terça-feira, 29 de novembro de 2016

Governo de Michel Temer é a cara moral de Geddel


Governistas foram dar apoio às falcatruas

Na quarta-feira – e na manhã de quinta-feira – Brasília (mais especificamente, o governo e o Congresso) era um misto de lupanar com hospício, e, certamente, um valhacouto desesperado, onde bandidos de variados coturnos, pervertidos de tal ou qual periculosidade, gente sem nenhuma vergonha e gente com muito pouca, tentavam fazer a maratona em ritmo de 100 metros rasos para fugir da cadeia.
Tudo porque, desde a noite de terça-feira, sabia-se que as 70 delações da Odebrecht entraram na fase final, e seu conteúdo seria – como será – divulgado dentro de horas.
No Senado, o contumaz Renan Calheiros, arrastando mais e mais na lama a instituição que supostamente preside, aprovou regime de urgência para o projeto de lei de suposto "abuso de autoridade".
Qual a necessidade de "urgência" para uma matéria que está no Congresso há 17 anos, sem que ninguém sinta necessidade de apressá-la, a tal ponto que fora esquecida, até ser exumada pelo rábula tucano Gilmar Mendes, que a entregou a Calheiros?
Nenhuma, exceto para Calheiros, pois o STF, depois de nove anos, até marcou a audiência para apreciar as primeiras denúncias contra Renan – as propinas da Mendes Júnior, que ele usava como substituto de pensão alimentícia. Depois, vêm as denúncias da Operação Lava Jato, onde há oito processos abertos contra o elemento.
Assim, a urgência de Calheiros é a de paralisar a Operação Lava Jato, para se safar – e levando o dinheiro que roubou (v. matérias nesta página e na página 8).
Na Câmara, depois de uma noite discutindo o projeto de medidas contra a corrupção, o relatório do deputado Onyx Lorenzoni foi aprovado, na comissão especial, por 30 votos a zero.
Porém, na mesma madrugada de quinta-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, articulou líderes de vários partidos para apresentar um substitutivo em plenário e derrubar o relatório de Lorenzoni, aprovando a anistia explícita para o uso do caixa 2 em campanha eleitoral (v. matéria nesta página).
Enquanto isso, 27 líderes da base do governo Temer assinaram um manifesto em apoio ao notório Geddel.
Quando era jovem, no Colégio Marista, um colega de turma, Renato Russo, chamava Geddel de "Suíno", apelido que pegou, apesar do caráter religioso da instituição que frequentavam – ou, talvez, por causa disso mesmo. Para quem acha o apelido não muito sutil, talvez seja bom lembrar que podia ser mais um retrato moral do que físico.
O manifesto do governo Temer hipoteca "irrestrito apoio" a Geddel (um filósofo lá do Nordeste disse uma vez: " irrestrito apoio a gente não dá nem pra mãe da gente". Pois é.).
Segundo os autores do manifesto, Geddel "está conduzindo a pasta de maneira técnica, competente e tendo como premissa maior o diálogo" (quem será esse sujeito? O Geddel, perto do qual Lampião pareceria o Barão do Rio Branco, é que não é).
Por fim, dizem eles, Geddel "tem demonstrado o conhecimento e a destreza necessários para realizar a articulação política do governo e coordenar o relacionamento do Presidente da República com o Congresso".
Então, é esse o problema: Geddel é o representante dos investigados pela Operação Lava Jato – atualmente ou em perspectiva – junto a Temer. "Nós precisamos que o Geddel continue", disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O que esses deputados temem (sem trocadilho) é que Temer os traia para livrar o próprio couro, e eles tenham que amargar tristes dias, comendo o pão que o Diabo amassou com o rabo.
Nada do que pode acontecer a eles é tão duro quanto essa expressão sugere – mas é assim que eles sentem, depois de massageados e amaciados por esse esquema corrupto.
Enquanto o povo enfrenta dias dificílimos – há, entre desempregados e subempregados, 23 milhões de pessoas (ver matéria na página 2) – com salário em queda, serviços públicos (Saúde, Educação, etc.) destruídos, empresas fechadas, essa malta está preocupada em manter o que roubou e escapar impune, além de piorar a vida do povo, cortando até as suas aposentadorias.
Com a delação da Odebrecht despontando na esquina, até conseguiram ver "conhecimento", "destreza" e "diálogo" no Geddel. Aliás, como ele demonstrou em suas cinco "ponderações" ao então ministro da Cultura, Marcelo Calero, para que passasse por cima do Patrimônio Histórico e dos direitos do povo e permitir um espigão de 33 andares, no qual tem um apartamento em que só a varanda com piscina teria 78 m2. Cada uma das quatro suítes tem 190 m2.
Tornou-se corrente, agora, o que denunciamos na última edição: o envolvimento da família de Geddel com a construção do edifício. As suspeitas de que o edifício pertenceria a Geddel – ou de que ele ganhou um apartamento para fazer lobby por essa estrovenga imobiliária – tornaram-se tão fortes que nós é que não vamos botar a nossa mão no fogo. Não pelo Geddel, ora essa.
Como os deputados que assinaram o manifesto de apoio às falcatruas de Geddel podem ser muitas coisas, menos, quando se trata de dinheiro, idiotas, é evidente que não foi pelo perfil atlético do suíno, quer dizer, do ministro, que eles chafurdaram no ridículo, com elogios alucinados a um sujeito que, por um apartamento, cometeu pelo menos dois crimes: concussão e advocacia administrativa.
O fato de Temer não demiti-lo – mas aceitar a demissão de quem denunciou o escroque – mostra a adstringência do atual governo por essa quadrilha (aliás, por mais de uma – o atual governo mais parece uma composição de quadrilhas).
O que apenas revela, ainda mais nitidamente, a face moral do governo: é a cara do Geddel.

CARLOS LOPES
http://www.horadopovo.com.br/

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