terça-feira, 23 de setembro de 2008

Bush anuncia US$ 700 bilhões a mais para os especuladores


Para as necessidades do povo, o “Estado Mínimo”. Para os banqueiros falidos, o “Estado Máximo” e a socialização dos prejuízos na farra das hipotecas
O governo de W. Bush, seu secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, anunciaram seu plano de salvação da bancarrota de meia dúzia de famílias de magnatas banqueiros e da coorte de aventureiros e espertalhões associados, e pediram ao Congresso urgência na votação. A doação de US$ 700 bilhões, a serem pagos pelos contribuintes americanos, isto é, pelo povo, em troca de um aterro sanitário na Ilha de Manhattan constituído com os papéis podres agora em mãos desses banqueiros e especuladores.
CASSINO
Como se vê, os arautos do “Estado Mínimo” acreditam piamente na tese, desde que seja para impedir que os preciosos recursos estatais sejam malbaratados com a população e para evitar que fique mal acostumada com atendimento médico, educação, programas sociais e outras irresponsáveis benesses. Mas quando, após exorbitarem na especulação, levam um tombo no cassino, banqueiros e magnatas aderem entusiasticamente ao “Estado Máximo” – como a já citada socialização de prejuízos de US$ 700 bilhões. E que foi apontada pelo economista Michael Hudson como a maior transferência de riqueza da história dos EUA, desde a doação de terras aos barões das ferrovias no século XIX.
Observe-se que a socialização de prejuízos proposta no novo “fundo” de Bernanke, Paulson e Bush é ainda mais deletéria que a “troca” de bilhões dos contribuintes por 79,90% das ações das agências de refinanciamento hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac, e da seguradora AIG. No novo modelo, não precisa nem de ações, tudo o que os banqueiros e especuladores necessitam é trazer seus títulos-lixo, para saírem com os cofres estufados de verdinhas.
Possivelmente por razões de marketing, Bernanke, preferiu chamar seu aterro sanitário de “Fundo de Resgate”, enquanto o ex-presidente do órgão nos anos Reagan, Paul Vocker, preferia classificá-lo de “Mãe de Todos os Resgates”. Note-se que no “plano de salvação” de Bush, Bernanke e Paulson só há lugar para os banqueiros e especuladores que inflaram a hiper-bolha das hipotecas e derivativos. Já para os milhões de norte-americanos que perderam suas casas, nada. Foram sumariamente excluídos.
Seguramente, o dolaroduto proposto será muito maior do que esses US$ 700 bilhões, pois até imediatamente antes do anúncio o Fed já havia torrado US$ 1 trilhão com os bancos abalroados, entre empréstimos de curtíssimo prazo - em troca de papéis podres-, para mantê-los à tona, e os US$ 314 bilhões para os casos mais críticos. US$ 200 bilhões com Fannie Mae e Freddie Mae; US$ 85 bilhões para a maior seguradora dos EUA, AIG; e US$ 29 bilhões para os Morgans e Rockefellers absorverem o falido Bear Stearns.
Fora o que, por baixo dos panos, foi canalizado para o Bank of America se fundir com o rombo do Merrill Lynch, o terceiro maior banco de investimento do país. E tem muito banqueiro na fila: o Lehman Brothers, ao pedir a proteção da Lei de Falências dos EUA, apontou o Citibank como um dos seus maiores credores, com US$ 138 bilhões a descoberto. Os dois maiores bancos de investimento, os remanescentes, o Goldman Sachs e o Morgan Stanley, correm contra o relógio tentando sobreviver.
“BANKSTERS”
Apropriadamente, o economista Michael Hudson retomou outro termo usado na época de Franklin Roosevelt: “banksters” (um amálgama de banqueiros com gângsters). E que outra classificação mereceriam aqueles que induziram pessoas a fazer hipotecas de que sequer precisavam, ou acima das suas possibilidades; que fizeram apostas em cima de apostas com base nessas hipotecas; que embaralharam papéis ruins, com outros péssimos e mais outros pior ainda, tudo isso “fatiado”, repassado a outros apostadores, e travestido de título triplo-A (equivalente a um título do Tesouro dos EUA) graças ao aval fraudado de agências de classificação de riscos, do “hedge” de seguradoras como a falimentar AIG,e das contra-partidas de outros especuladores; e que para cada dólar de verdade, apostaram 30, 40,70, 80 dólares; até irem ao chão?

Nenhum comentário: