souza, quando saiu do governo.

Mas, se lhe falha a memória recente, Serra poderia ter evocado Paulo Vieira de Souza quando assessor da Casa Civil e da Secretaria Geral da Presidência, no governo em que foi ministro. Não era um assessor qualquer: em 1999, esse governo lançou, com fanfarras, uma espécie de programa de mendicância para micro e pequenas empresas, o “Brasil Empreendedor”, cujo responsável chamava-se Paulo Vieira de Souza. Como Serra pôde esquecer o rapaz?

COBRANÇA

Porém, mais fácil é saber como lembrou subitamente de tal personalidade.

No dia 12 pela manhã, depois que Serra, no dia anterior, declarou que “não sei quem é Paulo Preto. Nunca ouvi falar”, o jornal “Folha de S. Paulo”, sempre preocupado com a saúde de seu ex-editorialista, saiu com uma entrevista de Paulo Vieira de Souza.

Nela, Paulo Souza declarou que “Serra me conhece muito bem. Todas as minhas atitudes foram informadas a Serra. Até por uma questão de satisfação ao país, ele tem que responder [isto é, defendê-lo]. Acho um absurdo não ter resposta, porque quem cala consente. Eu fico abismado… Eu só fiz o bem para esse pessoal. Ninguém nesse governo deu condições das empresas apoiarem com mais recursos politicamente do que eu”. E concluía o benemérito dos tucanos: “Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro”.

Com sua memória revigorada, horas depois, em Aparecida, Serra, após comungar, revelou que o “líder” era um engenheiro dupirú, mais inocente do que madre Tereza de Calcutá, e que só não o defendeu... porque a Dilma não deixou.

No entanto, não foi Dilma quem revelou que Souza roubou R$ 4 milhões da campanha de Serra, mas oito dirigentes do PSDB, entrevistados pela revista “Istoé” em agosto.

Disse o vice-presidente nacional do partido, o conhecido Eduardo Jorge: “Ele arrecadou por conta própria, sem autorização do partido. Não autorizamos ninguém a receber dinheiro de caixa 2. As únicas pessoas autorizadas a atuar em nome do partido na arrecadação são o José Gregori e o Sérgio Freitas”.

Então, em nome de quem, então, Paulo Souza conseguiu R$ 4 milhões?

Disse o tesoureiro-adjunto da Executiva do PSDB, Evandro Losacco: “Essa arrecadação foi puramente pessoal. Mas só faz isso quem tem poder de interferir em alguma coisa. Poder, infelizmente, ele tinha. Todo mundo já sabia há muito tempo disso”. Losacco, desde 2008, reclamava com a direção do partido sobre as atividades de Paulo Vieira de Souza.

Então, como ele continuou com essas atividades, com um poder acima da Executiva do PSDB?

Na Dersa, Souza era o responsável pelas medições das obras e pelo pagamento das empreiteiras. De quebra, a advogada das empreiteiras era Priscila Souza Zahran, que vem a ser a sua filha. O mesmo escritório de Priscila era, também, contratado pela Dersa.

Um homem desses só pode ser inocente. Até curou a amnésia de Serra, primeiro milagre a caminho da canonização...

CARLOS LOPES

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