domingo, 13 de julho de 2008



Países africanos repelem ditame de Bush contra Zimbábue no G-8
Os EUA e meia dúzia de ex-potências colonialistas se arvoraram no G-8 com "direito" de interpretar "a vontade do povo zimbabuense". Os líderes africanos rejeitaram a declaração imperial com ameaças ao governo do presidente Robert Mugabe
Os sete países africanos convidados para a reunião do G-8 no Japão não se submeteram às pressões do governo dos EUA, que pretendia arrancar deles uma condenação do processo soberano do Zimbábue, o segundo turno das eleições presidenciais, vencido por Robert Mugabe. Estavam presentes os presidentes da África do Sul, Tanzânia, Nigéria, Argélia, Gana, Senegal e Etiópia, convidados, supostamente, para discutir com os países centrais a falta de cumprimento de 86% da meta de "ajuda humanitária" de US$ 25 bilhões anuais, prometida na cúpula de 2005. Assim, a cúpula acabou por emitir uma declaração de ameaça ao governo legítimo do Zimbábue, em que os EUA e mais meia dúzia de ex-potências colonialistas se arvoram o "direito" de interpretar "a vontade do povo zimbabuense" – mas sem a assinatura dos líderes africanos.
EMBARGO
A sujeição dos países africanos fazia parte da estratégia dos colonialistas de voltar à carga no Conselho de Segurança da ONU, agora acrescentando um embargo de armas e a nomeação de um interventor, travestido de "enviado especial" da ONU. Jornais ingleses, como "The Guardian", mostraram em detalhes a que ponto chegaram as manobras para dobrar os países africanos. Em uma reunião "preliminar", George W. Bush, a primeira-ministra alemã, Ângela Merkel, e o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, pressionaram o presidente sul-africano durante horas, para ouvir dele a recusa a endossar as sanções e a intervenção. De acordo com o jornal, Mbeki advertiu-os de que esse caminho levará o país "à guerra civil". Também pressionaram o líder sul-africano para que aceitasse um "pró-cônsul" norte-americano ou inglês para intervir diretamente nas mediações que ele conduz no Zimbábue, por indicação da União Africana. Com aquela falta de medida própria dos colonialistas, uma das matérias do "Guardian" tem como subtítulo "Bush perde a paciência com diplomacia sul-africana" – isto é, com Mbeki.
CREDENCIAL
Aliás, o que não falta a W. Bush são credenciais para dar lições ao mundo sobre legitimidade de eleições. Fraudou duas eleições presidenciais - a primeira, na disputa com Albert Gore, teve foros de golpe de estado apoiado na mídia e sancionado pela Suprema Corte. Na segunda, contra John Kerry, mais de um milhão de registros de eleitores negros foram cassados para abrir caminho para sua "reeleição". Para um país que já patrocinou ditaduras no planeta inteiro, de Pinochet a Marcos, passando por Mobutu, não seria uma "falta de legitimidade" qualquer que chocaria essa gente. Mas como o Zimbábue é rico em platina, níquel, cromo, cobre, carvão e urânio, e a mineração já é a principal fonte de recursos do país, e Mugabe assinou importantes acordos com a China, dá para imaginar o que motivaria um ser tão emotivo quanto "Kill for Oil" Bush.
Por sua vez, o sub-Blair Gordon Brown andava pra cima e pra baixo na cúpula com a foto do cadáver calcinado de um suposto "ativista do MDC", que teria sido "seqüestrado e assassinado" pelo partido de Mugabe. Mas, de acordo com denúncias do Zimbábue, quem anda cometendo essas atrocidades são esquadrões ligados à inteligência inglesa e que, no país africano, na época da guerra da independência, eram conhecidos como os "Selous Scouts" do exército racista da "Rodésia", em homenagem a um comparsa de Cecil Rhodes, o aventureiro inglês que invadiu e ocupou o país no século XIX. No Iraque, mais de uma vez, foram flagrados agentes ingleses, vestidos como árabes, e com o carro cheio de explosivos. As campanhas de "contrainsur-gência" dos ingleses no Quênia e na Malásia tinham como marca registrada essas "operações com bandeira trocada" – assassinatos e atentados cometidos por sicários ingleses, e atribuídos a combatentes da independência. Também a guerra da ocupação da Irlanda do Norte, no final do século passado, está documentadamente repleta desse gênero de crimes.
FRACASSO
Anteriormente, Washington e Londres já haviam fracassado em arrancar, em outros fóruns internacionais, a "revogação" do segundo turno no Zimbábue, a cassação de Mugabe e "nomeação", por W. Bush e Brown, do candidato de sua predileção, Morgan Tsvangirai, conhecido adepto das privatizações, do neoliberalismo e da devolução aos ingleses das terras desapropriadas por Mugabe e entregues ao povo zimbabuense. No caso, o fracasso ocorrera, por duas vezes, no Conselho de Segurança da ONU, e posteriormente, na reunião plenária da União Africana – o órgão que congrega todos os países africanos, e que sucedeu à Organização da Unidade Africana. Na cúpula da UA, nas palavras de um dos presidentes presentes, "Mugabe foi recebido como herói". Quanto à "condenação" do Zimbábue do G-8 – na verdade, do G-7, já que a Rússia respaldou a soberania do Zimbábue nos debates da ONU -, não passa no essencial daquela já emitida antes por W. Bush e Brown, requentada com as garatujas de mais cinco colonialistas e laranjas. Mas a unanimidade é mesmo difícil. Outro jornal inglês, "The Independent", não parecia muito impressionado com as deliberações do G-8. "Podem estabelecer tantas metas quanto quiserem. (...) Qualquer documento do encontro de cúpula não é nada mais do que uma bolha de sabão".
Zimbábue classifica como racista documento do G8 contra Mugabe
O Zimbábue repudiou a ingerência do G8 nos seus assuntos internos e classificou as ameaças contra o país de "racistas" e de "insulto" aos dirigentes africanos. "Querem debilitar a União Africana e os esforços do presidente (sul-africano Thabo) Mbeki porque são racistas, porque acham que só os brancos pensam de forma correta", afirmou o vice-ministro zimba-buense da Informação, Bright Matonga, à agência France Presse. A denúncia foi feita depois que os países imperiais exigiram, via G8, um "representante próprio" nas mediações em curso, a título de "enviado especial" da ONU. Quem sabe, um tataraneto de Cecil Rhodes.
Em entrevista ao site sul-africano "News24", Matonga classificou de "insulto aos dirigentes africanos" a pretensão do G8 de questionar a mediação conduzida pelos próprios países africanos. Ele também responsabilizou os colonialistas ingleses pelas pressões contra seu país e por tentar "isolar e demonizar o Zimbábue".

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