sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Veteranos de Inteligência dos EUA denunciam: ataque com gás foi armação dos contras na Síria


A entidade Profissionais Veteranos de Inteligência a favor da Sanidade (VIPS, na sigla em inglês), que reúne ex-analistas e ex-executivos da CIA, NSA, DIA, Conselho de Segurança Nacional e outros organismos da espionagem dos EUA, que se tornaram grandemente conceituados ao denunciarem em 2003 a fraude feita por Collin Powell na ONU para justificar a invasão do Iraque – contestou o “informe” ruidosamente alardeado pelo secretário de Estado John Kerry, “sobre o ataque com armas químicas de 21 de agosto na Síria” que acusa o governo Assad, e afirmou que o que seus contatos dentro do serviço secreto dos EUA lhes estão relatando é uma coisa bastante distinta, de que o ataque foi “uma provocação previamente planificada pela oposição síria, pelos sauditas e seus aliados turcos”, com o objetivo de “criar um incidente que envolveria os EUA na guerra”. A VIPS endereçou as denúncias a Obama na forma de um memorando, ao qual o site “warisacrime.org” deu o título de “Quem está mentindo? Brennan [diretor da CIA], Obama, ou ambos?
Algumas das contestações já foram apresentadas anteriormente, mas há uma questão que é desenvolvida de uma forma que ainda não tínhamos visto na mídia, e que lança luz sobre toda a operação e quem, verdadeiramente a encabeçou. “Nos dias 13 e 14 de agosto [isto é, uma semana antes do ‘ataque de Goutha’], forças de oposição patrocinadas pelo Ocidente começaram na Turquia os preparativos para uma importante ofensiva militar das forças irregulares”. “As primeiras reuniões entre os altos mandos militares da oposição síria, do Qatar e da Turquia, junto a funcionários de inteligência dos EUA [grifos nossos], foram realizadas na guarnição militar turca de Antakya, província de Hatay, que é usada atualmente como centro de comando e quartel general do Exército Sírio Livre [contras] e seus patrocinadores estrangeiros”.
Conforme a VIPS, é aí que aparece a afirmação de que haveria “um bombardeio norte-americano na Síria”. Na íntegra: “os altos chefes da oposição que chegaram de Istambul entregaram seu informe aos comandantes regionais sobre uma iminente escalada nos combates devido a uma “mudança no desenvolvimento da guerra”, que, por sua vez, daria lugar a um bombardeio norte-americano na Síria”. É de registrar que naquele momento o quadro da guerra havia virado a favor das tropas legalistas de Assad e nada estava acontecendo que pudesse servir de pretexto para a entrada direta dos EUA na guerra.
Foi nessa reunião que foi “dito aos sírios que o bombardeio começaria em poucos dias”, resssalta o documento, acrescentando “que os líderes da oposição receberam a ordem de preparar suas forças rapidamente para aproveitar o bombardeio dos EUA, entrar em Damasco e derrubar o governo de Bashar Al Assad”. Também lhes foi assegurado “lhes seriam proporcionadas suficientes armas para o ataque próximo”. “E assim foi. Uma operação de distribuição de armas sem precedentes foi iniciada em todos os campos da oposição de 21 a 23 de agosto. As armas foram distribuídas desde armazéns controlados pela inteligência do Qatar e da Turquia sob estrita supervisão dos oficiais de inteligência dos EUA”.
O memorando da VIPS também questiona o informe de Kerry, indagando se se trata de “um informe de inteligência ou de um estratagema?”. Com sua experiência em denunciar a apresentação de informes fraudados para dar pretexto para uma guerra, como W. Bush fez no Iraque, a entidade assegurou que, segundo suas fontes dentro da própria CIA, “o diretor da CIA John Brennan está perpetrando uma fraude do tipo consumado na guerra do Iraque ante os meios do Congresso, os meios de comunicação, a opinião pública e talvez inclusive você [Obama]”.
O “informe” de Kerry sobre Ghouta foi comparado à famosa ata de Downing Street [sede do governo inglês] de 23 de julho de 2002, sobre o Iraque, em que o então chefe de inteligência britânica, Richard Dearlove, informou a Tony Blair de que W. Bush havia decidido derrubar Sadam Hussein através de uma ação militar que estaria “justificada pela conjunção de sua participação em atos de terrorismo e posse de armas de destruição em massa”. A informação havia sido prestada a Dearlove pelo então diretor da CIA, George Tenet, a quem visitara nos EUA no dia 21 de julho daquele ano. Na discussão no seio do governo Blair, Dearlove se referiu ao caráter efêmero das provas, dizendo que “a inteligência e os fatos estavam sendo ajustados à política”. “Nos preocupa que é precisamente isso que está ocorrendo com os ‘informes de inteligência’ sobre a Síria”, assinalou a entidade.
FRAUDES
Os ex-analistas da CIA também se referiram a outra fonte de fraudes, a aposta de Israel no esfacelamento do estado nacional sírio, com os dirigentes de Tel Aviv considerando em privado que o melhor resultado para a guerra civil de dois anos e meio é “nenhum resultado”. “Este é um jogo no qual é necessário que ambas as partes percam, ou pelo menos ninguém ganhe. Que sangrem ambos os bandos em hemorragia até a morte. Esse é o pensamento estratégico aqui. Enquanto essa situação persistir, a Síria não será uma ameaça real”, disse o ex-cônsul geral de Israel em Nova Iorque, Alon Pinkas, conforme reprodução da VIPS.

Entre os signatários estão Thomas Drake, ex-executivo da NSA; Patrick Lang ex-executivo da DIA; David MacMichael, ex-Conselho Nacional de Inteligência; Ray McGovern, ex-analista da CIA; e Ann Wright, coronel (reserva) do exército dos EUA.    A.P. 

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