sábado, 7 de maio de 2011

Artur: “Lucro do setor financeiro é o vilão e não os aumentos salariais” 

“O que causa inflação é a existência de oligopólios, especialmente na indústria”


O presidente da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique, denunciou, em artigo publicado em seu blog, a campanha aberta pelo Banco Central e a mídia contra os aumentos salariais.

Além da pressão para que não haja ganhos reais nas campanhas salariais, “analistas”  estão agora dizendo que o aumento do mínimo do ano que vem vai pressionar a inflação.

Em seu artigo, Artur condena a tese de que o novo instrumento para deter a inflação é a contenção dos aumentos. “As análises conservadoras realizadas pelo mercado financeiro e divulgadas pelos meios de comunicação vêm destacando os salários e seus aumentos reais como vilões da inflação. Todas essas análises pretendem deter as possibilidades de a recente melhora na distribuição de renda continuar se dando pelo aumento da massa salarial”, ressaltou.

Artur recorda que em recente entrevista ao canal Globo News, “o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, exortou que trabalhadores e empresários, no momento das próximas negociações salariais, ‘olhem o que vêm pela frente em termos de inflação’. Pouco antes, lembrou, o mesmo Tombini havia dito que, “quando as campanhas salariais do segundo semestre de 2011 estiverem ocorrendo, haverá ‘um período transitório de inflação elevada’”.

Na prática, sublinhou, o presidente do BC “disse para que os trabalhadores não sejam exigentes na hora de pedir aumento salarial” e que em vez de recuperarem as perdas anteriores, não devem “pedir muito para não pressionar a inflação futura”.

“Pois eu, presidente da CUT, discordo. Há muitas maneiras de combater a inflação, mas várias confrontariam interesses muito poderosos, especialmente do setor financeiro. Tentar conter aumentos salariais é a mais injusta delas, por cortar avanços nas camadas que mais perderam ao longo de anos anteriores”, frisou.

Há pouco tempo, explicou Artur, “a obsessão dos conservadores se concentrava no aumento da taxa básica de juros como instrumento para deter a inflação. Com o recente relevo dado aos salários, a questão dos juros cede um pouco seu espaço, mas no fundo o caminho apontado por ambas as análises é igual.

O controle da inflação deveria se dar, segundo essas visões, pelo aperto sobre os assalariados e trabalhadores como um todo, sem pedir sacrifícios principalmente para o setor financeiro”.

Em contraposição “a esse ataque concentrado aos salários”, Artur aponta fatores que pressionam fortemente a inflação, mas que jamais são citados: “Lucro causa inflação. Distribuição de dividendos também pressiona a inflação.

O fato de a estrutura tributária ser regressiva, punindo quem ganha menos, também causa inflação, pois os impostos incidem majoritariamente sobre o consumo e são repassados diretamente aos preços.

A existência de setores oligopolizados, especialmente na indústria, faz com que a ausência de concorrência facilite o repasse para os preços de qualquer aumento nos custos.

Os oligopólios também têm mais facilidade para aumentar margem de lucros. Não podemos esquecer também das tarifas públicas, muitas regidas por contratos indexados, que ajudam a ampliar os custos da produção e a pressionar a inflação”.

Para Artur, “querer tratar da questão inflacionária, e principalmente combatê-la, sem considerar essas variáveis é falso e mal-intencionado”.

Ainda assim, explica, levando somente em consideração a variável salário, tal debate é absolutamente questionável. “Segundo o Sistema de Contas Nacionais do IBGE, o consumo das famílias, em relação ao PIB, caiu entre 2009 e 2010, de 61,7% para 60,6%. Esse dado sinaliza que o consumo das famílias tem permanecido estável em relação ao crescimento do PIB – e até caiu de 2009 para 2010.

O alarde em torno de uma explosão do consumo e de uma inflação de demanda é, então, falso. O ‘excesso’ salarial é uma ficção”.

Já sobre o comparativo entre produtividade e aumento de salários, “a partir da década de 1990, quando tiveram início aumentos sucessivos de produtividade no Brasil, somente a partir de 2004 os salários apresentaram alguma trajetória de elevação.

Portanto, a elevação salarial chegou com mais de 10 anos de atraso, deixando atrás de si um grande acumulado de aumento de produtividade”. Como resultado, explicou, “no período de quase 20 anos entre 1989 e 2008, a produtividade da indústria aumentou 84%, enquanto no mesmo espaço de tempo a renda média dos salários caiu 37 pontos”.

Apesar de óbvio, conclui Artur, é preciso lembrar de um argumento normalmente “esquecido” pelos conservadores, na ânsia de impedir ganhos reais de salário neste ano: “Os aumentos de salário são sempre conquistados a partir da inflação acumulada nos 12 meses anteriores, ou seja, não são estipulados a partir de expectativa de índices futuros”.

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