sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Legado de Obama: trilhões a Wall Street, arrocho, guerra e Trump


 
Oito anos de governo dos bancos, pelos bancos e para os bancos abriram caminho para Trump


Eleito em meio ao crash e quando Wall Street estava em escombros, prometendo ao povo americano ser a “mudança” e dar fim às guerras de W. Bush, Barack Obama, ao encerrar sua presidência deixa os banksters em clima de orgia, com o índice Dow Jones no recorde de todos os tempos de 20.000 pontos, aumento de 140% nos lucros em relação a 2008 e uma farra de fusões, recompras de ações e distribuição de dividendos, enquanto que para a imensa maioria a “recuperação” não decolou, o salário mínimo está congelado há sete anos, a participação do trabalho na renda recuou 7%, 94% dos empregos criados foram em tempo parcial ou temporários, a desigualdade de renda e riqueza retrocedeu a patamares anteriores à crise dos anos 1930, o número de trabalhadores na indústria segue 1,7 milhão abaixo de antes da crise e o PIB mal alcançou no período pífios 2%. Trump toma posse nesta sexta-feira na capital, Washington.
Quanto às guerras, não houve um só dia de seu governo em que Obama não sujasse suas mãos com o sangue de outros povos, tendo destruído a Líbia e tentado o mesmo na Síria, mantido a ocupação do Afeganistão e voltado a intervir no Iraque, e ganho notoriedade como o ‘presidente dos drones’, com execuções com mísseis também no Iêmen, Somália e Paquistão. Antes de passar as chaves a Trump, fez de tudo para provocar a Rússia nuclear – para cujas fronteiras enviou mais e mais soldados, tanques e aviões - e a China. Promoveu uma incansável campanha de demonização do presidente russo Putin, típica operação pré-guerra no manual da CIA/Pentágono. Nobel da Paz, aprovou modernização do arsenal nuclear no valor de US$ 1 trilhão.
ARROGÂNCIA


Foi graças às traições de Obama e à arrogância, desfaçatez e desonestidade de Hillary Clinton que o improvável aconteceu. O que era uma piada do filme De Volta Para o Futuro II, da década de 1980, de que Donald Trump, cuja figura caricata de dono de cassino-torre servira então de inspiração para o vilão da história, Biff , seria ‘presidente dos EUA’ em 2015, virou realidade. Sob Obama, para o povo, só demagogia, arrocho e desemprego, até o caldo entornar.
Com ele, a impunidade se tornou um traço essencial da vida dos EUA. Nenhum banqueiro foi preso por despejar 13 milhões de famílias, cometer fraudes em massa, emitir papéis tóxicos e arrasar a economia: era a ‘doutrina Holder’ (seu ministro da ‘Justiça’). Os torturadores acionados por W. Bush foram deixados à solta, enquanto os que denunciavam seus crimes eram perseguidos e até presos. A matança de negros desarmados por policiais racistas, que jamais eram condenados e nem mesmo levados a julgamento, provocaram revoltas no país inteiro.
Os retrocessos sob W. Bush nos direitos civis (Lei Patriótica) foram mantidos por Obama, que também ampliou a vigilância em massa da NSA, denunciada por Edward Snowden, que teve que se refugiar na Rússia. Obama se tornou o presidente da história dos EUA que mais perseguiu denunciantes, perseguição que se estendeu ao editor do WikiLeaks, Julian Assange, por ter divulgado o vídeo do “Dano Colateral”, em que um helicóptero de guerra dos EUA assassina jornalistas e civis em Bagdá. Praticamente só no último dia de seu governo é que Obama comutou a pena do soldado Manning.
Ao invés de universalizar o atendimento à saúde no país desenvolvido de pior assistência médica do planeta, criando o “Medicare para todos”, Obama optou pelo Obamacare, que obriga todo o cidadão a pagar um plano de saúde privado ou então uma multa para o imposto de renda, e que subsidia o cartel no caso de baixa renda. Não chega a surpreender que, em dezembro, estudo revelou que pela primeira vez desde a crise da Aids, a expectativa de vida nos EUA voltou a cair.

Com ele na Casa Branca, a crise nas grandes cidades desindustrializadas se agravou, assim como em muitos estados; Detroit faliu. Entidades denunciaram que os cortes nas verbas estaduais para a educação chegaram a 25%, com fechamento em massa de escolas públicas e demissão de milhares de professores.
Obama se apresentou como o “campeão” dos negros, dos imigrantes e das “minorias”, mas isso, como tudo mais nele, era só marketagem e cinismo. Foi recordista absoluto entre todos os presidentes americanos em expulsar imigrantes, inclusive crianças: 3 milhões.
Além das guerras, Obama também foi a campo para impor mais tratados comerciais que ao mesmo tempo em que tornariam ainda mais precárias as condições dos trabalhadores americanos, pretendiam aumentar o controle dos monopólios americanos sobre os demais países, como o Transpacífico e o Transatlântico, que descarrilaram.
Sua “salvação” da indústria automobilística foi à custa de cortar pela metade os salários dos novos trabalhadores e de tosar a aposentadoria dos veteranos. Quanto ao complexo industrial-militar, sobre cujos malefícios até Eisenhower advertira, garantiu mais lucros por todos os meios, inclusive arrancando do regime feudal da Arábia Saudita uma encomenda gigantesca para pôr fogo no Oriente Médio.
Segundo o New York Times, a “estratégia” para as eleições dos democratas era vencer entre as “minorias” – mulheres, negros e LGBTs -, ou seja, tentar abafar as contradições que se avolumavam por oito anos de um governo dos bancos, pelos bancos e para os bancos. As chamadas “políticas de identidade”, de liberação da maconha e de defesa incondicional do aborto não deram para o gasto e até um falastrão como Trump pôde se criar.
A verdadeira política de identidade de Obama – e de Crooked Hillary – era com Wall Street.
Hoje se sabe que, antes mesmo de ser eleito em 2008, o Citibank – então falido – enviou e-mail “sugerindo” a Obama quem deveria estar no ministério dele – e, claro, acertou na mosca. O ‘primeiro presidente negro’ cuidou de resgatar o banco e deu garantias de mais de US$ 300 bilhões para mantê-lo à tona, assim como ao JP Morgan, Goldman Sachs e Wells Fargo.
A cumplicidade do governo Obama com os banksters levou o então procurador especial investigando o bailout, Neil Barofsky, a renunciar ao seu cargo. Conforme denúncia dele, o regime Obama agraciou os banksters com US$ 23,7 trilhões: US$ 6,8 trilhões através do Federal Reserve; US$ 2,3 trilhões pela FDIC (agência governamental que garante os depósitos); US$ 7,4 trilhões via TARP (bailout) e US$ 7,2 trilhões para as financeiras de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac. Com uma folha corrida dessas, chega a ser hilariante como certa gente continua pronta a jurar em favor do “progressismo” de Obama (e chora por Hillary).
 
ANTONIO PIMENTA
http://www.horadopovo.com.br/

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