quarta-feira, 20 de maio de 2009

O holocausto de Itagiba, Simonal e outras abjeções



Existe coisa pior no mundo do que um puxa-saco? Respondendo a um questionário elaborado por sua filha, Marx revelou que considerava o servilismo como o mais repugnante defeito de uma pessoa. Mais uma vez o velho Karl tinha inteira razão.Vejamos o que aconteceu com o deputado Itagiba. Ao mesmo tempo que exibia sua performance pró-Daniel Dantas na recente CPI que presidiu, e que acabou com o indiciamento do patrocinador de Itagiba e sua derrota em indiciar os que investigaram o bandido, o deputado apresentou projeto criminalizando quem negar a existência do “Holocausto” judaico.
Naturalmente, Itagiba está se lixando para os judeus e para o genocídio que os nazistas perpetraram antes e durante a II Guerra. Seu negócio era outro: encher a paciência do presidente do Irã, na época com viagem marcada para o Brasil. Em suma, seu verdadeiro objetivo era puxar o saco dos americanos, mais precisamente, dos mais trogloditas – Bush, Cheney e a canalha republicana.
É evidente que o genocídio existiu, tanto o genocídio dos judeus, como outros, por exemplo, o dos soviéticos - segundo a Larousse, o maior genocídio já acontecido na História, onde pereceram, vítima dos nazistas, 27 milhões de seres humanos, nada menos do que 15% da população da URSS.
Mas também é evidente que uma lei criminalizando a negação do genocídio dos judeus é mera demagogia. Primeiro porque, não importa o que fulano ou beltrano acredite ou deixe de acreditar, o genocídio existiu. Segundo, porque não é desse jeito que se resolvem as polêmicas históricas, ou as questões de luta política na sociedade, e muito menos o modo de estabelecer a verdade e desmascarar as falsidades. Se for assim, daqui a pouco o deputado Itagiba - ex-fabricante de dossiês quando assessor do então ministro da Saúde, José Serra - vai estar propondo uma lei criminalizando quem chamar os tucanos de entreguistas, traidores e vende-pátrias, epítetos que o deputado deve considerar calúnias. O fato de, neste caso, constituírem a pura verdade, ao contrário da negação do genocídio dos judeus, não é uma diferença substancial para pessoas como o deputado Itagiba – quem acha que ele está preocupado com a verdade? Lembre-se a sua atuação na CPI.
Mas é peculiar o uso do termo “Holocausto” (com maiúscula) para se referir ao genocídio judaico. O sociólogo judeu Norman Finkelstein, filho de dois sobreviventes de Auschwitz e professor da Universidade de Nova Iorque, já desmoralizou esse uso em seu livro “A Indústria do Holocausto” (a tradução brasileira foi publicada pela Editora Record em 2001). Finkelstein demonstra que alguns picaretas e falsários, do tipo Elie Wiesel, cunharam o termo com o nobre objetivo de ganhar dinheiro – aliás, Wiesel acabou de perder US$ 15, 2 milhões, dinheiro da fundação que leva o seu nome: estava especulando com o notório Bernard Madoff, agora condenado, por 11 modalidades de fraude, a 150 anos de cadeia. Não por acaso, Wiesel é o pensador favorito da “Veja”.
Essa gente tripudiou sobre o sofrimento real dos judeus, falsificando sua própria participação nos acontecimentos, como mostra Finkelstein. Além de negar o genocídio real sobre outros povos – como Wiesel fez em relação ao genocídio dos armênios – eles também têm o hábito de inventar genocídios onde isso interessa à reação (o mesmo Wiesel foi o propagador de um suposto – e falso - genocídio do governo sandinista da Nicarágua sobre os índios miskitos, no mesmo momento em que Reagan pagava mercenários para assassinar o povo nicaraguense e derrubar o seu governo).Portanto, o uso da palavra “Holocausto” pelo deputado Itagiba não passa de mais um degrau na sua carreira de puxa-saco daquilo que há de pior.
Não por acaso nos referimos à “Veja” em relação a Wiesel. Afinal, Itagiba é uma tromba contumaz do boletim dos Civitas, aliás, publicado em sociedade com a mídia do apartheid sul-africano.
Pois é esse panfleto fascista que resolveu, agora, usando um filme como andaime, reabilitar o esquecido dedo-duro Wilson Simonal, segundo ela, “o cantor que a esquerda sepultou vivo”. Antes a esquerda tivesse esse poder durante os anos do governo Médici, quando Simonal desceu ao círculo do Inferno destinado aos delatores – até aquela carteirinha que o Dops, durante a ditadura, distribuía entre os dedo-duros, o elemento possuía.
O que aconteceu com Simonal foi, simplesmente, que ele cometeu um suicídio moral. A esquerda teve pouca coisa a ver com isso – ele foi vítima, sobretudo, de si próprio. Embora, pela nossa parte, não haja dúvida, mantivemos e mantemos os princípios: caguete merece cacete. Que se há de fazer?

C.L.

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